(Foto: Fernando Bizerra Jr.)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
No próximo dia 10 vai ocorrer aqui em Curitiba o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O interrogatório é a oportunidade que o senhor ex-presidente vai ter para se defender. É um ato normal do processo. Nada de diferente ou anormal vai acontecer nessa data, apenas esse interrogatório.
Este é um trecho da fala de Sérgio Moro em um patético vídeo divulgado na igualmente patética página do Facebook chamada “Eu MORO com ele”, criada por sua esposa.
Moro tenta demover os “apoiadores da Lava Jato” de irem à Curitiba contrapor-se aos apoiadores de Lula que já estão chegando à cidade paranaense.
Seria cômico, não fosse trágico.
A Lava Jato é uma operação de exceção. O próprio Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que julga os recursos contra as decisões de Moro, decidiu, em setembro do ano passado, que a operação não precisa seguir as regras dos casos comuns. A decisão, tomada por 13 votos a 1, afirmou que Moro não poderia ser censurado por divulgar áudios – grampeados ilegalmente – da presidente da República porque “as investigações e processos criminais da chamada operação ‘lava jato’ constituem caso inédito, trazem problemas inéditos e exigem soluções inéditas”.
Todo esse poder da Lava Jato só poderia ter sido concedido pela instituição mais poderosa do Brasil, a Globo, para que a operação servisse de combustível ultra aditivado à derrubada do governo petista.
O interesse da Globo caiu como uma luva na estratégia da dobradinha Moro/Ministério Público (ilegal e imoral, pois a separação entre juiz, acusação e defesa é requisito básico em um processo penal justo) de utilizar a mídia para angariar apoio na opinião pública deslegitimando lideranças políticas. Essa estratégia foi explicitada pelo próprio Sérgio Moro em artigo publicado em 2004.
Moro determina prisões “preventivas” que duram meses ou até anos, até que o preso aceite fazer uma delação premiada – falando o que a acusação e o juiz querem ouvir, obviamente.
Tudo isso é dito exaustivamente, desde o início da Lava Jato, por quem faz jornalismo de verdade no Brasil, a mídia alternativa.
Pois bem.
A proximidade da condenação de Lula (a previsibilidade do julgamento de Moro confirma inapelavelmente a sua imparcialidade) impeliu Gilmar Mendes a se tornar o grande articulador da Operação Estanca a Sangria: afinal, a Lava Jato não pode, de jeito nenhum, chegar perto dos inimputáveis tucanos.
O que Gilmar faz, então? Passa a criticar as aberrações jurídicas perpetradas em Curitiba, como se tivesse virado um leitor dos “blogs sujos”. Leiam este trecho de uma entrevista, publicada hoje pela Folha, com o político/ministro do STF:
A mais recente evidência de que a Lava Jato não é uma operação normal é o adiamento do depoimento de Lula, determinado pelo juiz Moro, para que nos dias seguintes passassem a pipocar depoimentos incriminando o ex-presidente. Todos sem indicar prova alguma, é claro.
Por tudo isso, o vídeo em que Moro afirma, candidamente, a normalidade do depoimento de Lula, é simplesmente patético.
Não há nada de “normal” na Lava Jato. Uma operação “normal”, em um país civilizado, não pode produzir reféns.
As próprias revistas alinhadas ao golpe não conseguem se conter e pintam o depoimento, em suas capas, como um duelo entre Moro e Lula, o mocinho e o vilão.
Moro divulgou o famigerado vídeo por um simples motivo: medo.
A culpa por uma carnificina em Curitiba iria recair, com toda a justiça, sobre seu colo.
Mas gravar vídeo para os seus apoiadores não adianta nada.
Sérgio Moro já garantiu seu lugar na história como um medíocre juiz parcial que, com sua atuação, ajudou a promover gigantescos retrocessos jurídicos e democráticos no nosso país.