Eduardo Costa Pinto: Lava Jato paralisou o capitalismo brasileiro

Muito interessante essa análise do economista Eduardo Costa Pinto, em especial a parte em que ele teoriza sobre a decisão de empresariado e classe política de apoiar o impeachment.

Parte importante do empresariado era contra o impeachment, por entender que ele poderia deflagrar uma instabilidade perigosa.

Mudaram de ideia, porém, quando o PMDB acenou com a “ponte para o futuro”: reformas trabalhistas e da previdência, além da PEC 55, que congela gastos por 20 anos.

Outro motivo para o apoio do empresariado ao golpe foi “parar a Lava Jato”.

A teoria de Eduardo conseguiu explicar uma coisa que eu não vinha conseguindo entender.

Segundo Eduardo, os setores dominantes apoiavam a Lava Jato enquanto o PT estava no poder, embora apreensivos com um movimento que, nitidamente, criminalizava a relação entre o público e o privado.

Um dos motivos do golpe, portanto, foi assumir o controle da Lava Jato, conforme revelam os áudios de Jucá: ou seja, mantendo o foco apenas no PT e terminando de destruir apenas as empresas já feridas, como a Odebrecht e a OAS.

Isso explica muita coisa.

A Lava Jato, contudo, segundo Eduardo, não se deixa controlar tão fácil. Inflada e paparicada pelos setores dominantes, em especial a mídia, que a tratou como um bando de cães furiosos que ela atiçava contra o PT e seus aliados políticos (parte do PMDB e empresariado), a Lava Jato não é um movimento dos “donos do poder”. É um movimento de classe média, procuradorista, que ganhou uma força própria.

Eu não concordo, porém, com alguns pontos de Eduardo. Acho que ele subestima o capital. A oportuníssima morte de Teori Zavaski e a entrada de Alexandre de Moraes, é um movimento bem sucedido para controlar a Lava Jato, vide as decisões sucessivas de Gilmar Mendes – fortalecido com a chegada de Moraes – para blindar Aécio Neves contra qualquer investigação.

E agora, o STF, liderado por Gilmar Mendes, começou a soltar presos da Lava Jato.

A própria mídia começou a publicar reportagens impensáveis há alguns meses, denunciando salários de procuradores de juízes.

A Lava Jato, acuada, concentra suas baterias exclusivamente em Lula, o que era exatamente o que os donos do poder queriam. Dallagnol e Sergio Moro são aliados do donos do poder na Lava Jato. Eles entenderam bem a mensagem: se quiserem manter o apoio da mídia plutocrática a operação, precisarão esquecer o PSDB, aliviar o PMDB, e manter o foco em Lula.

Mas tem um problema. O investimento não chegou. O governo parou de investir e os empresários também. Espera-se o fim da instabilidade: ou seja, o fim da Lava Jato e a aprovação das reformas. E aí começam as contradições e renasce a política: a mesma classe média que apoia a Lava Jato não apoia as reformas, apesar da propaganda massiva da Globo e da mídia em geral. Isso explica a histeria delirante dos meios de comunicação, contra a greve geral e praticando um chapa-branquismo tremendamente arriscado para eles.

A Lava Jato pode até ser paralisada (e, na minha opinião, deveria sê-lo, porque é um movimento politicamente fascista, vide a convergência entre eleitores de Bolsonaro e apoiadores de Sergio Moro), mas a política, não.

A política não pode ser paralisada.

A política se alimenta das contradições.

Há uma contradição (e um conflito de interesses), por exemplo, entre a Globo e o empresariado nacional.

Em virtude do monopólio sobre o mercado de publicidade, a Globo lucra com a crise, que destroi pequenas e médias empresas, impossibilita a concorrência no mercado de tv, e eleva a concentração, de maneira geral, do capitalismo brasileiro, o que interessa à família mais rica do país. A Globo vem lucrando há décadas com a devastação econômica do Brasil, seja através do assassinato de seus concorrentes, seja através de seus investimentos em mercado financeiro.

À Globo interessa que o Brasil se afunde mais na crise, porque ela é sócia do capital internacional, que ainda aposta na Lava Jato como instrumento para reduzir o preço dos ativos nacionais.

Todas essas contradições, mais inflamadas do que nunca, impedem qualquer estabilidade: política, jurídica ou econômica.

A Lava Jato explodiu a estabilidade jurídica. O golpe explodiu a estabilidade política. O desemprego e o sumiço dos investimentos, somados às duas instabilidades anteriores, explodiram a estabilidade econômica.

Essa instabilidade radical pode ser a única luz no fim do túnel, embora sempre haja o risco de que a luz seja um trem vindo em nossa direção.

Por isso mesmo, a citação de Marx, feita pela socióloga Alana Moraes, em entrevista reproduzida aqui no Cafezinho, nos provoca um sentimento misto de fascínio e desconfiança:

“A situação desesperada da sociedade em que vivemos me enche de esperança”.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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