Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho.
Os advogados de Cunha estão perplexos com a velocidade com que Sérgio Moro o condenou a 15 anos. Não é comum a justiça brasileira ser multada por excesso de velocidade. E nem seria uma sina de Cunha ser julgado de forma veloz. Tanto é assim que, enquanto ele agia como presidente da Câmara, o STF levou uma eternidade para decidir o seu afastamento, tempo que ele usou para aprovar o impeachment de Dilma. Então, não é engraçado que, num momento, a Justiça seja tão morosa com Cunha e, em outro, tão veloz?
O que está acontecendo? Não devemos esquecer que, há duas semanas, em entrevista ao jornalista Ricardo Boechat, no dia em que a Lava Jato completava três anos, Dallagnol disse que até o meio do ano sairia a primeira sentença contra Lula.
Ora, um dos princípios do método de Moro é usar a popularidade em seu favor e, como arma, contra seus alvos. E o grande alvo é Lula. E há uma boa notícia internacional para as intenções de Moro: a recém-destituída ex-presidente da Coréia do Sul foi presa na madrugada de ontem, 30.
Mas há também notícias ruins. Acontece que o fracasso das manifestações desse domingo, 26, rendeu uma anotação no livro de registro da história: a popularidade de Moro e o fascínio da Lava Jato estão regredindo. Qual a intensidade dessa maré vazante? Se continuar assim, daqui a dois meses, digamos, Sérgio Moro terá ainda algum cacife para condenar Lula?
E se agora, logo após sentenciar Cunha, e se aproveitando do gás recebido com esse trunfo, ele divulgar a sentença condenatória de Lula? Qual será o efeito dessa proeza para restituir sua popularidade junto ao público de classe média?
Muito provavelmente, não teria o efeito esperado. A classe média nutria um ódio canibal por Lula quando estava sob o feitiço da mídia golpista. Mas, nesse momento, ela vive uma amarga decepção e não serão fatos puramente políticos que a irão tirar desse torpor. Não é o sangue de Lula que a classe média quer beber hoje, mas o de Temer.
E Moro, ao assinar a sentença de Eduardo Cunha, assinou a alforria de Temer, livrando-o indiretamente das incômodas denúncias que, através de suas perguntas, o ex-presidente da Câmara dirigiu ao ex-amigo dileto.
Moro, como todo ídolo que sente os primeiros sinais de enfado do seu público, fará tudo para recuperar a velha fascinação. Mas, dentro do sistema que é o seu mundo encantado de masmorras, conduções coercitivas, violações de sigilos, divulgação de conversas privadas indevidamente gravadas, e outras práticas do gênero, que recursos ele dispõe para virar o jogo?
De um, ele acaba de lançar mão, o de condenar Cunha. Que outro recurso teria na manga? Na perspectiva em que ele se põe, a equação cuja incógnita é a recuperação de sua influência sobre seu público, só teria uma resposta: a condenação de Lula.
Mas é um erro. A realidade nesse momento já não se arma com as peças do quebra-cabeça que estava na ordem do dia, para as forças anti-petistas, até há alguns meses atrás. Desde que a classe média desertou do esquema, a partir do momento em que ela descobriu a trapaça, o jogo se arma de outro modo. Temer já não é a solução, ele é o grande problema. E se Moro condena Cunha e defende Temer, mais cedo do que se espera, a classe média vai sentencia-lo ao degredo sem perdão.
E estará ele muito enganado se, para salvar a pele da sua popularidade, quiser entregar à classe média o escalpo de Lula. Muita gente pode não acreditar mas, se a reforma da previdência vencer, o bandido Lula se tornará um mártir para a classe média, e seu escalpo será venerado como um santo sudário. Moro escreverá sua própria sentença se escolher profanar um escalpo quando ele começa a valer como uma relíquia sacra.
Sim, os tempos de Lula logo serão lembrados pela classe média como os tempos da bonança, o Éden, o Shangri-la, a terra sem mal, onde abundavam os bens terrestres, e até aposentadoria era franqueada aos simples mortais.
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