Globo bate o bumbo: quer eleições indiretas e ponto final

(Imagem: Editorial do Jornal O Globo logo após o golpe de 64. O jornal sempre foi hábil em costurar a narrativa golpista).

Vamos analisar esse tweet do Noblat, que é uma obra de arte. Em tão poucas palavras, toneladas de golpismo, arrogância, e espírito antidemocrático.

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Bem, Noblat, o último Datafolha, divulgado no início desse mês, mostrou que 85% dos brasileiros querem votar eleições diretas, mesmo sabendo que será preciso, para isso, aprovar uma PEC.

Ou seja, não é apenas a “esquerda” que quer eleições diretas. Isso é uma mentira sua. ´

A justaposição de “esquerda quer” X “Globo quer” é genial. De maneira distraída, Noblat resumiu a polarização política nacional. O principal partido da direita no Brasil é a Globo.

Noblat também, talvez sem refletir muito, associou a esquerda aos anseios democráticos e a Globo à arrogância totalitária das elites brasileiras.

Repare bem: Globo quer eleições indiretas para que o Brasil “não pare”. Não pare onde? Eleições diretas são justamente para destravar a crise política e fazer a democracia brasileira voltar à ser funcional!

Eleições indiretas é uma maneira desesperada de preservar o golpe. A Globo sabe que o povo não quer esse governo, não vai votar em nenhum governo que puser em marcha essas reformas retrógradas de Michel Temer.

A “esquerda” é um campo político definido. Tem sindicatos, centrais, partidos, movimentos sociais. A esquerda sofreu com a ditadura militar e lutou pela democracia. O que fez a Glob? O que é a Globo? Uma empresa familiar que se tornou um império durante o regime militar, através de subsídios bilionários do governo da época. A Globo sempre teve acesso a informações privilegiadas, que permitiram a seus donos se tornarem a família mais rica do país.

Aliás, se é verdade que a gravação que derrubaria Temer já estava em poder da Globo semanas antes do escândalo estourar, então é possível que a empresa tenha comprado dólares, e apostado contra o Brasil. É preciso investigar isso.

No mesmo Datafolha que apurou que 85% dos brasileiros querem Diretas Já e apenas 10% querem eleições indiretas, há uma tabela interessante sobre o prestígio das instituições. Analisem com atenção. Volto em seguida.

Viram que o percentual de pessoas que “não confiam” na imprensa superou, pela primeira vez, o de pessoas que confiam? Hoje 29% dos brasileiros, segundo o Datafolha, não confiam na imprensa, contra apenas 23% que confiam.

A confiança na imprensa desabou, possivelmente pelo entendimento de que ela se tornou um agente político interessado.

Repare ainda que a presidência da república, em 2012, era a instituição com mais prestígio de todas: mais que o STF, imprensa, mais até do que os percentuais de confiança que tem hoje o Poder Judiciário e o Ministério Público.

Aliás, tanto Poder Judiciário quanto o Ministério Público, também estão sendo vistos com olhos mais críticos do que positivos. 25% dos brasileiros disseram não confiar no Judiciário e no MP, enquanto 23% disseram confiar.

Entretanto, os números de confiança na imprensa, mesmo tendo caído muito, no STF, no Poder Judiciário e no Ministério Público comprovam a nossa tese de que o golpe foi dado pela alta burocracia jurídica do Estado, associadoa à mídia. São esses os setores que ainda gozam de um pouco de confiança dos brasileiros. E eles abusaram dessa confiança, enganaram os brasileiros e patrocinaram um golpe de Estado.

Os mesmos setores agora permanecem unidos, para que a eleição seja indireta, porque não querem ouvir o povo e tem medo do povo.

A frase de Noblat comporta um raciocínio estranho. Ele diz que a esquerda quer eleições diretas já para salvar Lula e salvar-se… Ué, por que isso?  Seria porque Lula está crescendo nas pesquisas? E se ele está crescendo nas pesquisas, é porque isso é  a vontade do povo, não? O povo quer “salvar” Lula por que motivo? Não seria para salvar-se?

Se trocarmos a palavra “esquerda” por “povo” no tweet de Noblat, teremos uma brilhante síntese dos dilemas atuais da democracia brasileira.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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