Presidente Michel Temer recebe Ben Van Beurden, CEO da Royal Dutch Shell. Foto: Carolina Antunes/PR
Por Tadeu Porto, Editor Sênior do Cafezinho
[prólogo: a JBS está na posição 895º na lista Global 2000 da Forbes de 2017. A Shell está em 20º.]
O grande desafio de todos brasileiros e brasileiras, hoje, é encontrar uma saída adequada e efetiva para a situação caótica que vive o país.
Diretas já é uma solução, que sou até simpático inclusive, contudo, convenhamos, sem mexer no legislativo, judiciário e, sobretudo, nos monopólios de mercado – principalmente a mídia – não tem democracia direta que resolva nosso problema.
E para tentar solucionar essa crise interminável que assola o país, o mínimo que podemos (e devemos) fazer e refletir um pouco sobre o jogo sujo que foi escancarado pelas gravações que envolvem Temer e Aécio para sermos capaz de, em posse das verdades factuais, extrapolar para ocasiões que, também, sempre foram muito suspeitas.
Como é o caso, por exemplo, da bizarra abertura do Pré-Sal que o governo golpista promoveu. Não é difícil imaginar que entregar reservas de petróleo a preço de banana – com barris mais baratos que garrafas de Coco-Cola – não é nada inteligente e muito menos estratégico, portanto, desconfiar das intenções de quem a fez, na conjuntura que estamos, é dever cívico.
Vale lembrar que, dentro de uma agenda cheia de contrareformas impostas a toque de caixa pela elite econômica brasileira, a entrega no pré-sal foi a primeira a sair do forno. Ou seja, Temer garantiu logo a doação do nosso ouro negro primeiro ainda que a mutilação dos direitos trabalhistas e previdenciários e a PEC da morte que destruiu os investimentos públicos.
Agora, a luz do que sabemos concretamente sobre as intenções do PSDB, representado pelo seu ex-presidente Aécio, e PMDB, representado pelo seu ex-presidente Michel, nas questões da JBS, vale refletir se, de alguma forma, a Shell utilizou o mesmo modus operandi para conseguir colocar as mãos no nosso petróleo.
Para isso, vamos da famosa “análise xadrez”, que de vez em quando pego emprestado do meu companheiro de Blog Sujo, Luis Nassif do GGN.
Peça 1: O lobby revelado pelo Wikileaks
Não é segredo para ninguém, nessa altura do jogo, que as empresas estrangeiras não gostaram do modelo de partilha implementado pelo ex-presidente Lula. As petrolíferas gringas sabiam, muito bem, que a Petrobrás na operação única garante a circulação do capital produtivo em terra nacionais, o que “prejudica fornecedores americanos”, como frisou Carla Lacerda da Exxon Mobil. Vejamos: Serra, que foi o interlocutor das multinacionais na época, segundo revolou o Wikileaks assim que eleito senador, lançou um projeto de lei que, justamente, retirou a Petrobrás da operação única e dos campos do pré-sal como um todo. Particularmente, não acredito que a ação do senador tucano foi ideológica.
Peça 2: A venda da BG para a Shell
A Shell, num momento de crise para todas as empresas de Petróleo, desembolsou U$ 53 bilhões para comprar a BG, com o timining perfeito do Golpe de 2016 já encaminhado. É difícil imaginar tamanho investimento sem que haja segurança de que as regras serão jogadas da sua maneira. Em comparação com o frigorífico, os valores são totalmente discrepantes: o valor da JBS é de U$ 8,2 bilhões, portanto, só por uma entrada no Pré-Sal, a Shell gastou aproximadamente a sete vezes o que vale a JBS. Se os Batistas tinham dinheiro para parlamentares, imagina a empresa Anglo-Saxônica.
Peça 3: Parente, Nelson Silva e a destruição da Petrobrás
Pedro Parente, ex-ministro de FHC e cotado para assumir a Casa Civil de Temer, em meio a esforços fiscais da Petrobrás, criou uma nova diretoria para abrigar justamente o executivo que vendeu a BG para a Shell, o engenheiro Nelson Silva. Desde então, a estatal brasileira vem abrindo mão de diversos ativos estratégicos, incluindo campos de óleo altamente rentáveis, refinarias e empresas de energia vendidas para grupos especulativos. A destruição da Petrobrás como empresa integrada e a queda dos seus investimentos favorece, justamente, a petrolíferas internacionais como a Shell.
Vale lembrar, também, que Temer se reuniu com o principal executivo da Shell, Ben van Beurden, poucas horas depois que Pedro Parente defendeu o fim da Petrobrás como operadora única do Pré-Sal.
Peça 4: A ANP de Temer e a morte do conteúdo local
Bastou Michel sentar na cadeira de presidente para que um dos grandes sucessos do governo Lula, o conteúdo local que gerou milhares de empregos diretos e indiretos na indústria naval, fosse por água abaixo. O campo de Libra, operado pela Petrobrás e com participação da Shell, terá aval da ANP para poder produzir plataformas e equipamentos fora do país, deixando os empregos e a tecnologia escapar dos territórios nacionais. Coincidentemente ou não, quem ganha com isso é a própria Shell e as empresas internacionais que não terão mais a concorrência da construção naval brasileira que foi referências na década de 80 e estava se recuperando na última década.
Peça 5: A Shell e a corrupção na nigéria
Shell é acusada de comprar parlamentares na Nigéria, como diz ter feito a JBS aqui no Brasil. Vale lembrar que o regime de exploração do pais africano se assemelha com a concessão desejada pelo PSDB do Aécio Neves e José Serra. (poço chamar a movimentação dessa peça de Xeque-Mate?)