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Belchior, suas canções serão a trilha sonora da nossa luta!

O Cafezinho agradece ao desembargador Grijalbo Coutinho, do TRT-10, pelo bonito e emocionado texto enviado ao blog. Antes de reproduzi-lo, vale recordar ao leitor que Belchior era, naturalmente, um homem de esquerda, preocupado com o golpe de Estado perpetrado contra o povo e contra a soberania nacional, um golpe dado com apoio da Globo e […]

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O Cafezinho agradece ao desembargador Grijalbo Coutinho, do TRT-10, pelo bonito e emocionado texto enviado ao blog.

Antes de reproduzi-lo, vale recordar ao leitor que Belchior era, naturalmente, um homem de esquerda, preocupado com o golpe de Estado perpetrado contra o povo e contra a soberania nacional, um golpe dado com apoio da Globo e de outros grupos de mídia, no triste ano de 2016.

Na Folha, a reportagem que entrevistou seus amigos não conseguiu esconder isso, como revela um trecho:

Por isso, acho que o desembargador acertou em cheio, ao relacionar a morte de Belchior com o momento político nacional.

Que as mensagens de Belchior sejam a trilha sonora não apenas de nosso luto por esse grande nome da música popular brasileira, mas também a trilha sonora de nossa luta contra o golpe!

***

Belchior: luto e luta

Por Grijalbo Coutinho, desembargador do TRT 10*

Os tempos difíceis nos arrebentam. Os nossos cumprimentos formais que afirmam estar tudo bem ao encontramos amigos e conhecidos é sempre precedido de inúmeras ressalvas. Afinal, como verdadeiramente declarar tranquilidade em uma época de contrarrevolução política em curso promovida pela classe dominante para tornar os ricos cada vez mais opulentos e os pobres dessa sociedade rasgadamente desigual ainda mais miseráveis? Ninguém vai calar o grito de que

“ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português”.

2016 foi o ano um do golpe, quando tudo ficou mais claro sobre os naturais ímpetos dessa gente ávida pela insaciável acumulação de riquezas. Estamos em 2017. Não podem continuar nos matando. 2016 precisa acabar, pois

“Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro
Ano passado eu morri mas esse ano eu não morro”.

A classe dominante, por intermédio de seus prepostos e capatazes alojados nos três poderes e em outras instituições da República, sob o falso e tendencioso discurso moralista de conserto da corrupta engrenagem do sistema capitalista, especialmente na relação entre o público e o privado, usa e abusa de truques midiáticos para proteger corruptos golpistas e aniquilar conquistas históricas da classe trabalhadora brasileira.

Para tanto, vale tudo, incluindo o direito penal do inimigo e as presunções ou ilações contra os adversários, permanentes ou momentâneos, da “casta pura” protegida pela velha mídia amiga e sustentáculo de longa data da ditadura civil-militar de 1964-1985.

A história, contudo, não termina hoje. A história há de condenar os puritanos burgueses, clássicos falsos moralistas lacerdistas os quais não resistiriam a quaisquer investigações com métodos ou premissas semelhantes àquelas por eles utilizadas contra os seus inimigos. Na verdade, apenas como figura de linguagem e não como ato de violência,

“eu quero é que esse canto torto
Feito faca, corte a carne de vocês
E eu quero é que esse canto torto
Feito faca, corte a carne de vocês”.

Realmente, são tempos de depressão política para quem guarda qualquer sentimento humanista ou humanitário, de golpes escancarados voltados para liquidar os direitos dos trabalhadores , aposentados, desempregados, servidores públicos, índios, negros, mulheres de luta e de tantos outras minorias políticas, bem como para entregar as riquezas nacionais.

Por outro lado, começa a despertar a consciência coletiva no sentido de que a tragédia brasileira iniciada em 2016 tem os seus reais propósitos cada vez mais evidentes. E isso posso concluir porque tenho

“Conversado com pessoas
Caminhado meu caminho
Papo, som, dentro da noite
E não tenho um amigo sequer
Que ainda acredite nisso não
Tudo muda!
E com toda razão”.

Além disso,

Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era novo jovem
Hoje é antigo, e precisamos todos
rejuvenescer”.

Não virá, contudo, a legítima reação sem destemor e sem contundente enfrentamento à antiutopia em curso no Brasil. É fundamental lutar, considerando que

“O que transforma o velho no novo
bendito fruto do povo será.
E a única forma que pode ser norma
é nenhuma regra ter;
é nunca fazer nada que o mestre mandar.
Sempre desobedecer.
Nunca reverenciar”.

Como se a depressão política pudesse não ter fim, depois dos desatinos dos últimos meses, responsáveis pela tentativa de dilaceramento dos direitos humanos da imensa maioria do povo brasileiro, com o apoio ou omissão daqueles para os quais o Estado Democrático de Direito somente vale para o capital, nos chega hoje a notícia do falecimento ocorrido ontem, dia 29 de abril de 2017, de irrequieto poeta e destacado músico da MPB, do filósofo cearense Belchior, tragado pelos efeitos do modo de vida da sociedade burguesa em sua fase ainda mais individualista, consumista, de reduzida solidariedade humana ou de pouca sociabilidade, da descartabilidade humana, da valorização do fútil e do inútil e da sacralização do mundo “do ter” e das aparências globalizadas .

