Advogado de Eduardo Guimarães destrói mentira de Antagonista

Muito boa a entrevista do advogado de Eduardo Guimarães, o doutor Fernando Hideo Lacerda, ao jornalista Pedro Zambarda, do blog Diário do Centro do Mundo. Eu ressalto um ponto: Lacerda destrói tranquilamente a mentira do blog Antagonista.

O Antagonista, blog de extrema-direita editado por ex-jornalistas demitidos da Veja, amanheceu hoje cheio de risadinhas maldosas. Mainardi e o outro fizeram vídeo em que tratam, às gargalhadas, do que supunham ser um “furo de reportagem”.

Em seguida, publicam um post com título pomposo, anunciando que tiveram acesso a um vazamento do que falou Eduardo Guimarães, em sala fechada, aos investigadores da Polícia Federal.

Não são tão inteligentes como pensam. Eles não perceberam que queimavam a própria Lava Jato, pois a contradição veio imediatamente à tôna.

Como assim? Quer dizer que Sergio Moro ordena o sequestro de Eduardo Guimarães, apreensão de seus bens, por causa de um vazamento que ele noticiou em seu blog, e a Lava Jato, horas depois do depoimento do jornalista, vaza o que ele disse, ou seu email, para o blog Antagonista?

O pior, no entanto, é a própria substância da “denúncia” do Antagonista, que acusa o blogueiro – e a pessoa com quem ele teria feito contato no Instituto Lula – de “obstrução de justiça”…

Eu acho essa expressão “obstrução de justiça” uma jóia sintática muito mal usada pelos juristas que combatem o arbítrio judicial. Por que ela é só vista pelo lado da acusação e nunca pelo lado da defesa. Obstruir a defesa também é obstrução de justiça. Obstrução de justiça, portanto, comete o juiz Sergio Moro, quando manda a Polícia Federal humilhar e intimidar o jornalista Eduardo Guimarães.

O Antagonista revela que, conforme vazamento (!) da Lava Jato, o jornalista Eduardo Guimarães, após receber a informação de que Sergio Moro ordenaria uma devassa no Instituto Lula e possível prisão do ex-presidente, teria ligado para o Instituto Lula e o comunicado.

“Tem que ser pre-so!”, vocifera Mainardi, junto com seu amiguinho de blog. “Isso é obstrução de justiça”, responde o outro, e ambos ficam dando risadinhas diabólicas e tentando simular uma grande indignação.

O advogado de Eduardo Guimarães matou a palhaçada com poucas frases. Eduardo Guimarães recebeu uma informação e ligou para suas fontes para checar.

Uma das fontes era, naturalmente, o instituto Lula. Eduardo Guimarães contatou-os para saber se eles tinham alguma informação nova sobre o processo movido pela Lava Jato contra o ex-presidente. Na época, Eduardo Guimarães diz isso em seu texto:

DCM: Um blog de direita publicou que Guimarães teria vazado dados sigilosos para o assessor de Lula. É verdade?

FH: Não. No dia 26 de fevereiro do ano passado, o blog divulgou que consultou fontes para verificar se a informação era verdadeira.

O texto afirma: “Segundo o Instituto Lula, ambos foram procurados há poucos dias por quatro procuradores do Ministério Público. Os procuradores não tinham mandato, mas, assim mesmo, interrogaram os dois trabalhadores, que sentiram-se ameaçados”.

Ponto final.

Além disso, Eduardo Guimarães não é agente da polícia federal. Não tem obrigação de guardar sigilo. Também não é um oráculo. Ele não podia ter certeza de que a fonte era absolutamente segura. Tanto que, no seu furo, ele joga completamente limpo com o leitor: olha, gente, aconteceu isso e aquilo. Eu recebi essa informação, fiz algumas checagens com as fontes, e ela me parece suficientemente segura para publicar.

