Foto: bella67 , disponível no site Pixabay
Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho
Particularmente, me considero um mineiro raiz. Torço para o Galo, tenho família no interior e a visito sempre que posso (sempre acolhido com muita comida, na casa “de” minha vó), bebo litros de café, amo boteco e pão de queijo e falo uai, sô, trem e “núúú” até em competição de língua erudita.
E como a maioria dos mineiros raiz, eu tenho ojeriza do senador Aécio Neves. Asco mesmo. Quem conhece a história do jornalista Marco Carone, nutre simpatia zero pela família Neves. Sem falar na hipocrisia do ex-governador, capaz de provocar nojo em monge budista,como, por exemplo, atacar a Veja depois de deixá-la bater no PT sem dó (um caso entre centenas).
Mesmo assim, não consigo ficar satisfeito com o pré-julgamento do neto do Tancredo. Claro, a justiça poética do ver “o primeiro a ser comido” se perder no monstro que ele próprio alimentou dá até uma vontade de esboçar o sorriso, mas o contexto no qual isso ocorre é tenebroso.
Isto porque, vivemos a atmosfera onde os fatos do juízo tem bem menos importância que as crenças e opiniões das pessoas. Situação que, carinhosamente, apelidei de pós-julgamento.
Na verdade, o pós-julgamento a brasileira, nada mais é que o fruto da tão badalada pós-verdade (palavra destaque do ano de 2016 segundo a Oxford), quando aplicado na atual conjuntura nacional. Esta prática esteve fortemente presente no Brexit e na eleição de Donald Trump e aqui, infelizmente, é parte essencial da operação Lava-Jato.
Soma-se isso ao fato do Brasil ser um país onde a mídia tradicional e hegemônica é a grande propagadora da pós-verdade (aquela capa da Veja “eles sabiam de tudo” vai para o museu da pós-verdade, podem dar print) e, assim, somada a parcela natural da internet que pratica essa política criamos uma esfera de comunicação movida por esse conceito.
Ou seja, a troca de informações na atualidade, são fortemente ancoradas em apelos, sentimentos e crenças e deixa de lado fatos e objetivos importantes para descrever os acontecimentos com alto teor de verossimilhança.
Soma-se isso ao fato das instituições brasileiras serem verdadeiras nulidades, com pouquíssimo compromisso com seus preceitos básicos (exemplo clássico é Gilmar Mendes do STF que vive opinando fora dos autos) e alto compromisso com a aristocracia que sempre comandou esse país.
Tem-se, assim, instituições que passam de pilares da democracia para ferramentas ditatoriais com a mesma volatilidade que o Lula vira e desvira dono da Friboi. E o pós-julgamento, nesse sentido, cumpre o papel de colocar sobre tortura – jurídica e midiática – quem não cumprir a agenda básica da elite político-econômica do país.
[Antes que venham com o papo de Lava-Jato apartidária para justificar a “não perseguição”, me mostre apenas um juiz que foi pego na operação, “umzinho”. Não tem? Então me mostra um procurador ou policial federal. Não tem também? Você acha mesmo que um esquema de corrupção em larga escalada como descreveu a família Odebrecht não incluiria o judiciário? Nem eu.]
Na realidade, a pós-verdade é velha conhecida aqui em Minas, mas com outro nome: fofoca. Nas cidades do interior então, só Jesus na causa. Todo mundo quer narrar e acompanhar de perto os passos de alguém e, muitas vezes, a notícias sobre a vida alheia tem muito mais importância do que a vida em si.
E é nisso que o Brasil se tornou: um grande país pequeno onde a República é guiada na base das fofocas e das crenças, muitas vezes sem amparo algum com a verdade factual.
Bem vindos a era do pós-julgamento.
Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense