Por Wellington Calasans, colunista do Cafezinho, na Suécia
Skype, chamada com vídeo. Obrigação de atender, pois do outro lado, na Alemanha, estava um dos mais conceituados escritores brasileiros, já indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, o cientista político Luiz Alberto Moniz Bandeira, para o qual tenho a honra de colaborar na atualização do seu livro “O Ano Vermelho”, que será relançado a propósito dos cem anos da revolução russa.
– Wellington, você sabe que estou sem tempo (por causa da necessidade de entregar o livro para a editora), mas é preciso publicar um artigo no Cafezinho sobre essa bagunça no Brasil, explica o Prof. Moniz.
Preparo uma página em branco e começo a digitar em uma velocidade jamais atingida na minha história de digitador. O Prof. Moniz estava determinado, o texto estava ensaiado na sua cabeça. Tive tempo de confirmar algumas formulações do pensamento, mas aqui vai, entre aspas, o esboço que me foi ditado já como uma arte pronta.
“Farsa! O Brasil tem um Congresso e um Presidente que atendem a outros interesses. Trabalham contra o povo! E os deputados são comprometidos com a corrupção”.
“Não se faz reformas constitucionais em períodos de crise. O Referendo Revogatório de Requião (Senador Roberto Requião, PMDB – PR) é o único caminho após eleições diretas”.
“Querem impor reformas ao povo para as quais o presidente não recebeu mandato. O Congresso também não foi eleito com poderes constituintes e a situação já chegou a tal ponto que um PGR mancomunado com um indiciado cria um ambiente para forjar provas contra terceiros”.
“Henrique Meirelles é o representante do capital financeiro e impõe uma ditadura aberta, sob a capa de uma democracia visivelmente inexistente. Não há democracia sem povo”.
“A Polícia Federal é desobediente! O Ministério Público está, abertamente, em conluio com os EUA, retomando uma cumplicidade iniciada desde os tempos de FHC. O PGR é o presidente de fato! Não é o de direito, mas é o de fato”.
“Moro é um ditador. A Delação Premiada é a desmoralização do indivíduo. A prisão coercitiva é ‘premiada’ com delação sob chantagem e tortura. A legalidade no Brasil é uma farsa. Não existe Lei e nem Constituição”.
“O paradigma que é criado para o povo brasileiro: o delator. A delação é uma vergonha. A delação premiada é também uma forma de corrupção. O juiz ameaça o indivíduo com anos de prisão e força o preso a dizer o que ele (juiz) quer. Quebra o caráter da pessoa. A delação como recompensa é uma forma de corrupção. Judas tornou-se o símbolo do Brasil”.
“A imprensa também está comprometida com o capital financeiro e isso é a negação da democracia. O Brasil é um mito. O Estado desapareceu. Cada órgão age como autônomo”.
A indignação do cientista Moniz Bandeira é a mesma que aflora num número crescente de brasileiros. Esta é a boa notícia.