Por André Tokarski, no Vermelho*
“A toda hora rola uma história
que é preciso estar atento
A todo instante rola um movimento
que muda o rumo dos ventos
Quem sabe remar não estranha
vem chegando a luz de um novo dia
O jeito é criar um outro samba
sem rasgar a velha fantasia”
(Paulinho da Viola – Rumo dos ventos)
O mês de março vai chegando ao fim e com ele a marca de uma virada importante na renhida luta política em curso no país: mudou quantitativa e qualitativamente a correlação de forças nas ruas.
Desde a consumação do golpe os movimentos de rua convocados pela direita têm perdido força. O fracasso retumbante das manifestações convocadas por MBL, Vem pra rua, et caverna, para o domingo que passou (26), pode ser a última pá de cal para enterrar de vez a excrecência de se ver reunir milhares de pessoas carregando cartazes e bandeiras reacionárias, contra a democracia e os direitos sociais.
O consórcio golpista (Globo/MPF/PSDB/PMDB, etc) foi hábil em capturar os movimentos de massa que emergiram depois de junho de 2013 e conduzi-los a um apoio cego ao impeachment fraudulento, ao linchamento público de Lula e Dilma e de lideranças e partidos de esquerda, e aos abusos e ilegalidades cometidos reiteradas vezes na chamada operação Lava-jato. Não significa dizer que estes movimentos perderam em absoluto sua relevância política e eleitoral, mas em afirmar que os mesmos não reúnem mais condições objetivas de convocar e liderar expressivas manifestações de rua. Não se trata de exercício de adivinhação, mas sim da constatação objetiva de que os problemas reais enfrentados pelo povo brasileiro é que deverão ocupar a cena política das mobilizações de rua no próximo período.
Há poucos dias o juiz Sergio Moro gravou um vídeo no Facebook para comemorar os três anos da operação (sic) Lava-jato. Aproveitou para agradecer o apoio que tem recebido da população. O juiz não teceu nenhum comentário sobre os mais de 300 mil trabalhadores das empresas de engenharia investigadas pela Lava-jato que foram demitidos desde o início da operação. Tampouco falou dos 440 mil trabalhadores do setor de óleo e gás e da indústria naval, que também perderam o emprego nesse período. São mais de 3 milhões de demissões só durante a atual recessão, totalizando mais de 13 milhões de desempregados hoje no país .
Em dezembro de 2014 a taxa de desemprego medida pelo IBGE atingiu a menor marca de toda a série, chegando a 4,3% da População Economicamente Ativa (PEA). Saltou para 6,9% ao final de 2015 e quase que dobrou ao final de 2016, chegando 12% da PEA. Não é coincidência que nesse intervalo de três anos da Lava-jato (a 1ª fase da operação foi deflagrada no dia 17/3/2014) o número de desempregados tenha partido da menor mínima histórica (4,3% em dezembro de 2014) para atingir a maior alta (12% em dezembro de 2016). Todos os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio, do IBGE.
A unidade é a bandeira da esperança: ampliar a mobilização política do povo para impedir os retrocessos e defender a democracia, todos na construção da Greve Geral!
Ao mesmo passo, a resistência ao desmonte nacional, às restrições democráticas e à retirada de direitos é crescente e se fortalece. As mulheres protagonizaram no 8 de março grandes manifestações unitárias contra a reforma da previdência e pelo Fora Temer. As gigantescas paralisações no dia 15 de março levaram mais de um milhão de pessoas às ruas em todo o país e o dia 31/3 (sexta) promete ser um grande esquenta da Greve Geral. Um fator decisivo para o êxito dessa jornada, e para consolidar essa virada na correlação de forças das ruas, será a unidade de ação política na luta contra a Reforma da Previdência, a Reforma Trabalhista e a Terceirização. São peças-chave nesse processo o Fórum das Centrais Sindicais, a Frente Brasil Popular e a Povo Sem Medo. A luta contra o fim da aposentadoria pode unir amplos setores da sociedade. OAB e CNBB já se pronunciaram contra a reforma da previdência de Temer.
Os presidentes das nove Centrais Sindicais assinaram na tarde desta segunda (27) uma carta convocando os/as trabalhadores/as para paralisar todas as atividades no dia 28 de abril, em um forte rechaço e alerta ao governo e ao Congresso Nacional de que o povo e a classe trabalhadora não aceitarão as propostas de reformas da Previdência, Trabalhista e o projeto de Terceirização aprovado pela Câmara.
Ao lado da construção das mobilizações e da Greve Geral contra a Reforma da Previdência, a esquerda política e social deve se empenhar na construção de uma plataforma comum para tirar o Brasil da crise econômica e restaurar o Estado Democrático de Direito. Aqui traduz-se o esforço central do que o PCdoB tem caracterizado como Frente Ampla. Envolve, em primeiro lugar, a formulação de novos rumos para tirar o país da crise. É preciso renovar a esperança entre o povo brasileiro, mostrar que o país tem jeito, apresentando propostas concretas para a retomada da geração de empregos, a defesa dos direitos do trabalho e da previdência, a defesa do SUS e da educação pública, da segurança, etc… Por outro lado é imperioso a defesa e o restabelecimento do Estado Democrático, o fim das arbitrariedades da Lava-Jato, a garantia da realização de eleições livres e diretas para presidente, o direito de Lula se candidatar nas próximas eleições e a busca de um novo pacto entre trabalhadores com setores produtivos do país.
*André Pereira R. Tokarski foi presidente nacional da UJS (2010/2014), é mestre em direito político e econômico e Secretário de Juventude e de Movimentos Sociais do PCdoB.