(Foto: Reprodução/TV Globo) Por Bajonas Teixeira, colunista de política do Cafezinho
A Avenida Paulista está congestionada de caminhões, são nada menos que seis trios elétricos gigantescos (o que mostra que os grupos estão muito bem financiados). Curiosamente, contudo, faltam manifestantes para preencher o vazio na frente do MASP, como revela a foto postada pela Globo agora há pouco. Como publicamos pela manhã aqui no Cafezinho, os números do Facebook apontavam um grande desastre para o MBL e o VEM PRA RUA nos protestos de hoje. As primeiras coberturas confirmaram essa análise.
O UOL publicou mais cedo reportagem com o título: Em protesto com baixa adesão, manifestantes defendem Lava Jato e criticam Congresso.
A Folha de São Paulo fala em “baixa adesão” mas isso é puro eufemismo. Na verdade, se trata de uma completa deserção da classe média dos seus “movimentos” de direita. É a mesma conclusão que se tira dos dados expostos pela Globo na reportagem Cidades pelo país têm manifestações a favor da Lava Jato neste domingo. A arrogância da direita recebeu um duro golpe e, daqui para frente, terá que andar com a crista muito baixa.
E isso terá grandes consequências, é óbvio, para a Lava Jato. A começar pela retomada no Congresso da lei de abuso de autoridade. Dificilmente, embora venha desconversando, Eunício Oliveira (PMDB-CE) deixará de votar a lei no Senado, nesse momento de enfraquecimento da Lava Jato e de indiferença da classe média pelo combate à corrupção.
O que explica o desinteresse da classe média ao chamamento dos seus movimentos de direita? O motivo principal é o mais óbvio possível: a classe média, que tantas vezes correu iludida para as ruas, vestindo a camisa amarela da CBF e portando o patinho de borracha da FIESP, acordou do sonho dentro de um pesadelo. Parte significativa da classe média é formada por funcionários públicos e eles estão sob a ameaça de perdas de todo tipo: o congelamento dos salários para atender ao ajuste fiscal, o fim da aposentadoria, a perda de garantias trabalhistas. Outra parte significativa desse grupo, é a de profissionais liberais, pequenos empresários e negociantes, igualmente triturados pela crise. Enfim, são muitas pauladas na cabeça.
Em troca do combate fictício, ou, no máximo, pontual e seletivo, à corrupção, as massas da classe média descobrem que serão tratadas como cães danados. Ou seja, à pauladas.
Serviram de recheio, de massa de manobra, formaram as legiões de zumbis amarelos que gritavam vivas à PM e aos militares, e pediam o fim do governo Dilma. Mas, mal acabaram as tomadas abertas, em que era preciso uma multidão de figurantes (tão idiotas que até compraram a indumentária e bancavam o deslocamento para as locações), a deslumbrada classe média foi posta entre os alvos a serem liquidados.
Ela já pode se preparar para se tornar uma “nova classe média”. Aquela classe média que, no projeto de Lula, cabia aos pobres periféricos (mas para eles tornar-se “nova classe média” era ascensão social), é o que Temer projeta para o futuro da classe média atual, ou seja, poderão comprar seu eletrodomésticos no Magazine Luiza e pagar o plano do smartphone. Não muito mais que isso.
Ela já deve ter começa a sentir uma imensa saudade dos anos de Lula e do PT em que foi, infelizmente, paparicada e tratada a pão de ló. Nesse período, toda a frota de veículos da classe média foi trocada, muitos compraram carros de luxo, a maioria viajou ao exterior, com os altos salários, em especial no funcionalismo público, a classe média investiu em imóveis e deu o pontapé inicial para os filhos prosperarem nos negócios. Agora tudo ruiu.
Com o nítido recuo da classe média das ruas, quem mais perde cobertura é a Lava Jato. Apavorada diante da perspectiva de votação da lei contra o abuso de autoridade, não será surpresa se, já na próxima semana, comecemos a deparar uma avalanche insana de vazamentos contra os políticos à frente da mobilização em favor daquela lei.
Se a lei for aprovada, é provável que já no dia seguinte, Moro diga a nação que, como já havia anunciado mais de uma vez, está cansado e precisa de alguns anos de férias. Aproveitará o descanso para estudar nos Estados Unidos. Feito isso, então, passará a ocupação para outro. E esse pode bem ser o lúgubre fim da Lava Jato.
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