As cores da mídia brasileira – O embranquecimento como purificação do poder

Por Bajonas Teixeira

Temer ontem, no segundo dia do julgamento do TSE, amanheceu no portal UOL bem escurecido, com um véu sombrio sobre sua reputação. Mas, à medida que o dia avançou, e ficou “mais claro” que ele contaria com a maioria dos votos no TSE, rasgou-se o véu e um Temer clean e arroseado emergiu de dentro dele.

Pergunto-me quando os negros descobrirão que parte substancial da verdadeira “ideologia racial” no Brasil é contrabandeada através das imagens da mídia no jornalismo político.  Para significar bandido, denunciado, desmascarado, suspeito, acuado, as imagens são escurecidas, amulatadas ou enegrecidas na mídia. Já quando se quer pintar o indivíduo  como vitorioso, poderoso, limpo, inocente, ou honesto, ele é clareado e embranquecido.

Mas escurecer e clarear são técnicas e ferramentas operadas na mídia como parte do seu arsenal “comunicativo”. O clareamento ou embranquecimento artificiais funcionam às vezes como um prêmio  da mídia que expressa sua gratidão, as vezes como exorcismo purificador e, em muitos casos, se usa como prova matemática de veracidade e credibilidade.  Há dezenas de outras funções além dessas.

Foi nesse último caso (como prova matemática de veracidade e credibilidade) que se enquadrou a virada na imagem de Marcelo Odebrecht que passou, de repente, do mal para o bem, ou seja, de negro para branco, quando suas denúncias contra Lula  e o PT foram liberadas. Tratamos do assunto no artigo Para atingir Lula e o PT mídia muda a cor do herdeiro da Odebrecht.

Ainda que não pareça, as técnicas do “colorido” aplicadas pela mídia brasileira, são muito mais importantes que a política brasileira do dia a dia. Elas servem para alimentar o inconsciente racista dos Barrosos, para manter viva a chama inquisitorial do preconceito brasileiro. As aparentes bombas atômicas que fazer desmoronar ministros e presidentes da república não são nada comparadas ao cativeiro de aço que aprisiona a sociedade brasileira na lógica do racismo.

Vamos torcer para que algum autor estrangeiro, norte-americano ou europeu,  descubra isso, que repise o assunto, que ele vire tema da própria mídia brasileira e, que, com tudo isso, transformado em moda, termine até por sensibilizar os que enfrentam a questão racial no Brasil.  Infelizmente o mesmo inconsciente social constituído pela mídia é também o motor da ação de contestação, sempre ou quase sempre também impulsionado pela mesma mídia.

Para concluir, não se pode esquecer que, no caso particular que estamos considerando, da imagem de Temer no julgamento do TSE, se reflete a insegurança e os medos da Folha/UOL, que são também os do PSDB, sobre os rumos da crise e sobre a posição a tomar em relação ao governo Temer.

Nada melhor que fechar esse artigo com uma bela recordação. Uma singela imagem de Lula usada pelo jornalista Josias de Souza, também do UOL e da Folha, que parece merecer um lugar especial na galeria de retratos do uso grotesco das imagens na mídia brasileira:

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Bajonas Teixeira:
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