(Av. Paulista nas últimas manifestações da esquerda e da direita)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
“Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.
Esta frase é de Magalhães Pinto, político mineiro que apoiou o golpe de 1964. Apesar de ter se tornado um clichê na política nacional – e de ter sido cunhada por um golpista -, os últimos acontecimentos políticos atestam a sua veracidade.
Depois de realizar fortes manifestações de rua, derrubar a presidenta eleita e passar a ter controle total sobre o executivo e o legislativo (mídia e judiciário são os redutos da direita por excelência – não por acaso, os poderes não sujeitos ao voto popular), estava difícil vislumbrar qualquer empecilho, ao menos no curto prazo, à hegemonia conservadora no Brasil.
Pois o dia 15 de março, quando trabalhadores de diversas categorias pararam e fizeram grandes atos contra a reforma da previdência por todo o Brasil, parece ter sido um ponto de inflexão.
A forte adesão aos atos e o apoio da população à pauta do combate à reforma da previdência surpreendeu a todos, inclusive à própria esquerda.
A resposta do governo Temer foi a aprovação, na Câmara, do projeto que libera a terceirização para todas as atividades de uma empresa. O objetivo foi também testar a força da base do governo para a votação da reforma da previdência.
Parece ter sido um glorioso (duplo) tiro no pé.
O governo mostrou fraqueza ao alcançar apenas 231 votos na votação, 77 votos aquém do necessário para aprovar uma emenda à constituição, como terá que fazer na questão da previdência.
Além disso, irritou ainda mais os trabalhadores. 31 de março, próxima sexta, será mais um dia de atos contra os ataques do governo Temer. A data é uma preparação para o dia 28 de abril, quando haverá um novo dia de paralisação nacional, conforme decidido hoje em reunião das centrais sindicais.
A insana reforma da previdência de Temer é como uma injeção de adrenalina que vai tirando a população do torpor no qual está imersa por obra da grande mídia.
Os congressistas sofrem pressão das suas bases. As centrais sindicais sofrem pressão das bases dos sindicatos para que seja convocada uma greve geral.
O retumbante fracasso das manifestações convocadas por MBL, Vem Pra Rua e congêneres, ontem, é mais um indício de que os ventos da política brasileira estão mudando de direção.
Guilherme Boulos explicou, na última sexta-feira, em palestra realizada no 8º congresso do sindicato dos servidores do judiciário federal de São Paulo (Sintrajud), por que é possível derrotar a reforma da previdência no Congresso.
Michel Temer não tem perspectiva alguma de concorrer na eleição de 2018. Por isso mesmo não tem nenhum freio na hora de aplicar a sua agenda de ataques às trabalhadoras e trabalhadores.
Os deputados, ao contrário, têm sempre a próxima eleição no horizonte. Quanto mais atrasado o cronograma (a votação já foi adiada do fim de março para o fim de abril), mais complicado fica para o governo convencê-los a aprovar algo tão profundamente impopular como a reforma.
A conjuntura nunca esteve tão desfavorável para o consórcio golpista.