The Guardian questiona a Lava Jato: ‘faça um acordo ou permaneça na cadeia’

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“No longo prazo, muitos ainda esperam que a Lava Jato faça do Brasil uma nação mais justa, mais eficiente, administrado com transparência, por políticos que cumprem a Lei. Mas há também o risco de que a operação leve ao chão a frágil democracia do país e abra caminho para uma teocracia evangélica de direita ou o retorno de ditadores ao poder. Se a operação vai ou não ser considerada uma cura para o Brasil, vai depender não só de quem caia, mas de quem virá a seguir”.

Em tradução livre, este é o último parágrafo da enorme matéria sobre a operação Lava Jato que o britânico The Guardian publica hoje na seção “The long read” (longa leitura) do jornal.

Assinado por Jonathan Watts, o texto peca por dar grande espaço a ao agente da Polícia Federal Newton Ishii, ele mesmo, o “Japonês da Federal”, tratado como herói “circunspecto e austero” sem que tenha sido citada a prisão do próprio agente em junho do ano passado, por facilitar contrabando.

A matéria do Guardian também não mostra claramente a diferença de tratamento entre os réus do PT e os dos outros tempos, caindo na comodidade de tratar os presos, todos, como “ricos”. Mas de resto destrincha bem a Lava Jato desde seus primórdios, e também os métodos do juiz Sérgio Moro.

O magistrado de primeira instância é descrito como “um jovem e ambicioso juiz que ajuda os procuradores pressionando os suspeitos ao aprovar seguidas prisões preventivas”.

A reportagem lembra que na maioria dos casos os presos no Brasil têm o direito de aguardar seus julgamentos em liberdade, e ressalta que, no caso de Moro, a “pressão está sobre eles: faça um acordo ou permaneça na cadeia”.

Mais um motivo para o jornal britânico questionar, logo no título de sua grande matéria de hoje, se a operação Lava Jato é, de fato, o mair escândalo de corrupção da história.

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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