Belchior, mais talentoso cantor cearense de todos os tempos e um dos maiores do Brasil, uma espécie de filósofo nietzschiano da música popular brasileira, por que nos deixastes tão cedo ou por que desaparecestes do cenário há quase uma década? Havia prometido que irias ao teu primeiro show em qualquer lugar do mundo, quando desse um chega para lá na maldita depressão.

Por isso, hoje, dia 30 de abril de 2017, deprimido politicamente, chorei ainda mais ouvindo as tuas lindas canções. Choro a tua morte precoce, bem como assim chora o meu filho que é aprendiz de músico, que tem 23 anos de idade, admirador de sua qualidade musical desde criança.

Nesse momento de dor de uma comunidade valorizadora da música como instrumento da arte de rebeldia das minorias políticas, especialmente por parte dos jovens cearenses de outrora que protestaram, enfrentaram a ditadura, namoraram e amaram ouvindo e cantando Belchior, nos anos 1970 e 1980, somente nos resta agora ouvir ainda mais o filósofo de Sobral, lutar contra o golpe e pelo restabelecimento do Estado Democrático de Direito, fazendo uso de seus versos, tal como consta das estrofes antes destacadas e do término da presente mensagem, texto para além de piegas, senão expressão de sentimento verdadeiro do autor de melancólica homenagem quando um de seus ídolos musicais se vai:

“Não cante vitória muito cedo, não.
Nem leve flores para a cova do inimigo,
que as lágrimas do jovem
são fortes como um segredo:
podem fazer renascer um mal antigo”.

É hora do luto por Belchior. É hora de luta contra o golpe e os golpistas!

* Grijalbo Coutinho, cearense, desembargador do trabalho do TRT 10 (DF e TO).

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Marcus Caffé

24/05/2017 - 09h21

Sensacional…Parabéns à todos!

Mario Jorge

03/05/2017 - 21h31

Realmente Belchior era tudo isso e muito mais. Parabéns Desembargador e obrigado por tudo Belchior..

Alexandre Nunis

02/05/2017 - 12h33

Só uma alma tão linda e generosa assim poderia explicar uma amizade de Belchior com um reacionario de carteirinha como Fagner…
…só a arte poderia explicar,mesmo porque Fagner tem coisas lindissimas ah mais aí ja querer demais Arte e consciência politica è mesmo só pros gênios..
Excepcionais…

Leandro

02/05/2017 - 11h04

Bom Dia Miguel, parabéns pelo trabalho. Venho aqui para pedir autorização para usar a imagem do post, que ficou linda – e triste- no evento que vou promover aqui em Resende, RJ. É uma mostra fotográfica com o tema “Mulheres e a ditadura”. Obrigado pela atenção. Abraço.

Ferdinand Martins da Silva

02/05/2017 - 10h42

Excelente texto! De fato, Belchior nunca se rendeu à essa mídia golpista! As suas letras e canções marcarão para sempre as nossas vidas! Precisamos urgentemente resgatar Belchior para esta juventude que anda sedenta de algo realmente caloroso.

Antonio Fernandes de Oliveira Sobrinho

01/05/2017 - 20h31

Primeiro foi seu pai, segundo seu irmão. Terceiro agora é ele, agora é ele, agora é ele, de geração em geração em geração. Roto no esgoto do porão.

Antonio Fernandes de Oliveira Sobrinho

01/05/2017 - 20h26

Popullus meu cão! O escravo indiferente que trbalha e por presente, tem migalhas sobre o chão.

Joel Araujo

01/05/2017 - 22h29

Desaguei de tanta dor.

francisco c c pessoa

01/05/2017 - 18h51

Lamento a morte do Belchior.

jose carlos lima

01/05/2017 - 17h42

bela ilustracao…salve mateus ferreira golpeado estudante covardente por quem deveria peotege lo

Maria de Fátima Araújo de Morais

01/05/2017 - 17h05

Linda a homenagem ao nosso poeta querido!
Vamos fazer de seus versos a nossa bandeira.
O nosso poeta cantou as angústias da minha geração. Estou muito triste, pois o País , pelo qual lutei, para que fosse adiante, não existe mais. Mais triste ainda com a perda de um dos meus poetas favoritos.

Edson Cambur

01/05/2017 - 19h36

https://www.youtube.com/watch?v=mGxfoJte8wk

Lúcia Marques -de Salvador.

01/05/2017 - 16h30

O Sr. Juiz estava lindamente inspirado ao “tecer “essa homenagem tão merecida ao Poeta Maior Belchior!

