Sergio Moro não é Julio Cesar!

(A estátua na imagem acima, esculpida por Nicolas Coustou em 1696 e hoje exposta no Museu do Louvre, não é de Sergio Moro. A foto é de Marie-Lan Nguyen. Fonte: WikiCommons)

 

Moro não é César
É figurante liliputano da pior novela da Globo

(pequeno desagravo a um grande combatente pela liberdade de expressão)

Por Mefistófeles de Albuquerque*, exclusivo para o Cafezinho

No calor da hora, Luís Nassif produziu uma notável análise da escandalosa condução coercitiva do blogueiro Eduardo Guimarães na madrugada de terça-feira (http://jornalggn.com.br/noticia/com-o-caso-eduardo-guimaraes-moro-atravessa-o-rubicao), oferecendo à reflexão dos seus leitores algumas das peças desse xadrez de um “magistrado de piso” (Eugênio de Aragão). É uma dessas análises, nas quais o jornalismo se transcende e se confunde com a Ciência Política, a Sociologia e a historiografia.

De grande efeito retórico, a idéia expressa por Luís Nassif no título (“Com o caso Eduardo Guimarães Moro atravessa o Rubicão”) é corretíssima: Moro ultrapassou o que em inglês se denomina “point of no return”. Discordo apenas da imagem.

Fosse ela pertinente, Moro seria a versão contemporânea e brasileira de Júlio César, embora gestado e aleitado na plácida Maringá. Mas Moro não é César, por mais que se esforce em emular Benito Mussolini com seus trajes negros, poses aquilinas e esgares de “duce”, transmitidas urbi et orbi pelo PIG.

O fascinante, controvertido e enigmático César – refiro-me aos sete primeiros livros dos Commentarii de bello Gallico – escreveu em latim de enganosa simplicidade e sofisticação, que durante séculos foi considerado equivocadamente leitura ideal para os principiantes do estudo da língua latina, quando na verdade representa um ápice de sobriedade e laconismo (vocabulário de aprox. 2600 palavras apenas, das quais cerca de 800 são usadas apenas uma e cerca de 600 apenas duas ou três vezes).

Sérgio Moro, que não é fascinante, nem controvertido e muito menos enigmático, não consegue expressar-se com cesariana propriedade nem em português. Apenas um exemplo:

“Diante do sorteio do eminente Ministro Edson Fachin como Relator dos processos no Supremo Tribunal Federal da assim chamada Operação Lava Jato e diante de solicitações da imprensa para manifestação, tomo a liberdade, diante do contexto e com humildade, de expressar que o Ministro Edson Fachin é um jurista de elevada qualidade e, como magistrado, tem se destacado por sua atuação eficiente e independente. Curitiba, 02 de fevereiro de 2017. Sérgio Fernando Moro, Juiz Federal.”

Eugênio de Aragão, o último Ministro da Justiça que o Brasil teve, dedicou-lhe em 04 de fevereiro de 2017 (https://www.conversaafiada.com.br/brasil/moro-sabujo-e-nao-tem-nada-de-humilde) uma análise demolidora e caracterizou a impertinente nota cometida por Moro como “chocante pelo estilo burocrático e canhestro, indigno de um magistrado e surpreendente num professor com doutorado”. Talvez ela imortalize um dia seu autor em uma necessária antologia negativa para uso em escolas de 2º grau, que conteria apenas textos malconcebidos e malredigidos, exemplos de como não se deve pensar e escrever.

Sérgio Moro tampouco é cesariano na voz. Não é casualidade que ele pouco ou nada apareça nos registros filmados das audiências por ele conduzidas em Curitiba. Esganiçada e amorfa, sua voz não inspira a confiança que um magistrado deveria transmitir aos jurisdicionados, advogados, membros do Ministério Público e à sociedade.

Quanto ao amesquinhamento nada cesariano, que deveria envergonhar todos os membros do Judiciário brasileiro, dos juízes de primeira instância aos ministros do STF, remeto o leitor, apenas exemplificativamente, ao texto de Luís Nassif, à pronta e cortante intervenção de Paulo Henrique Amorim em TV Afiada e às contundentes reações do deputado e advogado Wahdi Damous, que qualifica Moro como “juiz fora da lei” (https://www.facebook.com/pg/wadihdamous/videos/) e associa-o ao militar torturador Brilhante Ustra (https://www.conversaafiada.com.br/brasil/damous-moro-guarda-tracos-de-um-brilhante-ustra). Houve uma avalanche de reações negativas. Outras virão.

Galináceos, sobretudo do tipo caipira, não voam. Nunca serão águias. Nunca serão admitidos ao Panteão dos Césares.

Moro é um ator medíocre e provinciano, a caricata imagem que os ignorantes moradores da casa grande e os pequeno-burgueses igualmente ignorantes e ensandecidos fazem de um César. Atua na novela mais brega já exibida pela Globo. No fundo não passa de um figurante de peregrina importância. Será descartado quando não tiver mais serventia.

A nós, habitantes do “reino dos imbecis” diagnosticado por Luís Nassif em 18 de março (http://jornalggn.com.br/noticia/a-carne-fraca-e-o-reino-dos-imbecis), impõe-se mais uma vez a seguinte pergunta:

Que fazer?

O mais apropriado seria brindar o canastrão com uma vaia homérica, um formidando escracho, audível do Oiapoque ao Chuí, e remetê-lo de volta a Maringá, que ouviu seus primeiros zurros, ou despachá-lo para os EUA, conforme sugeriu Fábio de Oliveira Ribeiro em “Eduardo Guimarães levará a jato o bebê de Rosemary para os EUA?” (http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/edu-guimaraes-levara-a-jato-o-moro-para-os-eua-por-fabio-o-ribeiro)

E depois?

Bem, depois vamos correr atrás do prejuízo causado pelo desgoverno golpista – agora já não um “desastre ferroviário” (Mino Carta), mas uma sucessão de desastres, com outros em curso, anunciados e previsíveis ou não. A criatividade dos idiotas supera o que o “realismo mágico” na literatura latino-americana poderia narrar. É inenarrável.

Vamos remover os escombros e reconstruir o país.

* Um internauta bem informado, curioso e indignado.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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