(Foto: Pedro Ladeira – 19.abr.2017/Folhapress)
Analisando em profundidade os últimos números do Datafolha, encontrei várias coisas que chamam a atenção e não foram comentadas pela imprensa.
O Datafolha pergunta aos entrevistados sobre suas preferências partidárias, mas os resultados dessa interessante sondagem jamais são postos em evidência. A Folha nunca fez reportagem sobre esses números, apurados por seu próprio instituto.
Segundo o instituto, o número de entrevistados que respondiam “nenhum” à pergunta sobre o partido de preferência, caiu de 75% em dezembro de 2016 para 66% nesta última pesquisa, feita entre os dias 26 e 27 de abril e divulgadas agora, início de maio.
O crescimento foi puxado pela preferência pelo Partido dos Trabalhadores, que quase dobrou. Em dezembro, apenas 9% dos entrevistados escolheram o PT como seu partido de preferência, o que foi o número mais baixo do PT desde que o Datafolha começou suas pesquisas. Em maio deste ano, porém, o número de simpatizantes do PT subiu para 15%. O PSDB se manteve estagnado, com 4% das preferências.
Entre os jovens com 16 a 24 anos, o PT marcou 15%, contra 3% do PSDB.
É interessante observar que as pessoas de renda mais alta são mais hostis a partidos do que as de renda mais baixa.
Entre quem ganha mais de 10 salários, o percentual dos que responderam “nenhum” à pergunta sobre partido de referência foi de 71%, contra 63% entre os que ganham até 2 salários.
A pesquisa deixa claro que o maior adversário da esquerda é a despolitização, e não o PSDB. Isso reflete nossas análises de que o partido da mídia é a principal legenda de oposição. Mesmo entre os eleitores com ensino superior e que ganham renda superior a 10 salários, o PT tem mais de três vezes mais simpatizantes do que o PSDB.
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Vamos à análise da pesquisa espontânea.
Os números mostram um crescimento extraordinário de Lula, cuja votação espontânea quase duplica, de 9% para 16%.
Bolsonaro lidera entre eleitores mais ricos (com renda familiar superior a 10 salários), com 16%, contra 14% de Lula. Este é o único segmento onde João Dória tem pontuação relevante, 6%.
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Agora, vamos à estimulada.
Pela primeira vez, o Datafolha traçou cenários sem Moro. Na situação D, vemos uma forte transferência para Marina e Ciro.
Sem Lula, Ciro Gomes fica em segundo lugar, embolado com Jair Bolsonaro e João Dória.
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Com Lula em jogo, encontramos algumas mudanças interessantes nos números do Datafolha.
Lula cresceu de maneira muito forte (de 12% para 21%) entre os eleitores de maior renda, ao mesmo tempo que Sergio Moro despencou (de 25% para 11%). Com isso, Lula lidera isoladamente também entre os eleitores que ganham renda familiar superior a 10 salários, ou seja, entre o público que pode pagar por mais informação.
A única explicação que me parece convincente, para esse fenômeno, é a percepção, por parte do eleitor de maior renda, de que Sergio Moro não é um magistrado imparcial. Aquela foto ao lado de Aécio, além da perseguição que vem fazendo a Lula, provocaram impacto negativo na opinião pública.
Entre os mais jovens, Moro caiu de 8% para 5%, enquanto Lula subiu de 25% para 30%.
Entre quem possui ensino superior, Sergio Moro caiu de 18% para 14%, enquanto Lula subiu de 15% para 19%, assumindo a liderança também neste segmento.
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Por fim, vamos analisar a pesquisa para o segundo turno. Peço atenção especial para o quadro que eu editei abaixo (clique para ampliar).
Algumas observações sobre a tabela acima:
- Ciro Gomes vence os candidatos tucanos, num eventual segundo turno com eles, mas perde feio de Marina.
- Lula ganha com folga de Bolsonaro, mas perde (por pouco) entre os segmentos mais ricos.
- O candidato mais perigoso para Lula é o mais improvável: Sergio Moro, que goza da blindagem absoluta conferida a um magistrado endeusado pela mídia. Seria o confronto mais puramente classista: os dois ficariam empatados no total geral, com a vantagem de Moro crescendo entre os eleitores com renda mais alta.
- A vantagem principal de Lula sobre Moro, no segundo turno, está entre os mais jovens, até 25 anos. Nessa faixa, Lula ganha de 45% a 37%. A figura de justiceiro midiático faz sucesso principalmente entre eleitores de 30 a 50 anos. Entre mais jovens e mais velhos que isso, Lula ganha.
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Conclusão: o único adversário político em condições de vencer Lula é mesmo o juiz Sergio Moro. A força de Moro, comparativamente a outros adversários de Lula, é tão grande, que não se deve descartar a possibilidade da Globo começar a preparar o terreno para que ele sai candidato. Mas é uma armadilha, porque Moro, ao entrar na vida política, perde automaticamente a blindagem atual. Ele sai do pedestal da magistratura e pisa na lama comum da política nacional.
Os números do Datafolha, além disso, ao evidenciar o papel de Moro candidato, criam um constrangimento profundo para o Moro juiz. Sua atuação como juiz da Lava Jato agora está mais que nunca comprometida pela política: Moro continuará perseguindo aquele que as pesquisas apontam como liderança inconteste das pesquisas de intenção de voto para 2018?
Os números de 1º turno revelam, além disso, que Sergio Moro está perdendo votos rapidamente entre as faixas de renda mais altas, ao mesmo tempo que Lula avança nesse segmento. Ou seja, Moro, antes mesmo de ser exposto ao contraditório, já está minguando.