A Folha aposta em Temer, ainda, e não quer negociar nada da reforma da Previdência

“Nó previdenciário” é o título do editorial da Folha de São Paulo de hoje. O jornal começa reconhecendo o “enfraquecimento do governo Michel Temer (PMDB)”, mas rechaça qualquer negociação, por conta disso, na reforma da Previdência. “A mera abertura do debate envolve riscos consideráveis”, diz o texto, logo no primeiro parágrafo.

Um governo ilegítimo, investigado, notoriamente corrupto está prestes a tocar o fim, na prática, de um benefício arraigado da população em nome do mercado; e a Folha não quer nem pensar em parar um minuto sequer pra discutir isso.

“Será precipitação imprudente, nesse cenário turvo, abrir negociações em torno da reforma”, afirma em dado momento o diário paulista. A balbúrdia, a total vulnerabilidade de um governo em frangalhos vira então argumento, no sentido contrário, pra manter o foco na reforma.

E mesmo reconhecendo a fraqueza, o cenário turvo deste governo, é em Temer que a Folha aposta pra seguir adiante, como mostra a nota de abertura da coluna Painel, assinada por Daniela Lima. “Na pinguela” é o título da coluna e da nota a informar que “a situação de Michel Temer está longe de ser confortável, mas o presidente retomou algum fôlego e dividiu ainda mais os partidos que articulavam sua sucessão”.

A nota continua dizendo que “há um impasse no PSDB entre os deputados mais jovens, que pregam o desembarque do governo já no dia 6 de junho, e os dirigentes da sigla”, e que “no DEM, Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara, desestimula gestos enfáticos”.

Como se tudo o que ocorreu até agora já não bastasse, com o presidente exposto em gravação, entre outras tantas denúncias, dando a ordem para manter o suborno a Eduardo Cunha, a nota prossegue afirmando que “as duas legendas admitem que só um ‘fato novo’ poderia colocar Temer em novo viés de baixa.”

“Tempo ao tempo” é o título da nota seguinte, na qual “dentro do TSE, a fala de Gilmar Mendes, presidente da corte, foi vista como um gesto para ‘aliviar a pressão política’ sobre os ministros. Gilmar Mendes, diga-se de passagem, que segundo a mesma Folha terá Temer como convidado em sua faculdade, em evento patrocinado pelo governo.

Mais embaixo, na nota intitulada “otimistas”, “aliados de Temer na Câmara já dizem que, ‘passada a questão do TSE’, o governo tem condições de colocar a reforma da Previdência em votação nas próximas semanas.”

E na sua luta por manter Temer no Planalto até o último dia de 2018, a Folha tem hoje o apoio do editorial do Estadão, sob o título que, passado o impeachment sem condenação nem embasamento, agora prega o “Respeito à Constituição”.

“Não se pode usar a decisão contra o governador do Amazonas como precedente para o caso de Temer porque cada caso envolve marco jurídico específico”, afirma o vetusto, caquético jornal. “No caso do Amazonas, pautou-se pela Lei Eleitoral. No caso de Temer, vale a Constituição”, continua o Estadão, enquanto o Globo, a posar no momento de imparcial, se entrega também no editorial.

“É necessário manter o rumo no BNDES”, afirma o título do texto a defender que “a troca no banco precisa preservar revisões de política, e uma delas é para reduzir o subsídio ao crédito, mudança que facilitará o próprio combate à inflação”.

Combaterá a inflação e continuará, em detrimento do crédito para estimular a produção, a pagar regiamente as altas cotas do rentismo, não diz o Globo. Sai Maria Silvia da presidência do BNDES, entra Paulo Rabello de Castro, que segundo o editorial do Globo, “propõe que se pratique o exercício do ‘desapego ao subsídio’”.

Mudam-se as peças, mantém-se o foco. Com Temer ou sem Temer, que venham as reformas, da Previdência e trabalhista, o corte dos gastos públicos, o desmantelamento da indústria nacional, a entrega do pré-sal…

 

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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