Comentarista da Jovem Pan afirma que jornalista deve assumir papel da polícia

A jornalista Vera Magalhães, ex-Folha, ex-Veja, e agora colunista da Jovem Pan, tenta desesperadamente agradar os ex-patrões fazendo o serviço para o qual ela foi treinada: bater em Lula.

O depoimento de Vera à Jovem Pan começa com uma observação engraçada da jornalista. Ela repreende as autoridades por estarem batendo boca, ao invés de fazerem o que ela entende ser o trabalho deles: pegar Lula. Então ela afirma que cabe à imprensa fazer o serviço.

Para Vera Magalhães, não cabe á imprensa ouvir as diferentes partes, ser crítica ao poder (ou seja, à Lava Jato), e cuidar para que ninguém seja acusado injustamente. O trabalho da imprensa é dar visibilidade a delator, segundo ela.

Maravilha.

E aí ela fala sobre a nova delação que complica Lula.

É surreal. Ela menciona “reportagem importante” da Folha de São Paulo, sobre a delação de uns dos executivos da Odebrecht torturados e presos sem sentença pela Ditadura de Curitiba.

Em primeiro lugar, ela força as tintas nos adjetivos sobre Alexandrino Alencar:

(…) o amigão, o brother, o chapa, do Lula, dentro da Odebrecht.

Ela fala rindo, porque ser golpista deve ser realmente muito divertido.

A delação, em si, é a seguinte. Cito textualmente a fala de Vera:

ainda em 2010, portanto com Lula ainda na presidência da república, a primeira dama o chamou de canto, e o chamou, poxa, Alexandrino, tá demorando demais a obra lá no sítio, desse jeito não vai dar para inaugurar em 2011…

Lula já explicou mil vezes. Ele era presidente da república. Tinha outras preocupações além de “sítio em Atibaia”. Governar o Brasil e fazer o país experimentar as maiores taxas de crescimento em décadas, por exemplo. O sítio era de seu amigo, que procurou preparar um espaço para o presidente descansar.

Jonas havia feito planos junto com dona Marisa. E foram feitas obras, as quais são de responsabilidade dele, Jonas Suassuna, e não de Lula.

O que essa delação prova?

Nada.

O internauta irá se perguntar: ah, e qual o interesse da Odebrecht em fazer reforma num sítio do amigo de Lula?

Ora, todo o interesse!

As empreiteiras fazem doações ao instituto FHC e ao instituto Lula, porque sabem que ex-presidentes podem lhes ajudar, com um simples comentário, a ganhar negócios no exterior.

Minha opinião? Jonas Suassuna foi irresponsável em aceitar qualquer oferecimento de executivos ligados à Odebrecht. Tentou ajudar o ex-presidente e acabou lhe prejudicando politicamente.

Mas não houve crime!

Dona Marisa, por sua vez, foi ingênua. Quem iria pensar que discutir a obra no sítio de um amigo, uma surpresa que ela esperava oferecer a Lula após oito anos de presidência, seria transformado, pela imprensa e pelo MP, como indícios de que o sítio pertencia a Lula e este sítio seria pagamento de propina?

Ela deve ter sofrido muito com a constatação de que foi ingênua e, involuntariamente, deu munição para os inimigos de seu marido.

Qualquer pessoa, porém, pode comentar a obra de um lugar que pensa em frequentar no futuro. Isso não prova, evidentemente, que o lugar é meu!

À imprensa deveria caber a função de procurar a verdade, e não se alinhar às narrativas de acusação da procuradoria. A verdade tem sempre dois lados.

Para a imprensa brasileira, a verdade tem um lado só: contra Lula.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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