Eduardo Guimarães não é como alguns jornalistas da grande imprensa, que acham muito bonito posarem de alcaguetes e amigos da polícia, num país com o histórico autoritário do Brasil, em que a polícia mata mais que bandido.

Ao cabo, quem mereceria ser preso aqui não é Eduardo Guimarães ou alguém do Instituto Lula, e sim os palhaços do Antagonista, que em seu afã para ficar ao lado do poder e puxar o saco da meganhagem, caluniaram um jornalista.

Eduardo Guimarães pode muito bem analisar um processo contra esses caras.

Abaixo, a íntegra da entrevista. Vale a leitura.

***

Moro não acha Eduardo jornalista, mas há vazamentos para blogs alinhados ideologicamente, diz o advogado de Guimarães. Por Zambarda

Postado em 22 Mar 2017

por Pedro Zambarda de Araujo

Fernando Hideo Lacerda tem 29 anos e é advogado especialista em Direito Penal, trabalhando como professor em instituições como PUCSP e Escola Paulista de Direito.

Ele é o advogado do blogueiro Eduardo Guimarães, que foi conduzido coercitivamente na manhã de 21 de março pela Lava Jato.

O DCM conversou com ele:

DCM: Fizeram uma busca e apreensão na casa do Eduardo Guimarães. O que a Polícia Federal levou de lá?

Fernando Hideo: Levaram um notebook, o celular do Eduardo e o celular da esposa do Eduardo, que era o celular antigo dele. Mas o mandado autorizava “a apreensão de quaisquer documentos, mídias, HDs, laptops, pen drives, arquivos eletrônicos de qualquer espécie, arquivos eletrônicos pertencentes aos sistemas e endereços eletrônicos utilizados pelos investigados, agendas manuscritas ou eletrônicas, aparelhos celulares, bem como outras provas encontradas relacionadas aos crimes de violação de sigilo funcional e obstrução à investigação policial”.

DCM: Um blog de direita publicou que Guimarães teria vazado dados sigilosos para o assessor de Lula. É verdade?

FH: Não. No dia 26 de fevereiro do ano passado, o blog divulgou que consultou fontes para verificar se a informação era verdadeira.

O texto afirma: “Segundo o Instituto Lula, ambos foram procurados há poucos dias por quatro procuradores do Ministério Público. Os procuradores não tinham mandato, mas, assim mesmo, interrogaram os dois trabalhadores, que sentiram-se ameaçados”.

DCM: A Lava Jato vaza dados para sites de direita, como o Antagonista?

FH: A defesa repudia qualquer tipo de vazamento por parte dos órgãos oficiais, que devem zelar pelo sigilo das investigações conforme a legislação processual penal. Lamentamos o fato de se pretender apurar um suposto vazamento mediante uma investigação que sofre de outros tantos vazamentos.

Preocupa-nos, nesse contexto, o fato do magistrado se achar no direito de definir quem é ou não jornalista de acordo com seu juízo discricionário. Por um lado, não considera o Eduardo jornalista alegando que seu blog serviria para “propaganda política”, de outra parte, a realidade mostra que blogs e comentaristas políticos alinhados ideologicamente com os fins perseguidos pelas operações gozam de vazamentos privilegiados.

DCM: Alguns analistas afirmam que a Lava Jato pode acusar Lula de ter destruído informações obtidas através de Guimarães. O que acha?

FH: O Eduardo agiu de acordo com a ética jornalística. Ele recebeu uma informação nos termos que consta de seu blog, checou a autenticidade dos dados e a procedência do vínculo entre as pessoas físicas e jurídicas mencionadas nessa informação e, só então, divulgou a notícia publicamente em seu blog.

Ele falou exatamente o que consta em seu post no Blog da Cidadania.

DCM: Como foi a condução coercitiva do Eduardo Guimarães até a sede da Polícia Federal na Lapa, em São Paulo?

