Por Wellington Calasans, Colunista do Cafezinho, na Suécia
Enquanto o governo, visto até por ele mesmo como ilegítimo, acelera a agenda reprovada seguidas vezes nas urnas, o povo dá sinais cada vez mais fortes de repúdio ao desmonte do estado social. O tempo é cruel contra o Brasil e os brasileiros. Cada dia que passa é, literalmente, um dia a menos. Preocupada, a sociedade agora luta contra o pior porque sabe que “o tempo não para”.
“Reação, já!” é o único grito que importa e são muitos os motivos para crermos que invertemos o jogo. A narrativa que prevalece, fator tão importante na guerra de propaganda, é a da revolta contra medidas que resgatam a escravidão e lançam à própria sorte os trabalhadores, verdadeiros motores da economia nacional.
A falta de adesão aos movimentos sem sentindo do MBL e assemelhados, por exemplo, representa uma dura resposta de uma camada da sociedade que se viu enganada e traída pela falácia do combate à corrupção. Há vídeos surpreendentes de pessoas que até recentemente estavam do “lado de lá” e que agora revelam preocupação com a perda dos direitos sociais e do trabalhador.
Movimentos Sociais, Partidos Progressistas, Centrais Sindicais e outras frentes de resistência são agora vistas como a bússola. A maioria quer gritar contra a pauta do retrocesso. O povo demorou a perceber o que realmente ocorreu. Atônito, foi visto até como omisso por alguns setores mais esclarecidos. Era difícil lutar contra a palavra dos “especialistas” que mentiam diariamente na TV, rádio, internet, jornais e revistas. A promessa da Globo e dos seus tentáculos era de um Brasil perfeito após a queda de Dilma.
Se é verdade que a lentidão para iniciar os protestos parecia um atestado de que a sociedade estava disposta a ignorar o fato de que o terror do golpe é ininterrupto, também é verdade que o crescente desejo de barrar o (des)governo Temer começa a preocupar alguns políticos que fizeram parte da tramóia que violentou a Constituição. Temer derrete e por isso quer acelerar o próprio relógio.
A grande contradição das frentes de oposição residia em trabalhar como se houvesse normalidade das instituições e ao mesmo tempo denunciar o golpe. Agora, com a adesão popular cada vez maior, está claro que golpe é golpe! Todos sabem quem é quem neste circo dos horrores. Está claro para a maioria que a agenda do golpe é um desequilíbrio de classes. É a farra do 1%.
O repúdio ao golpe também começa a ser ininterrupto. O mês de março foi decisivo para consolidar o desejo, cada vez maior, que a sociedade tem de impedir o avanço da agenda neoliberal. Os cidadãos, sobretudo as mulheres e os jovens, que mais sofrem as consequências do golpe, engrossm o coro das ruas na luta contra o desmonte do Brasil e do estado social.
As pessoas que não acompanham muito a política começam a perceber mais facilmente os danos ao Brasil e ao seu povo a cada votação ou a cada “canetada” de um presidente fraco e visivelmente manobrado pelos patrocinadores do assassinato da Constituição. Por isso, crescem os movimentos de resistência.
As convocações feitas para manifestações contra o (des)governo Temer ganham mais e mais apoio do povo. Nas redes sociais e no debate em torno da necessidade de impedir o avanço do golpe há um sentimento comum de que é a hora de ocupar as ruas para evitar o pior. Tudo isso sem o apoio da velha imprensa.
A turma do golpe agora é vista como realmente é. Pessoas que até recentemente apoiavam o impeachment de Dilma Rousseff perceberam que foram enganadas por uma propaganda falsa. Agora todos sabem que eram os corruptos que gritavam contra a corrupção e que aquele era o único caminho para chegarem ao poder e não serem apanhados.
O relógio é o mesmo para todos, mas as motivações são diferentes. A hora é de luta, pois o que está em risco são os direitos trabalhistas, previdenciários e o estado social como um todo. O povo está disposto a reagir. Manifestações e Greve Geral são as armas escolhidas e vistas como as mais eficientes contra a máquina de moer direitos que foi ligada no pós-golpe. O povo “faz a hora, não espera acontecer”.