Perseguir Eduardo Guimarães é parte da estratégia de Moro para a prisão de Lula

Por Bajonas Teixeira de Brito Junior, colunista de política do Cafezinho.

Eduardo Guimarães está sendo perseguido. Em relação à sua condução coercitiva de ontem, só seria justificada se jornalistas ou editores da Globo, da Isto é, da Veja, e outros veículos que vazaram informação originadas da Lava Jato fossem igualmente processados e, dada a ameaça que representariam para a operação, também conduzidos coercitivamente. Isso não aconteceu nem acontecerá. Portanto, se Eduardo Guimarães foi, só ele, conduzido coercitivamente e vitimado por um processo, é perseguição.

Mas a perseguição não para por aqui. Há outro processo em que o blogueiro é acusado de algo ainda mais grave: “ameaçar” o juiz Sérgio Moro. É sobre esse segundo processo que quero me deter. Vou recordar suas origens porque são esclarecedoras sobre o teor persecutório contido na nuvem tóxica que hoje ameaça a blogosfera. Depois veremos como essa perseguição faz pensar em uma ação preparatória para a prisão de Lula.

Tudo começou com tuítes em que Eduardo Guimarães buscou divulgar seu artigo Direita prefere destruir o país a aceitar justiça social em junho de 2015. A ilustração escolhida foi a de um poço, já que quando a situação econômica se torna muito ruim, como ocorre nas crises econômicas, se diz que chegou “ao fundo do poço”.  O leitor deve ficar de olho nesse poço, porque daqui a pouco ele vai cometer um crime.

 

Após esse primeiro tuíter, outros cinco foram postados em sequência, todos relacionados com a exposição genérica do artigo para despertar o interesse do leitor.

Os dois primeiros, indicam que a crise econômica é artificialmente produzida por desejos políticos. Ou seja, diante da continuidade do PT na presidência, um grupo social teria preferido desestabilizar o país, com todos os riscos que isso representa para a economia, para chegar ao leme do poder.

Seria interessante se Guimarães, na posse de uma bola de cristal, pudesse naquele momento, em meados de 2015, prever o destino de alguns dos mais ativos promotores da crise política: Aécio Neves, José Serra, Eduardo Cunha, Geddel Vieira, e tantos outros que, investindo na criação artificial da crise, terminaram tragados e levados por ela.

Literalmente, eles jogaram todas as suas fichas na produção da crise, no impeachment, no processo contra a chapa de Dilma, na perseguição a Lula. Mas, no correr do tempo acelerado e trepidante de uma crise intensa, acabaram vítimas dos seus próprios ardis. Enfim, eles cometeram seus próprios suicídios ao forçarem artificialmente a construção da crise política. Ao invés de serem galgados ao topo do poder, foram despejados no fundo da sarjeta.

São fatos que estão ai, que nada têm de exóticos: assim como fizeram certas personagens da crise, um grupo social imenso está cavando sua própria sepultura. Não é esse o tormento da classe média que, de súbito, descobriu que vai perder a aposentadoria?

Isso é dito de forma a mais transparente numa frase isenta de qualquer ambiguidade no tuíte seguinte:

 

 

Há um esforço coletivo de desestabilizar o país. Não é um, não são dois indivíduos isolados, são grandes grupos sociais, aqueles que o autor chamou de “a direita”, que investem no caos agitando a crise política. Sequer havia crime, deslize ou erro por parte de Dilma. As “pedaladas” eram uma espécie de palavra mágica, de “abracadabra”, de celerados querendo fazer a mágica de chegar ao poder sem votos.

Para muitos, inclusive, aquele “abracadabra” veio a tornar-se muito em breve um “abra cadeia”. A esses, a busca de derrubar o PT saiu muito cara. Mas, o autor não se prendeu a esses casos específicos, não tinha bola de cristal. Na época da publicação do artigo, aliás, em junho de 2015, Cunha estava no auge do seu poder. Aécio era o homem mais limpo da república, impoluto e impetuoso nas denúncias contra a corrupção. Ainda não era conhecido pela alcunha da lista da Odebrecht, Mineirinho, nem tinha os seis pedidos de investigação que, hoje, com a lista da Janot, é a sua paga pelos serviços prestados no impeachment.

