Por Tadeu Porto*, colunista do Cafezinho
É incrível como a mídia brasileira é entreguista e, sobretudo, canalha (me desculpem a palavra).
A Shell, que comprou a BG de olho no Pré-Sal e fez lobby pesado para tirar a Petrobrás como operadora única, está envolvida até o pescoço em um escândalo de corrupção na Nigéria.
Essa mesma Shell que proibiu que sindicalistas e petroleiros – inclusive meu companheiro de Cafezinho Cláudio Oliveira – realizassem uma exposição na PetroUfes, tentado calar as vozes que contrapõe a política entreguista que tanto favorece a petroleira anglo-holandesa.
A BBC internacional soltou uma matéria completa, há dois dias, sobre o caso. Em resumo a mídia inglesa diz que “viu evidências que gerentes do alto escalão sabiam que o dinheiro pago para o governo Nigeriano por um grande campo de óleo passou por uma pessoa condenada por lavagem de dinheiro”.
E como fica a mídia nacional nisso tudo? Caladinha. Não dá uma linha sequer sobre esse assunto que é de interesse nacional.
Reparem que a matéria é riquíssima em detalhes, e, portanto, não pára por aí. em certo momento o jornalista Simon Jack destaca que a Shell estava preparada para ir “longe” e “colocar as mãos num mega bloco de petróleo no país africano (OPL 245, que tem estimativa de 9 bilhões de barris de petróleo e vale meio trilhão de dóllares).
Vejam bem: quão longe a Shell iria.
Será que ela apoiaria (e bancaria?) um Golpe de Estado para colocar as mãos em mega campos de petróleo? Vale lembrar que uma das primeiras medidas do governo usurpador e golpista do Michel Temer – chamado carinhosamente de Mishell – foi aprovar o projeto de lei que tira a Petrobrás como operadora única do Pré-Sal. Tanto esse fato, quanto a destruição da política de conteúdo local foram elogiadas pela Shell.
É incrível como a destruição da imagem da Petrobrás, um orgulho nacional desde Getúlio, é feita sorrateiramente pela imprensa brasileira (quem nunca viu aquele tubulão de óleo/gás jorrando dinheiro), enquanto a Shell é presenteada com toda invisibilidade possível.
Mais incrível ainda é ver a mídia ignorar um assunto de tanto interesse nacional, no qual uma companhia estrangeira participa de casos escusos em outros países e poderia reproduzir o mesmo modus operandi no Brasil. Chama ainda mais atenção, pois essa negação à verdade factual é muito semelhante ao descaso apresentado pela imprensa no escândalo abordado pelo Wikileaks que mostrou um Lobby gigante das estrangeiras para barrar a lei da partilha.
Finalizo aqui, com a excelente entrevista do Pedro Celestino, do Clube de Engenharia, ao Brasil 247: “querem trocar o modelo Norueguês pelo Nigeriano”. Na mosca! Quem sabe assim, a Shell consegue fazer no Brasil o que fez na Nigéria: abusar das reservas naturais do país sem deixar um rastro de melhoria para a população local.
*Tadeu Porto é diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense