Globo quer ‘limpeza histórica’, mas sem mexer no que é dela.

Imagem: Além D’Arena

No editorial deste sábado, já comentado aqui no Cafezinho, o jornal O Globo defende o estado de exceção com mais prisão, mais delação. No trecho abaixo, o jornal fala em “limpeza histórica na vida pública”.

“As delações da JBS e da Odebrecht atingem o núcleo do poder político, e, por isso, dão rara chance de haver de fato uma limpeza histórica na vida pública — se forem conjugadas a uma reforma política sensata.”

Esse tipo de raciocínio vai de encontro com o que já foi dito por alguns procuradores da Lava Jato, que falam em “refundar a República”. Trata-se de uma espécie de hino do estado de exceção. Pede limpeza geral, mas seletiva, porque não muda o principal, o sistema de comunicação brasileiro controlado por poucas famílias.

Foi este sistema de comunicação que produziu a classe política que temos hoje. Não adianta mudar a classe política se as mesmas forças que levaram essa classe política ao poder, as forças midiáticas e econômicas, continuarão as mesmas.

Vale lembrar que todo o aparato midiático, todo esse sistema de comunicação que está aí nunca criticou o sistema político. Se hoje se fingem de indignados com a corrupção na política, os mesmos barões da mídia sempre souberam de tudo o que acontecia, como bem lembrou Emilio Odebrecht em sua delação.

A mídia sempre travou os debates para mudanças efetivas no sistema, como o fim do financiamento privado das campanhas eleitorais. A mídia nunca batalhou por uma reforma política efetiva porque sempre se imiscuiu com essa mesma classe política que hoje, hipocritamente indignada, condena.

Fica aqui, então, o endosso do Cafezinho à proposta sugerida por Rodrigo Vianna em seu twitter: “Comecemos, então, por cassar a concessão da Rede Globo para refundar a República”.

 

Aqui, no Le Monde Diplomatique Brasil, uma ótima definição do nosso atual “sistema político”, que a Globo não quer mudar, claro que não.

Luis Edmundo: Luis Edmundo Araujo é jornalista e mora no Rio de Janeiro desde que nasceu, em 1972. Foi repórter do jornal O Fluminense, do Jornal do Brasil e das finadas revistas Incrível e Istoé Gente. No Jornal do Commercio, foi editor por 11 anos, até o fim do jornal, em maio de 2016.

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