Por Bajonas Teixeira
Após o gigantesco assalto da era FHC, que subtraiu do país as empresas construídas com os recursos públicos de gerações de trabalhadores, e deixou ao estado uma imensa dívida, os empresários voltam famintos para devorar um novo butim. Dessa vez, além da carne, ou seja, além dos bilhões em lucros, eles querem devorar também os ossos, isto é, a parte sólida que resguarda o país de se tornar um imenso lixão humano. Querem roubar a Constituição e as leis, os direitos dos trabalhadores (saúde, proteção, aposentadoria, dignidade, etc.). Dessa vez, se não houver reação, não vão deixar pedra sobre pedra.
Nos anos FHC, com o auxílio luxuoso da mídia, os empresários brasileiros e seus parceiros estrangeiros assaltaram as estatais e lucraram fábulas. A mídia dia e noite pintava as empresas estatais como “elefantes brancos”, como “dinossauros”, como “jurássicas” e deficitárias. Ser funcionário público era quase um crime. Vale, Embraer, Usiminas, Copesul, CSN, Light, Acesita, as ferrovias, os bancos estaduais, tudo foi privatizado. Como pagamento, aceitou-se “moedas podres”, título de dívida pública sem valor, e o BNDES emprestou aos empresários, com juros de pai para filho, para comprarem as “moedas podres”.
Possíveis prejuízos aos empresários, como dívidas trabalhistas, dívidas das empresas, e coisas do gênero, passaram para o estado, que chamava essas iniciativas de “saneamento”. Com tudo isso, o poder público, comandado por FHC na presidência e por Serra no ministério do Planejamento, se gabou ao fim ter arrecadado 85.2 bilhões. O jornalista econômico Aloysio Biondi provou, ao contrário, que o governo pagou para vender as estatais (saneamentos, empréstimos, moedas podres, etc.). Pagou 87.6 bilhões, portanto, 2.4 bilhões a mais do que recebeu. Vejam o best seller O Brasil privatizado. Esse foi o resultado da privataria tucana, título do livro de Amaury Ribeiro Jr. publicado mais recentemente.
Naquela época como hoje, valia tudo para produzir os resultados. As torres de transmissão de energia, por exemplo, para apressar a privatização na área eram explodidas à dinamite, com a intenção de causar o maior prejuízo possível à população com os “apagões”. Leia-se essa matéria da Folha sobre um desses atentados terroristas que ameaçou deixar sete estados sem luz. O terrorismo era a forma mais radical de propaganda pro-privatizações. Nunca um autor foi achado, e alguém foi punido. Ao contrário. Esqueceu-se de tudo como se nunca tivesse existido.
Quando a população acordou da hipnose da mídia, com as mesmas Globo e Folha de São Paulo à frente, percebeu a cilada em que tinha caído, jogou-se aos soluços sobre o muro das lamentações, abriu o esguicho lacrimal gemendo e xingando FHC. Até elegeu Lula. Mas era tarde demais.
Dessa vez, a mídia volta com seus mesmíssimos métodos de redução mental e hipnose, propaga mentiras absurdas e vaza processos sigilosos incessantemente criando uma nova forma de terrorismo para abalar a opinião pública. Os processos espetáculos contra Lula são a moeda podre com que, nesse momento, se paga uma nova onda de destruição do patrimônio público, que se compõe dos restos das privatizações e do roubo da Constituição e dos direitos trabalhistas. Para nem falar da imagem e da dignidade do país no exterior, hoje destruídas.
Não é preciso dizer que as organizações do empresariado, como a FIESP, da qual apenas um modesto diretor ostentava a dívida de quase sete bilhões com os cofres públicos no momento em que a classe média se ajoelhava na avenida Paulista diante do pato amarelo, são os verdadeiros polos de poder que movem o governo fantoche de Michel Temer. Aliás, muito amigo do presidente da FIESP, que hoje aparece citado em doações ilegais da Odebrecht no valor de 2.5 milhões.
A atual investida dos piratas visa, de um lado, reduzir a pó as conquistas de décadas de lutas, que levaram milhares de líderes de trabalhadores e militantes políticos às prisões e à tortura (como ocorreu no Estado Novo), que se cristalizaram na CLT e nas legislação posterior. Se trata, também, de desfazer todas as garantias constitucionais e direitos do trabalho, e de retornar à situação selvagem e canibal dos trabalhadores sem direitos do início do século XX. E, como foi na época das privatizações, recobre-se esse mergulho no barbarismo como as adjetivações de “modernização e saneamento”, “medidas para conter o déficit público”, etc. Como naquela época, cita-se como exemplo países da Europa, os “países civilizados”, e, por mais distorcidos que sejam os exemplos, aqui se aceita tudo.
Ao lado disso, os dilapidadores profissionais, larápios contumazes, políticos com as fichas corridas às mais suspeitas, a maioria crivada de denúncias, comandam o processo. Moreira Franco anunciou um programa de rapinagem chamado PPI (Programa de Parceria em Investimentos). Em setembro de 2016, anunciava que o programa produziria 24 bilhões. Quem tinha olhos para ver, se alarmou, porque num negócio de 24 bilhões, as possibilidades de propina, são enormes. Em 07 de março de 2017, esse valor, em pronunciamento de Temer, subiu para 45 bilhões.
Estamos hoje sofrendo um ataque que é mais grave e mais profundo que o primeiro, da era FHC. O PSDB também está por trás, basta ver seu papel decisivo par ao impeachment, e o lugar que ocupa no governo Temer. A diferença é que, se na época de FHC, comeu-se a carne, mas agora já são os ossos, ou sejas as leis e a constituição, que estão sendo devorados. Como dizia o ditado colonial, no Brasil escravista, “quem come a carne fica também com os ossos”.
Só uma enérgica reação popular, que coloca-se contra a parede essas legiões de gafanhotos assaltantes, poderia conter a atual saga da pirataria. Seria preciso ocupar as ruas, e, com toda certeza, a reação desses corsários seria a menor possível. Eles estão sob os holofotes, cercados e amedrontados. Embora não sejam as presas preferencias, que são Lula e o PT, a Lava Jato não pôde deixar de respingar sobre eles. E nada há nada que eles temam mais que os holofotes postados sobre seu modus operandi.
A conjuntura não só exige a ação, como é propícia para ela. Infelizmente, como sempre, os dirigentes de esquerda, parecem inteiramente inermes e incapazes de agir. São mestre em esperar para ver, e manter-se ao abrigo do perigo seguindo o dito: “fica na sua senão pode sobrar pra você”.
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