(Temer engolindo a nossa aposentadoria)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
As operações-espetáculo da PF continuam servindo para desviar a atenção da população de assuntos fulcrais.
A operação chamada Carne Fraca foi espalhafatosamente divulgada pela imprensa dois dias depois de uma paralisação nacional contra a reforma da previdência. Não se trata aqui levantar teoria da conspiração, mas é positivamente impressionante como o timing das operações midiáticas – principalmente as oriundas de Curitiba – sempre coincide com um momento muito propício para a direita.
Mas vamos voltar a falar do assunto que com certeza é mais indigesto para a população do que carne adulterada: reforma da previdência.
A Folha nos brinda hoje com uma matéria inacreditável sobre o assunto, que chegou a figurar na lista das mais lidas do site hoje à tarde.
“Deputados a favor da reforma da Previdência relatam ameaças”. Uau.
Que ameaças estariam sofrendo os bravos deputados que querem que trabalhemos até morrer?
O presidente da comissão da Previdência, Carlos Marun (PMDB-MS), relata que um acampamento “equipado com banheiro químico” foi montado na frente do condomínio em que mora. Achou leve? O deputado Marun diz que a cobrança também chega por mensagem no celular em ligações para o telefone pessoal. “Várias mensagens são ofensivas, mencionam minha mãe”.
Realmente, passaram do limite. Xingar a mãe é baixaria!
Miseravelmente patética a tentativa da Folha de produzir notícias pró-reforma da Previdência. Especialmente quando a ideia genial é tentar colocar os deputados favoráveis à proposta do governo Temer na posição de coitadinhos. Até uma charge ridícula mostrando políticos encurralados foi usada na matéria:
A que ponto chega um veículo de comunicação para garantir a gorda verba de publicidade federal no fim do mês, não é mesmo?
Ameaça mesmo, ou melhor, terrorismo, foi a propaganda do PMDB dizendo que os programas sociais vão acabar se a reforma da Previdência não for aprovada. Tão abjeta que foi retirada do ar prontamente após a enxurrada de críticas.
A propaganda oficial do governo a favor da reforma, realizada, obviamente, com recursos públicos, foi sustada por decisão da Juíza Marciane Bonzanini, da 1ª Vara Federal de Porto Alegre no último dia 15, por desvio de finalidade. Campanha publicitária governamental deve ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, o que claramente não é o caso da defesa de um projeto de lei que nem foi aprovado ainda. Parabéns à juíza Marciane. Encerro o post com um trecho da bela decisão da magistrada:
No caso, a campanha publicitária impugnada, feita com recursos públicos, promovendo um projeto de reforma ligado a programa do Partido político que ocupa o poder no Executivo federal, discrepou totalmente da finalidade e do objetivo da norma constitucional prevista no art. 37, § 1º, da CRFB. A proposta de reforma da previdência não se inclui em categoria de ‘atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos’.
Diversa seria a situação de esclarecimentos acerca de alterações constitucionais ou legislativas já vigentes. Por outro lado, a campanha publicitária questionada não possui “caráter educativo, informativo ou de orientação social”, restringindo-se a trazer a visão dos membros do Partido político que a propõe e passando a mensagem de que, caso não seja aprovada a reforma proposta, o sistema previdenciário poderá acabar.