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Ontem, a Primeira Ministra Britânica, Theresa May, anunciou eleições para junho. Teoricamente, ela quer trazer mais legitimidade ao seu governo. Não foi eleita diretamente e tampouco tem um mandato certeiro para levar em frente as negociações do Brexit. Diferentemente de Temer, que se gaba de sua impopularidade, May vê a necessidade de reverter os votos ‘populares’ do referendo em apoio as suas políticas de governo.
Na prática, ela precisa se fortalecer no Parlamento e sabe que este é seu melhor momento, já que os britânicos ainda estão em ‘lua de mel’ com ela, o Partido Trabalhista continua em caos e tudo indica que este seja o melhor período econômico para o País, antes dos problemas que certamente virão com o Brexit.
Apesar das pesadas consequências das políticas sociais implementadas pelos Conservadores (inclusive com a pior crise do Serviço Nacional de Saúde, o NHS), estas eleições indicam ser um segundo referendo sobre o Brexit.
May deve sair fortalecida do pleito, com mais assentos Conservadores e, possivelmente, mais Conservadores pró-Brexit (seu partido está dividido em relação a este tema).
Os Liberal Democrats, que entraram em coalizão com os Conservadores – 2010-2015 – e foram punidos por isso quase desaparecendo do mapa eleitoral, também devem ganhar com as eleições. Os eleitores classe média insatisfeitos com o Brexit, tanto de esquerda como de direita, devem dar seu apoio ao partido, os únicos a se posicionarem claramente a favor da União Europeia.
Na Escócia, minha previsão é que não haverá muita mudança, com os Nacionalistas Escoceses (SNP) mantendo a base eleitoral que ganharam dos Trabalhistas. Talvez percam alguns assentos porque é difícil que consigam melhor desempenho que nas eleições passadas.
Porém, os Conservadores também podem sair favorecidos, já que são os únicos claramente a favor do Brexit e, por primeira vez na Escócia, têm uma líder considerada carismática e eficiente, Ruth Davidson.
O partido Trabalhista é o que mais tem a perder. Está completamente dividido. Além da falta de popularidade de Corbyn entre o eleitorado geral (apesar de ser popular com a base do partido), seus eleitores tradicionais se dividem radicalmente a favor e contra o Brexit. O que dificulta uma posição clara do partido em relação a este tema.
Nas metrópoles, como Londres, o eleitorado é majoritariamente a favor da Europa, e em alguns distritos, é capaz que o partido seja punido pela fraca atuação de Corbyn na defesa da União Europeia votando Lib Dems.
Enquanto isso, a maioria dos eleitores tradicionais de classe trabalhadora dão sinais de votar Conservador ou UKIP (nacionalistas) para assegurar a saída do Reino Unido da União Europeia.
A melhor saída para os Trabalhistas é concentrar o debate nas questões internas, como a educação, saúde, desigualdade e um sistema tributário mais justo.
Com a guinada neoliberal que começou em 1979 com Mrs Thatcher e a chamada ‘terceira via’ de Tony Blair, a lealdade que a classe trabalhadora tinha para com os Trabalhistas se desmantelou.
Apesar da forte retomada da liderança de Labour de questões sociais e da vontade de se re-identificar como partido a favor da classe trabalhadora, a União Europeia continua sendo bode expiatório para tudo que há de errado no Reino Unido. Enquanto que Corbyn é visto como uma figura sem carisma e fraco. Além de vacilar sobre o Brexit, trazendo o desgosto daqueles que se posicionam tanto a favor como contra à saída do Reino Unido da União Europeia.
Tempos sombrios para a esquerda britânica.