Por Bajonas Teixeira
Todas as pesquisas saídas de institutos com credibilidade dão Lula na frente para 2018. A última pesquisa, do Ibope, comentada na coluna do jornalista José Roberto de Toledo, no Estadão, mostra a convergência de duas tendências massacrantes: o número dos eleitores que dizem que votariam com certeza em Lula, somado aos que poderiam votar, chega a 47%. A rejeição a Lula, por outro lado, caiu 14 pontos. A quem agradecer? Ao Globo, à Veja, à Isto é, à Folha, ao UOL, ao Estadão, etc. Enfim, o milagre está ai, e o nome do santo pode ser dito: é a mídia.
Tudo isso acontece após dois anos de massacre incessante, dia e noite, da mídia contra Lula, contra o seu legado, e contra a sua situação de símbolo das lutas sociais e da democracia brasileira. Como é possível que, com toda a potência dos seus aparatos, a mídia brasileira tenha fracassado de novo?
Pois é. Não é a primeira vez que isso acontece e, se não fosse tão burra, a mídia brasileira teria sido mais prudente ao repetir a dose. Na primeira vez, após explodir o escândalo do mensalão em 2005, e, em especial, em 2006 com Lula concorrendo à reeleição, a mídia cuspiu lavas como um vulcão em atividade incessante. No entanto, o massacre midiático levou o eleitor à conclusão inversa daquela ditada pelas grandes corporações da notícia. Ele concluiu que, se a mídia insistia tanto na culpa de Lula, ele devia ser inocente.
Inconformada e desesperada, quanto mais avançada o ano de 2006, mais a mídia intensificava ao seu samba de uma nota só. Um apanhado do absurdo desse bombardeio, apareceu num relatório do Observatório da Mídia, montado na USP em 2006 para a companha a imprensa durante as eleições daquele ano. Analisamos esses dados na época e descobrimos que, contra Lula, quando comparado a Alckmin, seu adversário mais importante, os números mostravam 1.329% a mais de matérias de cunho negativo. Esses dados foram expostos no Manifesto por uma mídia democrática, que cobrava equilíbrio da mídia brasileira na época.
“A Lula, como candidato, foram dedicadas 388 reportagens, das quais apenas 20,6 % eram positivas, enquanto para Alckmin de 77 matérias, 42 % foram positivas. Logo, percentualmente, Alckmin ganhou da imprensa 100 % a mais de boas referências que Lula. Das matérias negativas, Lula foi o objeto de 226 enquanto Geraldo Alckmin recebeu apenas 17 reportagens negativas. Ou seja, em termos absolutos, tivemos 1.329 % a mais de matérias com referências negativas a Lula. Como Presidente da República Lula teve 31 reportagens negativas e apenas 10 com referências positivas. Com isso, somando a situação de candidato com a de presidente, obtemos 257 matérias negativas, isto é, em termos absolutos na comparação com Alckmin, 1.511 % de referências negativas para Lula.”
Destituída de sutileza, grandeza e o mínimo de isenção, a mídia brasileira traz escrito na testa a parcialidade dos interesses que defende. Está claro que, ao atacar Lula hoje, repetindo sua saga de perseguições, o que ela defende é o fim das leis trabalhistas, a escravização do trabalhador e o fim das aposentadorias. Ou seja, são os interesses dos patrões e dos empresários (e, no Brasil, os donos da mídia, como bem exemplificam os donos da Globo, são os empresários mais afortunados) é que a mídia monopolista defende contra a imensa maioria da população.
Devemos, para tirar as conclusões mais consequentes, agradecer de todo coração à mídia brasileira, sua estultice e canalhice evidentes, sem as quais, dificilmente, Lula, depois de governar por oito anos, e sofrer o desgaste de mais seis anos do governo Dilma, estaria hoje na ponta da língua da maioria dos eleitores. Em breve, em mais duas ou três semanas, Lula deve aparecer nas pesquisas com tanta força que, não é impossível, a mídia passe a atacar as sondagens e, usando o poder que possui, tente proibi-las sob qualquer pretexto, por exemplo, de que representam propaganda eleitoral antecipada.
Nenhuma burrice é descartável quando quem está em ação é a mídia selvagem brasileira. E é bom que seja assim. Só temos a agradecer.