FH: A Polícia Federal compareceu à casa do Eduardo às 6h da manhã para dar cumprimento a duas ordens expedidas pelo juiz Sérgio Moro: um mandado de condução coercitiva e um mandado de busca e apreensão.

As duas ordens judiciais são claramente ilegais. Por um lado, ao determinar “a apreensão de quaisquer documentos”, essa ordem de busca e apreensão viola a liberdade de expressão e o sigilo de fonte. Eles são constitucionalmente assegurados e inerentes à atividade jornalística.

De outra parte, a condução coercitiva é totalmente ilegal e contrária ao que estabelece o Código de Processo Penal. Ainda que admitíssemos a possibilidade de condução coercitiva do acusado, o que é totalmente incompatível com a garantia de não produzir provas contra si e com o direito fundamental ao silêncio, no caso do Eduardo jamais poderia ter sido conduzido. Ele nunca foi intimado para comparecer espontaneamente em data designada pelas autoridades, conforme exige o artigo 260 do Código de Processo Penal.

Ao ingressar na residência do Eduardo às 6h da manhã, apreender o seu celular e levá-lo coercitivamente às dependências da Polícia Federal, sem especificar a ninguém qual o conteúdo da investigação e nem para qual delegacia estão levando-o, eles inviabilizaram seu direito de defesa. Isso também esfacela o Estado Democrático de Direito. Fui avisado por pessoas próximas ao Eduardo que ele tinha sido levado e tive que sair em busca de informações sem qualquer referência, porque não conseguia contato com ele.

Lamentavelmente, o delegado sequer aguardou a minha chegada para início do interrogatório.

DCM: Qual é o argumento da Polícia Federal no inquérito para pedir a abertura do sigilo da fonte?

FH: Em defesa de suas práticas, a Justiça Federal do Paraná (JFPR) divulgou nota alegando que “as diligências foram autorizadas com base em requerimento da autoridade policial e do MPF de que Carlos Eduardo Cairo Guimarães não é jornalista, independentemente da questão do diploma, e que seu blog destina-se apenas a permitir o exercício de sua própria liberdade de expressão e a veicular propaganda político partidária”.

A própria “força-tarefa da Lava Jato”, nome que esses membros do Ministério Público Federal ridiculamente atribuem a si, contrariou os argumentos arbitrários da JFPR, declarando que “reconhece ainda a importância do trabalho de interesse público desenvolvido por blogueiros e pela imprensa independente”.

Há nítido conflito entre as notas oficiais expedidas pelo MPF e pela JFPR, o que por si só demonstra a ilegalidade das medidas autoritárias praticadas contra o Eduardo Guimarães. É tão óbvio que o sigilo de fonte foi violado que a própria nota oficial da Justiça do Paraná procura afastar essa tese alegando que o Eduardo não seria jornalista porque seu blog seria meramente um “veículo de propaganda política”.

Percebam: nem o próprio MPF está de acordo, de modo que o processo penal de exceção se revela cada vez mais como paradigma de combate aos inimigos politicamente selecionados.

DCM: Por que você acha que a Lava Jato está fazendo condução coercitiva com jornalistas como Eduardo Guimarães e, antes dele, Breno Altman?

FH: As conduções coercitivas estão num contexto geral de violação das garantias individuais. Muito nos preocupa a postura do STF, que decidiu “flexibilizar” a presunção de inocência em nome do apelo midiático por uma suposta eficiência do direito penal.

Muito nos preocupa o fato de se considerar que a Operação Lava Jato não precisa seguir as regras dos “casos comuns”, instaurando sem pudor um Estado de Exceção. Muito nos preocupa o Ministério Público Federal requer prisões preventivas com o objetivo expresso de facilitar delações premiadas.

Muito nos preocupa a Justiça Federal violar o sigilo telefônico de uma Presidenta da República durante um processo golpista de impeachment e, meses depois, determinar medidas arbitrárias e ilegais contra jornalistas, visando a apuração de outras tais violações de sigilo.

Miguel do Rosário: Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.
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