Não é delação, é interceptação telefônica: segurança de Aécio tinha chave de Aecioporto

E pensar que PF e MPF, na época em que protegiam Aécio, engavetaram o processo que investigava o Aecioporto, um aeroporto de uso particular da família Neves, construído com dinheiro público.

Quantos helicópteros do Perrela passaram por Claudio?

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No Estadão

Áudio sugere que segurança de Aécio tinha chave de aeroporto

Interceptação telefônica feita pela PF registra conversa de Fred, primo preso do senador tucano, na qual ele fala sobre o aeroporto de Cláudio, em Minas

Por Fabio Leite
23 Maio 2017 | 05h00

Uma interceptação telefônica feita pela Polícia Federal no mês passado flagrou uma conversa de Frederico Pacheco de Medeiros, primo do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), na qual ele sugere a interlocutor que a chave do aeroporto de Cláudio, município do centro-oeste de Minas Gerais, estaria com um segurança de Aécio.

O aeroporto começou a ser construído pelo governo de Minas durante a gestão de Aécio em uma área que pertencia a um tio-avô seu. A obra foi concluída em 2010, quando o tucano já havia deixado o governo. Ao custo de R$ 13,9 milhões, a pista fica próxima a uma fazenda da família Neves.

Em uma ligação de 13 de abril, interceptada pela PF, Fred diz a um interlocutor não identificado que a chave do aeroporto estaria com o segurança de Aécio.

“Se o Duda tá descendo no avião alguém vai abrir o portão pra ele ou não?”, pergunta o interlocutor não identificado. “Sim, já deve ter aberto… ele já deve ter saído e já deve ter fechado”, responde Fred. “E quem que é essa bênção de pessoa?, continua o interlocutor. “Deve ser o segurança do Aécio”, diz Fred. “Ah, ele tem a chave?”, insiste o interlocutor. “Deve ter.. tô imaginando na condição de alguém for lá abri-lo…Eu não sei nem se vai, mas deve…Passa lá na porta”, conclui Fred.

O diálogo consta de um relatório da Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF que foi anexado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao pedido de abertura de inquérito contra Aécio no Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da Operação Patmos, a partir da delação premiada feito pelo grupo JBS.

O primo de Aécio foi preso na quinta-feira passada, 18, após ser filmado buscando uma mala com R$ 500 mil em propina da JBS, supostamente a pedido do senador.

Quando o caso do aeroporto de Cláudio foi revelado, em 2014, Aécio admitiu usar as pistas do local quando visitava a fazenda da família na região, mas disse desconhecer o fato de que a chave do portão ficava com sua família. O local é administrado pela prefeitura de Cláudio.

À época, o aeroporto ainda não tinha homologação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o que só ocorreu em 2016. Um ano antes, o Ministério Público de Minas Gerais já havia decidido arquivar a investigação sobre a construção do aeroporto alegando que não havia irregularidades nem desvio de finalidade na obra.

COM A PALAVRA, AÉCIO

O tucano, por meio de sua assessoria, disse que a administração do aeroporto é de “responsabilidade do município”.

COM A PALAVRA, A PREFEITURA DE CLÁUDIO

“Sobre o aeródromo, o município de Cláudio tem a esclarecer que:

– Detém a administração do espaço, sendo responsável pela manutenção do mesmo;
– Diferente do que tem sido divulgado pelos meios midiáticos, sua estrutura não é de um aeroporto convencional. Trata-se de uma pista de pouso e decolagem de aeronaves de pequeno porte. A área é cercada e permanece fechada a fim de que animais não adentrem o espaço.
– As chaves do aeródromo ficam na Prefeitura e apenas a Associação de Aeromodelismo de Cláudio-MG possuía cópia, já que o espaço era cedido até o dia 05 de maio deste ano por meio de convênio para fins de demonstração prática do aeromodelismo e exposição de aeromodelos para a população claudiense;
– O Município desconhece o teor de tal interceptação telefônica envolvendo o primo de Aécio Neves devido ao fato de jamais ter cedido cópias das chaves do aeródromo para qualquer cidadão. A utilização do espaço advém de autorização e liberação prévias do Município. Qualquer procedimento diferente não é de seu conhecimento.”

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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