Foto: Phil Maxwell Archives
Relembrando à Globo que Margaret Thatcher foi defenestrada justamente porque ignorou a opinião das ruas.
A Globo resolveu comparar o usurpador Temer com Margaret Thatcher, a polêmica Premier britânica. É verdade que Thatcher conseguiu acabar com as greves dos mineiros (e não com uma greve geral), mas também conseguiu totalmente destruir a indústria mineira (e a maioria das indústrias pesadas britânicas).
Se por um lado, o setor estava chegando ao fim do seu ciclo natural, Thatcher resolveu combater os mineiros de frente e não planejou uma saída estratégica econômica para que estes trabalhadores pudessem contribuir futuramente para o desenvolvimento do país.
Ao contrário, além de arrasar inúmeras vidas, hoje, os antigos distritos mineiros continuam sofrendo as sequelas de tão dramática destruição, há quase quarenta anos atrás.
Estas regiões, que uma vez foram o motor da revolução industrial, não só do Reino Unido e de suas colônias, mas de todo o mundo, ainda sofrem com o desemprego, a falta de possibilidades, trabalho precário, pobreza e degradação.
São lugares onde ainda se observa os piores índices econômicos do país e onde o voto a favor do Brexit predominou – ainda que recebendo ajuda direta dos cofres da União Europeia para recompensar pela falta de independência econômica – revelando que as reformas Thatcheristas, nunca superadas pelos governos trabalhistas, não funcionaram.
A Escócia nunca esqueceu, e possivelmente, só nestas próximas eleições é que poderão dar chance ao Conservadores de ganharem mais do que uns poucos assentos no parlamento britânico.
Na verdade, um dos fatores que motivou a sede pela independência escocesa, foi a discrepância entre a vontade da maioria inglesa, muito mais significativa, porém muito mais à direita que a (menor) maioria escocesa. Margaret Thatcher é ainda lembrada com muito ódio em certas partes das quatro nações que constituem o Reino Unido.
Mas talvez mais interessante fosse relembrar aos nossos Globais o fim que teve a chamada “Dama de Ferro”.
Thatcher caiu justamente porque ela ignorou tanto os conselhos de seus próprios servidores públicos e assessores que a advertiram contra a implementação da chamada “Poll Tax” (um tipo de reforma dos impostos municipais), como a reação do povo britânico.
Sabendo que seria impossível revogar a “Poll Tax” sem a saída de Thatcher, os parlamentares Conservadores decidiram apunhalar sua mais icônica líder pelas costas.
Tão admirada nos círculos econômicos e financeiros e pela política contemporânea, Thatcher perdeu a confiança e, portanto, a liderança do partido e do país.
Como primeira-ministra, ela nunca gozou de unanimidade. Nem mesmo dentro do seu próprio partido, que a escolheu mais por falta de outros líderes (como foi o caso de Dilma Rousseff no PT e de Theresa May agora) do que propriamente por sua popularidade.
Em 1983, Thatcher foi re-eleita. Teve muita sorte, primeiro pelas ações suicidas de um tal General Galtieri e seus comparsas, que fizeram com que os britânicos ganhassem uma guerra contra uma força menor nos mares do Sul, e segundo, por concorrer contra um líder trabalhista sem popularidade.
Sem dúvida, Margaret Thatcher mudou o mundo, sua sorte ajudou a tornar o neoliberalismo hegemônico.
Porém, é loucura não ver o efeito que estas políticas continuam tendo no mundo de hoje, e pior, tentar implementá-las a força. Ainda mais sem nenhuma anuência da população.