 

Falando não sobre o destino de A ou B, mas de todos aqueles que achavam que iam ter grande vantagem com a derrubada do governo legitimamente eleito, o blogueiro sentenciava:

Aqueles que pensavam poder brincar com fogo sem se queimar, enganavam-se. Uma vez instalada a crise, todos seriam vítimas dela. Feitas essas considerações prévias, o autor posta então uma frase relativamente infeliz, que até se compreende pelo grau de polarização em junho de 2015,  mas que, nem de longe, traz algum vestígio do que dele quiseram extrair: ameaça à vida de Sérgio Moro. Diz ele:

 

 

É evidente, pelo que veio antes, que as palavras  “vão custar seu emprego, sua vida” não se referem a Sérgio Moro. Elas se referem ao sujeito anteriormente mencionado: “cada brasileiro”, isto é, cada brasileiro que torceu pela derrocada petista se arrisca a pagar com seu emprego, sua vida.

Não há dúvida de que o “vai custar seu emprego, sua vida” não se dirige a Sérgio Moro. Juízes no Brasil não perdem o emprego. Mesmo os acusados de crimes graves, são, no máximo, aposentados. Então, seria descabido ver aqui uma ameaça ao juiz. Está claro que a menção se refere ao sujeito referido na frase anterior.

Mas então, o processo todo se baseia numa mentira? Sim e não. Sim, quanto ao fato, não há dúvida, nunca o blogueiro disse ou pensou em ameaçar Sérgio Moro nem ninguém. Isso está fora de qualquer dúvida razoável.

Mas também é verdade que no Brasil hoje a “verdade” e a “realidade” passam por uma conexão mídia-poder. É a conexão de mídia e poder executivo que torna, por exemplo, “real” a necessidade de uma “reforma da previdência”.

Foi a conexão mídia-poder-empresariado que tornou “real” o crime de responsabilidade de Dilma e, portanto,  a “legitimidade” do impeachment.

Foi a conexão mídia e PF que acabou de destruir as exportações brasileiras de carnes, reduzindo as vendas de US$ 60 milhões diários, que vinha sendo a média em março, para pouco mais de 1% desse valor, ontem, terça-feira – apenas  US$ 74 mil.

Tudo isso devemos à inteligente e produtiva aliança de mídia e poder. Muito se agradecerá a ela no futuro.

É a mesma a conexão por trás do caso da “ameaça” de Eduardo Guimarães a Sérgio Moro. Basta ver a sua certidão de nascimento. Observem.

Logo após a publicação do artigo em 2015, um blogueiro da Veja, exatamente como ocorre em todo período em que uma inquisição é posta à serviço do poder, teve uma visão inspirada:

 

 

Esta foi a primeira peça da conexão. Em seguida, uma associação de juízes de Curitiba representou contra Guimarães sintonizados nesta inspiração.

Enfim, feita a conjunção Mídia-Poder, instaurou-se uma “verdade”. Não importa que ela não tenha nenhuma veracidade e facilmente se deixe desmentir pela leitura das “provas”. O importante é que “verdade”, numa conjuntura de golpe, passa a ser o que a conexão de mídia e poder dita. Vivemos uma ditadura da comunicação. E, em toda ditadura, se busca perseguir e intimidar os comunicadores através da censura e do medo.

É exatamente essa conexão de Mídia e Poder Judiciário, que torna hoje “verdade” as seis denúncias que os ministérios públicos (Curitiba, Brasília e São Paulo) levantaram contra Lula. Dizer, como disse no dia 12, o procurador Dallagnol que Lula irá a julgamento em breve e poderá ser “condenado ou absolvido” é pura comédia. Nessa conexão Mídia-Poder Judiciário o “julgamento” começa quando o “crime” é vazado e, o primeiro ato desse julgamento, é a condenação. A condenação de Lula já está escrita há muito tempo. Desfazer essa escrita, é o que se espera da mobilização de uma mídia democrática.

Esse é o motivo por que Moro antecipou o depoimento de Eduardo Guimarães no processo do “vazamento”. Se trata de intimidar e calar a mídia que pode desfazer a “verdade” da conexão Mídia-Justiça. Ou seja, esse movimento de ataque à mídia alternativa é uma preparação para a prisão de Lula. Lembremos que, segundo Dallagnol, a sentença sairá até meados desse ano. Portanto, em muito pouco tempo.

É por isso que é tão importante a existência do contra-discurso da mídia alternativa. Não se trata apenas de “outras narrativas”, mas sobretudo de um outro princípio de verdade, fundado na sociedade e no valor da comunicação isenta de violência para a democracia. Baseada, portanto, numa esfera pública que repudia a repressão e a imposição de uma lógica exterior à verdade.

Esse é o princípio de democracia. E é por ser uma figura de destaque nesse ambiente, em que a verdade não se baseia nem na língua de trapo dos caluniadores  nem no vil metal do poder, que Eduardo Guimarães está sendo perseguido.

Bajonas Teixeira:
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