Foto: Beto Barata/Agência CNJ
“Acho que está ficando muito claro que a seletividade que sempre exclui os ricos e poderosos continua e está se revelando nas colaborações premiadas. Por isso coloco como prioridade manter a atuação penal, porque isso é uma missão constituição (do MPF), mas nós temos que equilibrar, porque nossa missão constitucional é também a promoção dos interesses, dos direitos difusos, dos direitos fundamentais e para mudar realmente as estruturas nós temos que investir em educação e em saúde (…) e é isso que eu gostaria de puxar no Ministério Público que é tirar essa ideia só de direito penal da Lava Jato, o Ministério Público é muito mais do que isso”.
A declaração acima é da procuradora Ela Wiecko Volkmer de Castilho, em entrevista ao Jornal GGN, de Luis Nassif . Ela é uma das candidatas à lista tríplice a ser entregue à Presidência para a escolha de quem substituirá Rodrigo Janot na chefia da Procuradoria-Geral da República.
Na esteira do pedido final de condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por parte do Ministério Público Federal (MPF), a entrevista com Ela Wiecko mostra que, felizmente, há um contraponto dentro do MPF àquilo que estão fazendo os “intocáveis” da força-tarefa de Curitiba.
Deltan Dallagnol e cia pedem a condenação de Lula com base num apartamento que nunca foi dele, que nunca sequer foi usado pelo ex-presidente nem pra lavar o pé sujo cheio de areia da praia na garagem. Pedem ao juiz amigo, aliado, que reconheça a dificuldade cabal de se conseguir provas e condene Lula na base da convicção, do achismo.
Não têm o menor receio do ridículo, os procuradores da turma de Dallagnol, e isso graças à dita “grande mídia”. Há até um constrangimento inevitável com palhaçadas como o powerpoint do procurador que investe em habitações populares do programa Minha Casa Minha Vida. Mas logo depois a mídia assovia pro alto, finge que aquilo não aconteceu e passa a levar a sério todas as denúncias patéticas, em nome do projeto do golpe.
E para comprovar a seletividade das delações premiadas citada por Ela Wiecko ao GGN, os procuradores da Lava Jato pedem a gentileza de que seus delatores sejam beneficiados por terem denunciado quem eles queriam. Pedem as prisões, sim, de Léo Pinheiro, Agenor Franklin Medeiros e Paulo Gordilho, da OAS, mas com penas reduzidas pela metade.
Como justificativa para o benefício, afirmam que, além da confissão dos crimes, “também espontaneamente optaram por prestar esclarecimentos relevantes acerca da responsabilidade de coautores e partícipes nos crimes”.
De acordo com a lógica da força-tarefa da Lava Jato, logo os delatores estarão sem nem tornozeleiras, “presos” em casa e ainda ricos, como estão Paulo Roberto Costa, Pedro Barusco. Ou solto, em regime aberto, como o doleiro Alberto Youssef.
Felizmente, existe ainda um fiapo de esperança, porque dentro mesmo do MPF, como mostra a entrevista de Ela Wiecko, há um outro caminho.