Por Wellington Calasans, Colunista do Cafezinho, na Suécia
Se a elite brasileira, que comanda o judiciário, esperava iludir o povo ao vender o peixe podre de que a Operação Lava Jato, anunciada como uma ação de combate à corrupção no Brasil, seria capaz de destruir a política e o Estado, errou a mão na dose da aposta. O produto entregue é um balde de gelo na ideia de virgindade do setor privado.
Depois da proteção dos tucanos, do assalto ao poder por uma quadrilha (segundo os próprios vazamentos), da perseguição a Lula por conta de triplex e sítio que sequer são dele, da destruição da indústria nacional, da entrega do patrimônio brasileiro e de tantas irregularidades, a Lava Jato era obrigada a oferecer algo positivo. E este “algo” é a certeza de que a iniciativa privada é a fonte da corrupção no Brasil.
A compra de políticos, a impunidade, e até perdão, nos casos de sonegação de impostos, as vantagens com arranjos constitucionais e a proteção assegurada por um judiciário corrompido são as mais importantes provas dadas, pelos irregulares e seletivos vazamentos, de que o cidadão é enganado por uma elite canalha que faz das eleições apenas um meio de legitimar os crimes que pratica.
O estrago que a Lava Jato fez para o Brasil e para os brasileiros vai demorar décadas para ser recuperado. Uma operação nascida com a “mão invisível” de agentes internacionais não será desfeita do dia para a noite. É muito mais fácil destruir do que construir ou reconstruir. Há que zelar disso tudo a única semente boa desta nefasta operação: o Estado forte é muito melhor para o país e para o seu povo.
Aqui na Suécia, por exemplo, o Estado controla praticamente tudo. Até mesmo a venda de bebidas e remédios é estatal, pois é vista como assunto estratégico da saúde pública. Os agentes públicos são controlados de diferentes maneiras, mas sobretudo pela Lei da Transparência que permite a qualquer cidadão saber o que está a ser feito por eles, inclusive acesso aos e-mails.
No caso da Operação Lava Jato, os atos de corrupão que envolvem políticos e agentes públicos são graves e todos devem ser investigados, julgados e punidos. No entanto, ignorar que o ciclo de corrupção é composto de corruptor, corrompido e produto da corrupção (com as devidas provas) é tentar enganar o povo com a lorota de que apenas o setor público é corrupto.
A recente lista divulgada de Fachin e as delações (vazadas ilegalmente e impunimente) da Odebrecht, por exemplo, são provas incontestáveis de que o poder econômico tem sido usado pelos grandes empresários para o enriquecimento através do Estado que eles tanto condenam.
Além de tudo isso, nunca é demais dizer que se a corrupção do judiciário não esteve em destaque nessas listas e vazamentos, temos também motivos de sobra para acreditar que a falácia do “combate à corrupção” só é bonita para falar do vizinho. O setor privado não ousaria tanto nas últimas décadas se o judiciário não fosse parte dessa vergonha, ainda que na condição de corrompido.
Diante de tudo o que é apresentado, ao povo resta apenas a luta pelos seus direitos. Não há como aceitar passivamente que tão poucos tenham tanto e tantos tenham tão pouco. O Brasil que todos queremos só será possível com a intervenção do povo e a exigência de um padrão ético que sirva para todos. Não há mais espaço para novos heróis.