(Foto: Valter Campanato/ Agência Brasil)
Temer trava embate com Joesley, nega crimes e busca apoio político
Presidente faz pronunciamento forte e correto para estratégia de defesa
KENNEDY ALENCAR, em seu blog
BRASÍLIA
O presidente Michel Temer fez um pronunciamento forte e correto levando em conta a estratégia que traçou para enfrentar a maior crise de seu governo.
Travou embate direto com Joesley Batista para ferir a imagem do empresário. Rebateu a materialidade das acusações, com foco em diferenças entre a gravação e o depoimento de Joesley ao Ministério Público.
Temer procurou demonstrar a políticos e empresários que seu governo tocou reformas importantes e que a tarefa ainda está para ser concluída, num gesto para evitar debandada em sua base congressual. Por último, refutou a renúncia mais uma vez.
O presidente disse que Joesley “cometeu o crime perfeito”, prejudicou o país, especulou contra a moeda, vendeu ações sabendo que elas perderiam valor e foi morar nos Estados Unidos. Começou atacando a imagem do empresário, a quem chamou de “falastrão”.
Esse tipo de ataque costuma ter efeito perante a opinião pública, porque levanta questionamento pertinente sobre os benefícios concedidos a Joesley e executivos da JBS. Foi um acordo muito vantajoso na comparação com o dos executivos da Odebrecht, por exemplo. Temer também ataca outro delator, Ricardo Saud, que teria inventado, segundo o presidente, palavras e atitudes que não combinariam com a personalidade do peemedebista.
O presidente disse que era “pífia” a acusação de corrupção passiva porque o governo não teria atendido aos pleitos e reclamações levadas por Joesley ao Palácio do Jaburu. Em relação à gravação, disse que era clandestina e colocou foco em eventual manipulação do material. Como o blog antecipou, ele afirmou que pediria a suspensão do inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal) para avaliação da gravação.
Temer ressaltou a importância de adotar medidas para a recuperação econômica do país, lembrando a queda da inflação e a necessidade de completar as reformas da Previdência e trabalhista. Foi um claro aceno para a classe política. Ele sabe que não pode perder a sustentação do PSDB, o principal aliado do governo, sob pena de desembarque em efeito dominó no Congresso. Esse aceno também se dirigiu aos empresários, na busca de mais suporte político.
Sem usar a palavra renúncia, expressão sempre desgastante na boca de um presidente da República, ele disse: “Eu continuarei à frente do governo”. Refutou pressões que voltaram a crescer ontem.
Em resumo, Temer reagiu de forma mais profissional do que a antecessora, Dilma Rousseff. Executou bem sua estratégia para tentar evitar o agravamento da crise. Agora, os desdobramentos serão fundamentais. Será preciso medir a reação da base de apoio, do empresariado, da opinião pública e de Joesley e seus executivos.
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