Márcio Roberto Vieira

01/05/2017 - 15h51

Hoje, meu filho com 50 anos, lembrou-me, no almoço, que o criei e aos outros 2, filha e filho, ouvindo Belchior. Vivi Juscelino, que a Editora Objetiva cisma em dicionarizar a palavra Juscelinismo como a doutrina de Juscelino, “Presidente do Brasil de 1951 a 1955”, apesar do meu apelo, e do Professor Mário Sérgio Cortella,que pedimos que retificasse a data de sua governança para 1956 a 1960, uma vez que, se Getúlio suicidou-se em 24 de agosto de 1964, o dicionarista entendeu que Getúlio não foi o presidente do Brasil em eleição livre em 1950 e portanto, está escondido em algum lugar desta terra , ou em outro Orbe de nossa galáxia. Calaram-me fundo as músicas do Filósofo Humanista Belchior e ex-quartanista de medicina. Eu que conhecia as patranhas para colocar Jânio Quadros no Poder, posteriormente, confirmadas por Gondim da Fonseca, dirigente da SUMOC, no livro “A Miséria é Nossa”, percebi em que fria entrou o Brasil com a vinda de Lincoln Gordon, `Padre Peyton e Vernon A. Walters, como adido militar, fato posteriormente confirmado por Carlos Fico no livro “O Grande Irmão”, da Operação brother sam.
Lamento, como o Magistrado, a morte do grande brasileiro Belchior ( Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes), cujas letras maravilhosas e de uma profundidade psicológica inaudita, obrigou-nos, a muitos brasileiros, a pensar a vida e o Brasil de uma forma diferente. Lamentavelmente, aos 76 anos, quase 77, vejo a peça repetir-se, com outros atores, mas com o mesmo autor e com outras moscas no novo dejeto.

Aguinaldo Oliveira

01/05/2017 - 17h38

Eita povo ridiculo o governo Temer comendo o C… de vocês, e de todo mundo e ainda tem a galerinha que acha tempo para fazer graça, até parece que não estão se fodendo tambem com essa corrupção.

Antonio Normandio Teixeira Antonio

01/05/2017 - 16h45

Cara respeita a imagem do falecido!

Rogério Bezerra

01/05/2017 - 13h02

Um dos maiores cantautores do Brasil, Belchior sofreu o que sofrem os que entendem o jogo que está sendo jogado. Caricaturizaram-no. Foi piadinha no “Casseta e Planeta”. Besteirol que invadiu todos os cantos de nossa sociedade através dessa mídia medíocre e covarde.
Em suas canções com letras complexas e melodias simples, Belchior lutou contra a mutilação que a “indústria cultural ” e a mídia homogênea fazem ao Brasil há décadas.
Belchior não era para iniciantes. Há frases em suas canções que precisamos ouvir e ouvir e ouvir ou até pesquisar para compreender.
Ultimamente “Madame Frigidaire” e “Quinhentos anos de quê” (com Eduardo Larbanois) eram as que mais ouvia, talvez pela ironia e contundência.
Com essa mídia do jaba seu valor não será reconhecido, pois lugar onde globo, record, sbt, rbs etc só a puerilidade e vazio.
Obrigado Belchior!

marco

01/05/2017 - 12h44

Penso,senhor JUIZ,que o auto isolamento desse poeta ímpar,se deve primeiramente,querer se livrar dos ETERNOS REVERENTES À NOTORIEDADE.Deve ter cansado de saber,que esses VERMES SOCIAIS,os PUXA SACOS DE RICOS,tem vida longa e as nossas RENOVADAS IMPOTÊNCIAS,tem se revelado inúteis contra isso.Quisera que fossem breves,mas…

Giselle Feitosa Figueiredo Mendonça

01/05/2017 - 12h38

Que beleza de texto, diz exato o sentimento atual, que pena tão cedo, que pena sem termos ouvido novamente seus versos indignados. A todos, contínua indignação e tristeza.

Luís CPPrudente

01/05/2017 - 12h18

“Como uma metrópole,O meu coração não pode parar, Mas também não pode sangrar eternamente” (Monólogo das Grandezas do Brasil, Belchior).

O Brasil de 1983 (eu ouvi essa música em 1984) não podia parar, mas também não podia sangrar eternamente pela dívida externa e FMI. Hoje o Brasil não pode parar e nem ser sangrado irremediavelmente pelos golpistas liderados pela criminosa e bandida Rede Globo.
Temos que derrubar essa Bastilha chamada Rede Globo.

Ursula

01/05/2017 - 12h17

Lindo! Acorda povo brasileiro, você tem direito à CLT!

Claudio de Oliveira

01/05/2017 - 15h00

Paguem os direitos autorais. Lula tá cheio da grana, centenas de milhões doados pelo contribuinte.

    Rita Andreata

    01/05/2017 - 13h30

    que doidice é essa? Se não for, acho que você deveria é pagar uma gorda indenização por danos morais ao Lula. Só assim Cláudio, para você respeitar a honra do Lula.

    Rosalie Cantlin

    02/05/2017 - 02h59

    Agora relincha, porque esse seu cometário é de uma burrice cavalar. Já comeu sua poção de alfafa hoje?

Helena Xavier Do Nascimento

01/05/2017 - 14h50

junto com as do Gonzaguinha ,Chico Buarque, e outros tantos.

Lílian Galvão

01/05/2017 - 14h34

Liane Galvão


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