FHC chancela regime de exceção

Não é nada surpreendente.

A Lava Jato é organicamente tucana. Seus delegados defenderam em redes sociais, nas eleições de 2014, o voto em Aécio Neves, e toda a narrativa da operação, isso já está bem claro, foi construída em linha com a agenda do impeachment.

É claro que FHC é a favor da operação Lava Jato!

As últimas declarações de membros da operação deixaram bem claro: não investigaremos tucanos. E o próprio comportamento de Sergio Moro, o qual, diante do ex-presidente FHC, portou-se com quem está diante do último imperador, somado àquela alegre tertúlia da premiação da Istoé, em que Moro e Aécio foram posicionados lado a lado e passaram o tempo inteiro rindo, são elementos que não deixam dúvidas. A Lava Jato é 100% tucana.

Em 2016, a dobradinha da Lava Jato com a grande mídia permitiu ao PSDB obter uma grande vitória eleitoral.

A Lava Jato, porém, mente descaradamente quando tenta se livrar da pecha de partidária, argumentando que parlamentares de outros partidos também foram presos.

Toda a narrativa foi concentrada no PT, em seu tesoureiros, marketeiros, em seus ministros mais notórios, na perseguição a Lula. Os outros dois partidos atingidos, PMDB e PP, ganharam mais poder político e avançaram nas eleições. O único prejudicado foi o PT.

O outro argumento, de que o PT foi perseguido porque era “governo” apenas reforça o partidarismo da operação, porque ela fez uma série de ilações puramente políticas. É claro que a corrupção acontece no âmbito dos governos, mas daí a responsabilizar ministros e chefes de partido, com base apenas em delações forjadas, vai uma distância muito grande.

FHC apela para o mais vulgar populismo penal, que a própria Globo tem usado com incrível cinismo, dizendo que, pela primeira vez, “poderosos” estão sendo presos. Ora, a característica mais marcante de qualquer regime de exceção não é justamente essa: de usar implacavelmente o poder judicial para perseguir seus inimigos políticos?

FHC comprou sua emenda pela reeleição. Não pode haver escândalo mais podre do que esse. E nunca lhe aconteceu nada. Os “poderosos” que estão sendo perseguidos agora são os inimigos políticos da vez.

E se estão sendo presos é justamente porque não são mais tão poderosos assim. O poder político, nesses anos de Lava Jato, migrou rapidamente para o judiciário e mídia, que descobriram uma fórmula mágica: o juiz prende cautelarmente, mesmo sem provas, a mídia faz campanha de destruição de imagem, o juiz vai atrás de qualquer factoide contra o sujeito (depois da prisão), quebra seus sigilos, vaza seletivamente à mídia. Pronto, a opinião pública e os tribunais superiores terão que engolir a condenação em primeira instância, validar na segunda e negar qualquer habeas corpus.

Todos os grandes juristas brasileiros têm feito duras acusações à Lava Jato.

É muito estranho, além disso, que FHC trate a Lava Jato como “instituição de Estado”, como se ela fosse uma coisa à parte e acima de todos os outros poderes da república.

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No Jornal GGN

FHC sai em defesa da Lava Jato: “errado quem pensa que favorece partido”
QUA, 29/03/2017 – 12:38
ATUALIZADO EM 29/03/2017 – 12:50

Jornal GGN – O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu em defesa da Operação Lava Jato, em vídeo publicado nas redes sociais. O tucano disse que há uma singularidade nas investigações, ao “ver gente poderosa sendo julgada”.

“Quem imaginar que lava Jato é para perseguir alguém, para favorecer partido, está errado. É para fazer com que a Justiça se cumpra no Brasil”, disse FHC, em discurso complatamente contraditório com o último depoimento prestado em ação do juiz da Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na ocasião, em audiência junto ao magistrado do Paraná, FHC apesar de não criticar diretamente a Lava Jato, mostrou que as acusações contra Lula eram inconcebíveis, desmentiu que manter o acervo presidencial seria ilegal.

“Um problema imenso. Como o acervo é de interesse público, você (qualquer ex-presidente) apela para doadores, porque você é obrigado a manter a coleção de objetos, mas não tem recurso para manter”, havia dito o ex-presidente tucano em depoimento que desmontou uma das teses de acusação contra Lula.

Agora, entretanto, FHC sai na ofensiva a favor dos investigadores da Lava Jato. Disse que os procuradores da República e delegados da Polícia Federal têm feito “um trabalho excepcional”. “Muita gente tem me perguntado o que eu penso da Lava Jato, qual é a minha posição. Para começar, a Lava Jato é um órgão de Estado, funcionando e tem feito 1 trabalho excepcional. Tem feito busca dos erros, quem errou aqui, e quem errou ali”, disse.

Defendeu, ainda, que as críticas contra as investigações ocorrem porque “não estávamos acostumados a ver gente poderosa sendo julgada” e que “temos que prestigiar as instituições”, entre elas a Operação Lava Jato, “para funcionarem plenamente, com liberdade, com democracia”.

Afirmou, também, que “se houver” exageros, eles precisam ser contidos, mas que há sim espaço na própria justiça, por um canal legal, para resolver esses problemas, por meio de recursos. “Acho que estamos vivendo um momento novo no Brasil e muito importante”, concluiu.

Abaixo, o vídeo completo.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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