Bajonas Teixeira,
O governo Temer acaba de sofrer duas grandes derrotas em menos de 24 horas: o pedido de urgência da votação da reforma trabalhista ontem à noite, e, hoje cedo, a tentativa de começar a votar a reforma da previdência. Embora tenha trabalhado até mesmo no Domingo de Páscoa, e se reunido com seus aliados na segunda-feira, Michel Temer, que se dizia imbatível no Congresso, foi derrotado. São sinais de crise profunda no poder construído pelo golpe.
A estrutura do edifício foi abalada pela combinação dos efeitos da lista de Fachin, do aumento da impopularidade do presidente golpista, da deserção dos deputados e senadores aliados e do medo de novas revelações e escândalos.
A única força que o governo Temer podia exibir (afora o apoio dos empresários que querem destruir a Constituição e liquidar todos os direitos dos trabalhadores) era a capacidade de aprovar suas medidas no Congresso. Ficou evidente que essa força foi perdida quando, ontem, não conseguiu maioria para aprovar a urgência para a reforma trabalhista e, hoje, não teve condições de manter a votação da reforma da previdência, adiada para maio.
Adiar a decisão para maio era o pior pesadelo que Temer poderia enfrentar. E o motivo é muito simples de entender: a vida do governo Temer já não se mede por anos nem por meses, mas por semanas e dias. E, daqui há uma semana, talvez passe ser contada por horas. Primeiro, desertaram Renan e outros gatos pingados. Ontem e hoje, já um bom contingente de deputados fugia do governo como o diabo foge da cruz.
Ontem, com a incrível vulgaridade que caracteriza esse governo, após a derrota, seus líderes falaram em discutir “dr”, ou seja, em retaliar contra os desertores. Hoje, porém, os desertores repetiram a dose sem se deixarem intimidar.
Esperar duas semanas para votar a previdência, e um tempo ainda maior, para dar forma à reforma trabalhista, com a avalanche de lama que desce das gargantas premiadas dos delatores, pode bem ser fatal.
Ontem, bastou meia dúzia de policiais invadir a Câmara para amedrontar toda a base governista. O relator da Previdência, em vertiginosa marcha ré, anunciou a idade mínima de 60 anos para a aposentadoria de policiais, e, meia hora depois, decidiu manter os 55 anos.
Os policiais ganharam cinco anos em meia hora. Como isso foi possível? De forma muito simples: o pânico que há um mês já havia tomado conta de Renan Calheiros, temeroso da repercussão negativa das reformas no Nordeste, e, portanto, do risco dele e de seus apaniguados não serem reeleitos nas próximas eleições, está se espalhando como mancha de óleo no Congresso.
Essa perspectiva sombria longe de ser imaginária, é bem real e está provada pela impopularidade de Temer em todas as pesquisas realizadas recentemente. E, quanto ao aspecto eleitoral, teve sua maior confirmação na última pesquisa para eleições presidenciais, feita pela Pesquisa Instituto Nassau, em Pernambuco, em 23 e 24 de março de 2017. Enquanto Lula tem nada menos que 65% das intenções de voto, Temer e seus aliados do PSDB, ou seja, os cabeças do golpe, descem pelos ralos do esgoto eleitoral:
O futuro é sempre uma incógnita, não há como prever com exatidão num terreno que é muito movediço, como o da política. Já de outra vez, em novembro de 2016, Temer escapou pela ação convergente de diversas tragédias que comoveram ou hipnotizaram o país: a tragédia do time do Chapecó, em novembro; o monstro de Campinas, que assassinou 12 pessoas no fim de dezembro; a rebelião dos presídios por mais de um mês (janeiro e fevereiro), e a morte de Marisa. Esses fatos inusitados salvaram Temer e permitiram que escapulisse das denúncias que já cercavam a alta cúpula do PMDB em meados de outubro.
A dificuldade das previsões em política está em que nela a previsão só funciona quando se une à ação. Se, dadas as condições positivas atuais, a oposição ao governo souber agir, e se nenhum fato muito positivo vier resgatar a credibilidade de Temer, os doze dias que separam a data de hoje da votação da reforma da Previdência em 02 de maio, podem ser fatais para o golpe.