Foto: Galeria 33° Prêmio Abril de Jornalismo: Reinaldo Azevedo e Renato Dutra
Por Tadeu Porto
Pablo Neruda descreve, muito bem, qual é a situação atual do blogueiro ex-Veja: “Você é livre para fazer suas escolhas, mas é prisioneiro de suas consequências”.
Liberdade é uma palavra que Azevedo diz apreciar por demais, infelizmente mais para justificar uma postura desprezível do que para buscar um sistema onde as pessoas possam, efetivamente, gozar de sua plena liberdade sem consequências desastrosas para seus pares.
Livre, leve e solta esteve a Veja, hoje, para aceitar a demissão de um dos seus ícones e, justiça seja feita, pautada por uma tremenda injustiça. Não vou mentir, eu até abriria um vinho para comemorar ações que diminuam o alcance de alguém que fale e escreva tanta bobagem, mas o método que culminou na queda de Azevedo foi por demais nefasto ( mais repulsivo que seus textos medonhos), portanto, não há o que comemorar.
Solidariedade ao Tio Rei, com justiça, já li aos montes : desde Pablo Villaça – que deixou Cannes de lado para escrever no Face – até Fernando Brito, no Tijolaço, passando, também, por Renato Rovai (Revista Fórum), Kiko Nogueira (DCM), o Pulitzer Glenn Greenwald (The Intercept), o pessoal do Jornalistas Livres e [spoiler alert] meu amigo do peito e chefe, editor do Cafezinho Miguel do Rosário que deve soltar um texto daqui a pouco.
Enfim, a blogosfera progressista é, com razão, unânime na solidariedade à Reinaldo contra o absurdo que o MP promoveu ao divulgar escutas que nada tem a ver com os autos do processo em questão.
Contudo, não posso deixar escapar esse momento para, no mínimo, pedir uma reflexão a Reinaldo e seus fãs, afinal,não adianta somente ser solidário sem tentar, efetivamente, melhorar o conjunto de consequências que levaram a prática injusta. E, nesse sentido, a grande realidade é que Azevedo e seus seguidores são fortemente responsáveis pela sistema injusto que os puniu.
Em outras palavras, eles foram picados pela serpente que ajudaram a chocar e aqui, objetivo como o BuzzFeed, estão alguns motivos.
1 – Defesa do grampo entre Lula e Dilma
Em sua nota, Reinaldo reclama (com autoridade) sobre a divulgação ilegal do grampo o qual foi vítima, chegando a argumentar “se estimulam que se grave ilegalmente o presidente, por que não fariam isso com um jornalista que é crítico ao trabalho da patota” .Pois é, quando a grampeada foi a presidenta Dilma, e a divulgação (também ilegal) foi feita por Moro para barrar Lula, Azevedo defendeu com unhas e dentes.
Hoje, Reinaldo é vítima do método que tanto utilizou para o seu desejado Golpe.
2 – Ataque aos Movimentos Sociais
Desde o começo, a Lava-Jato tem sido denunciada por tentar promover o “estado policial” que Reinaldo se referiu em sua nota. Contudo, quando a operação era de interesse do jornalista, ele não poupou palavras para atacar movimentos sociais, como a FUP e o MTST de Boulos, que, naquele momento, já denunciava o que Azevedo descobriu outro dia.
Hoje, Reinaldo é vítima do estado policialesco que o ajudou a construir.
3 – Pedido de Impeachment no dia da vitória da Dilma
Uma das virtudes cruciais de democratas é saber perder, afinal, não há República que aguente atores políticos que fazem da derrota uma vingança, pois a instabilidade gerada deixa o país ingovernável. Mesmo assim, Azevedo não poupou esforços para derrubar Dilma desde o primeiro dia de sua vitória (foi o comentário do blogueiro “tem um Youssef no meio do caminho” que descambou para a discussão do impeachment na TVeja, no dia da vitória petista).
Hoje, Reinaldo é vítima da instabilidade que ajudou a criar.
4 – Capas da Veja “nojentas” já tiveram aos montes
Nem precisa escrever muito aqui. A Veja quase decidiu o pleito de 2014 a favor do Aécio, com a capa mais criminosa da história – a tal “eles sabiam de tudo” – sem o mínimo de verdade factual, servindo, apenas, de panfleto tucando pré votação. Reinaldo defendeu a Veja e a capa quando foi conveniente.
Hoje Reinaldo é vítima de uma mídia canalha que ele ajudou a criar.
5 – Para barrar Lula como ministro, poderes ao Ministério Público
Quando Dilma tentou emplacar Lula como ministro, e recebeu uma forte interferência de sua prerrogativa como chefe do executivo, tanto do judiciário ( com Mendes sempre ele), quanto do parecer de Janot, Reinaldo curtiu. O jornalista chegou a pedir que o MP interviesse “clamando pela importância das instituições”. Pois é, Tio Rei, quem tem poder para barrar posse de um ministro, amigo, faz o que quer com um jornalista.
Hoje, Reinaldo é vítima dos “superpoderes” institucionais que ele ajudou a fomentar
6 – Críticas a Lula na Onu
Que a Lava-Jato montou um estado de exceção nós estamos cansados de saber. Tanto é que Lula denunciou as práticas de Moro a ONU, para ver se os olhos internacionais jogavam alguma luz para a obscuridade que havia tomado conta do nosso judiciário. Naquela ocasião, Reinaldo preferiu defender as atitudes fascistas de Moro ao invés de dar razões às preocupações do ex-presidente.
Hoje, Reinaldo é vítima do estado de exceção que ajudou a proteger.
7 – As mortes de Lula
Reinaldo “matou” Lula duas vezes, aqui e aqui. Lula, hoje, é a principal vítima da Lava-Jato e, sobretudo, a única esperança de curto prazo que o país tem de sair do caos institucional e barrar o avanço da ditadura jurídica, afinal, o único réu que tem força e coragem para peitar a república de curitiba é o ex-presidente.
Ou seja, hoje, Reinaldo precisa de Lula vivo para sobreviver.
Nessa história do Azevedo, talvez, nem Neruda conseguiria ser tão poético.