Por Bajonas Teixeira,
Ontem Aécio foi depor na Polícia Federal. Isso passou em brancas nuvens porque a mídia é muito criativa em seus modos de dar a notícia escondendo mais que informando. Por exemplo, quem se lembra de José Serra? Sua última aparição foi justamente desaparecendo: entrou pela porta do Sírio-Libanês assim que as denúncias encresparam para o seu lado. Pode ter entrado por uma porta e saído por outra. Não importa. O fato é que ninguém mais tocou no seu sagrado nome desde de 18 de abril. Tudo muito diferente dos dois anos de massacre midiático continuo contra Lula.
A imagem do UOL, com Lula de língua para fora, faz dele um gaiato mequetrefe, um zé mané gozador que tira onda com a cara da Lava Jato. Suas oitenta e sete testemunhas seriam zoeira com a insigne figura do juiz Sérgio Moro. Enfim, Lula seria o rematado moleque que deveria mesmo ir em cana. Já o 3×4 de Aécio Neves é muito diferente. Em primeiro lugar, dificilmente alguém o reconheceria, tão submerso ele aparece no reino das sombras. Está literalmente resguardado numa moita de obscuridade. Mas, para a eventualidade de ser reconhecido, o UOL tomou o cuidado de trajá-lo convenientemente com um disfarce.
Pois é. Aécio aparece irreconhecível com a expressão solene do homem que sofre injustiças, uma vítima de infames ardis urdidos pelos inimigos. Seu olhar fixo no invisível retrata a imagem eterna do homem golpeado pelo destino adverso que, contudo, na sua ombridade inata, aceita com resignação o fardo trágico. Nem parece o Mineirinho serelepe, conhecido pelo riso fácil e a boca mole, com a alva dentadura sempre à mostra. O Aécin da Folha tem envergadura épica e máscara facial shakespeariana.
Cômico? Sem duvida. Muito cômico. O Mineirinho real, empírico, está mais para atração de circo mambembe do que para a poesia dramática. No máximo, sua Lady Macbeth seria um Gilmar Mendes de peruca, trajando um virginal vestido branco de casamento em festa junina na roça. Ou poderia ser diferente?
Como poderia ser diferente se Mineirinho, vulgo Aécio, se exibiu nos últimos anos como o paladino do combate à corrupção enquanto, no lado oculto da lua, lá pela terceira margem do rio, suspeita-se que andava metido em esquemas desviantes? De fato, embora se apresente como o herdeiro de impoluta vestutice, supostamente legada pelo vovô Tancredo, é o feliz colecionador de um número impressionante de suspeitas, inquéritos, denúncias, processos, delações, procedimentos investigatórios e que tais.
Aécio, ao que tudo indica, é mais limpo que pau de galinheiro. E, empoleirado na cadeira presidencial, que passou raspando sob suas asas na última eleição, teria transformado o Palácio do Planalto na granja da Mãe Joana. Isso pelo menos é o que se deduz da marginália dos seus inquéritos e as apurações.
Ontem mesmo, aliás, ali pela tardinha, ele foi ter uma conversa ao pé da orelha na PF. E a foto ali em cima ilustra isso mesmo. Ou melhor, desilustra, já que por ela não sabemos de quem se trata, não adivinhamos nem o nome nem a nacionalidade. Esses estratagemas de ocultação de políticos, ainda que sejam admiráveis por seus achados e inovações, não deveriam ser aceitos. Eles distorcem a cena política, criam vantagens comparativas para seus apaniguados, com véus de invisibilidade que desequilibram as contas políticas.
Tão reprovável quanto a perseguição política através dos meios de comunicação, para servir a interesses de classe, é a proteção e o encobertamento para os mesmos fins.
Lula é uma figura de grande estatura política, ainda que no Brasil, terra liliputiana, não seja preciso ser maior que um anão para ser um gigante. Já Aécio é ave de voo rasteiro talhada para o galinheiro, e se pode até escondê-lo, mas trajá-lo à moda de Shakespeare soará sempre ridículo, afinal, como diz o ditado, pela pena se conhece o pássaro.
COMPARTILHE. Visite e curta a MÁQUINA CRÍTICA: https://www.facebook.com/MaquinaCritica/