Por Wellington Calasans, Colunista do Cafezinho, na Suécia
Emmanuel Macron venceu com 65,1% dos votos válidos, mas será mesmo que os franceses comemoram o resultado das eleições deste domingo (7)? Em um cenário entre quem construiu a maldade (Macron) e quem tentava tirar proveito dela (Marine Le Pen), a única certeza era a derrota da França.
Há quem diga que a disputa foi entre austeridade e não austeridade, mas é importante deixar claro que era uma disputa entre a União Europeia e a sua própria existência. Venceu a Alemanha, dona da União Europeia, pois Macron é a alegria dos bancos e a certeza de que os franceses seguem como os grandes sacrificados em nome de uma austeridade que lhes é imposta para o regozijo do cambaleante bloco comum europeu.
Le Pen tentou navegar no ambiente de austeridade que já impera na França há anos. O próprio Macron, na condição de ministro da Economia de François Hollande, iniciou o processo de desmonte dos direitos trabalhistas. Uma pauta desconectada da realidade e que apenas facilita demissões e relativiza a carga horária.
Como surfista no mar do suor e lágrima dos trabalhadores franceses, Marine Le Pen estimulou o ódio aos estrangeiros e fez da xenofobia a sua bandeira para vencer as eleições. E não era para menos, pois Hollande mergulhou a França no desemprego, caos social com seguidos protestos, descontrole da onda migratória e na insegurança provocada por ataques terroristas.
A vitória de Macron foi relativamente confortável, mas os franceses e a própria França só não perderam mais do que o atual presidente Hollande. Desacreditado, foi incapaz de tentar a reeleição. Pior ainda, se declarasse apoio a qualquer candidato estaria decretando a derrota do seu escolhido.
A França de Macron será predadora. Vai agora completar o serviço (sujo) interno e logo em seguida tentar resgatar o período colonial ao explorar, sobretudo, o mercado francófono africano. Não podemos dizer que a França tem algo a celebrar quando abandona as luzes para mergulhar nas trevas.
Macron venceu Le Pen porque, assim como nos casos de câncer, é sempre menos doloroso receber o resultado do exame. O tratamento é, na maioria das vezes, um desafio incerto. Macron é a causa dessa França que está aí, mas foi visto nas urnas como “um mal menor” quando comparado às consequências que ele mesmo criou, mas que foram personificadas por Le Pen. Era uma vez, um país conhecido como modelo de liberdade, igualdade e fraternidade.