Por Bajonas Teixeira
A mídia brasileira entrou em mobilização total de guerra contra Lula. Não dá um minuto de sossego, as matérias se multiplicam como células cancerosas, o conteúdo é pescado nos bueiros, nos esgotos, em zonas obscuras em que as “fontes” não passam de sombras sem identidade, sem nome nem CPF. O jornalismo que vivemos hoje é característico das épocas de guerra. Seu alvo é muito claro: usar um tapete de bombas para aplainar a prisão de Lula por Sérgio Moro.
A intensidade do bombardeio se acompanha da mínima ou nenhuma consistência das notícias, e da transformação de boatos em fatos, tudo muito típico das campanhas militaristas da mídia.
A explicação para a atual investida, é a seguinte: o golpe se arrasta já há um ano, começa a correr perigo, o governo Temer desmancha, enquanto Lula cresce diariamente. É preciso, portanto, de um lado, consolidar o golpe, destruindo os direitos através do abate da Constituição (reforma da previdência) e, de outro, já que os ‘movimentos’ (O MBL e o Vem Pra Rua) falharam no dia 26 de março, em contagiar a classe média e leva-la para a rua, tomar a iniciativa de mobilizar e agitar essa falsa “opinião pública”. A Globo assume como tarefa sua a de criar o clima febril, o delírio dos boatos, que dê a Moro suporte para realizar a prisão tão esperada.
Exatamente como fez no final de 2015, quando o objetivo era o impeachment, e ficou clara a fraqueza dos movimentos para mobilizar nas ruas, a Globo de novo toma a frente e lança toda a sua munição para conduzir a classe média ao êxtase.
Hoje o G1 da Globo pôs a seguinte manchete em destaque:
“Palocci cita Lula em propina dividida”. Como cada vez mais só se lê as manchetes, a maioria dos leitores deve ter ficado com a impressão de que Lula foi denunciado por Palocci. Mas não foi nada disso. Em resumo o ‘fato’ é o seguinte: Alguém, uma pessoa que não se sabe quem, teria ouvido falar que Palocci, entrou em contato com um jurista, que não se sabe qual, para obter informações sobre delação premiada. Haverá estória mais suspeita que essa? Difícil.
A matéria no jornal Valor Econômico, comprado pela Globo em 2016, permaneceu por bom tempo na home do G1. Ela começa dizendo que Palocci falou “com advogado” a respeito de delação premiada. “O ex-ministro Antonio Palocci informou, em conversa com advogado, que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teriam sido os beneficiários de um terço de propinas pagas durante a criação e montagem da Sete Brasil, em 2010. “
Como geralmente, quem fala “com advogado” fala com o seu advogado, somos levados a acreditar que Palocci consultou o seu advogado para sondar sobre delação premiada. Mas aí já surge uma estranheza: Como o devido sigilo das conversas entre Palocci e seu advogado, teria sido violado e vazado para a mídia? No entanto, no parágrafo seguinte tudo muda, e a coisa fica realmente nebulosa.
Agora é dito que Palocci consultou não o seu advogado, mas sim “um advogado”. Percebe-se então um vazio assustador: não há o nome, nem identidade, nem qualquer dado a respeito do “um advogado”. É um fantasma.
“A declaração de Palocci ocorreu durante consulta a um advogado na quarta-feira da semana passada, na véspera de ser interrogado pelo juiz federal Sergio Moro na ação penal a que responde na Justiça Federal de Curitiba por corrupção, conforme apurou o Valor. Palocci consultou o criminalista para saber sobre a possibilidade de fechar acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR).”
Tudo isso é muito interessante. Sabemos que os presos de Curitiba não vivem pendurados no Orelhão. Aliás, não têm orelhão para se pendurar. E, além disso, eles também não têm celular. Assim, as comunicações não são tão livres como se poderia pensar. Logo, para fazer a tal ligação para o “um advogado”, provavelmente toda uma engrenagem da Justiça do Paraná teria que ser movida. Autorizações teriam que ser dadas, etc. Mas nada disso aparece. O que aparece na boca de Palocci é que não aceitaria ser punido sozinho: “Não vou pagar esse pato sozinho”, desabafou, segundo pessoa a par das tratativas para o acordo de delação premiada.”
Mas que “pessoa” seria essa?? E que tratativas, já que a matéria começa falando de uma consulta a um advogado, o que de forma alguma significa “tratativas para acordo de delação premiada”, coisa que se faria com os procuradores da força tarefa da Lava Jato. Pois é. Pessoas ocultas, fatos exóticos, situações improváveis. São essas as grandes armas da mídia, as suas bombas sujas, lançadas às centenas contra Lula nas últimas semanas.
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