Foto: Ricardo Stuckert
Ouvi o depoimento que o Presidente Lula fez ao Juiz em Brasília e me deu uma vontade enorme de abraçá-lo.
Sei que na verdade não preciso nem estar escrevendo isso porque milhares, se não milhões, de pessoas pensam como eu em relação à injustiça cometida contra o Presidente Lula.
Sei também que ele deve receber milhões de cartas de pessoas que não o conhecem, desejando-lhe boa sorte, transmitindo-lhe força e agradecendo-lhe por ter sido o grande Presidente que foi.
Mas estou angustiada com tanto preconceito e não faz mal o Presidente Lula ser lembrado, mais uma vez, que muitos de nós brasileiros não compartilhamos da soberba destes ‘letrados’.
Ofende a falta de educação e respeito daqueles que se acham no direito de debochar do ex-Presidente simplesmente porque eles têm um mero curso superior.
Não concordamos com aqueles que acham que o privilégio de ir à universidade faz deles pessoas melhores do que aqueles que não foram.
Mesmo porque essa atitude, na verdade, reflete a atitude dos nossos ‘doutores’ para com grande parte da população brasileira, que também não tem formação universitária e nem por isso devem ser menosprezados, como são, ou tratados como burros e idiotas.
Já está mais do que na hora de pedirmos desculpas ao ex-Presidente pela desfaçatez daqueles que, por ter uma posição, um cargo, acabam representando a cara formal do nosso país.
Portanto, nesses dias macabros, é bom lembrar que o Brasil não é só a arrogância e o preconceito dos ditos ‘cultos’.
Também há pessoas que têm a humildade de reconhecer que não é porque tiveram o privilégio de receber educação ou ter dinheiro suficiente para ir a uma escola particular – porta de entrada às universidades públicas – e porque têm pais que puderam bancar cursinhos uma, duas ou três vezes seguidas, ou porque puderam estudar por anos a fio para passar num concurso público, são melhores ou mais inteligentes que os que não tiveram estas oportunidades.
Estamos morrendo de vergonha que pessoas como o tal juiz que deu gargalhada quando ouviu Lula ser chamado de ‘doutor’ sejam tidas como ‘sábias’ em nosso país.
E porque nós, os incomodados, somos muitos sei que um dia tudo isso vai acabar.
Quem sabe o que está acontecendo não seja só uma última retaliação dos desesperados que não entenderam as mudanças pelas quais o Brasil passou? Mudanças que não podem ser evitadas pelo bando de homens sem noção que parecem ter tomado conta de todas as instâncias de poder.
Durante a presidência de Lula, não faltou articulista de jornal para dizer que o Presidente tinha cometido ‘uma gafe no exterior’, que não sabia falar bem o português, ou que era uma vergonha ter um presidente sem curso superior.
Pois bem, quando este homem sem educação formal era nosso presidente, o Brasil pleiteava um assento no Conselho de Segurança da ONU. Agora, com os bem-falantes mau-caráteres, o Brasil deixou tudo isso de lado. Já não é mais importante que o gigante da América Latina, com aproximadamente 200 milhões de habitantes, um país do Sul global, oitava ou nona maior economia do mundo – com ou sem recessão – tenha posição equivalente à sua relevância nas instâncias mundiais.
Quando o Doutor Honoris Causa sem diploma universitário foi nosso presidente, ele fazia discursos que comoviam – não só a mim – mas ao mundo todo. Implementou políticas que foram copiadas pelo mundo afora.
O presidente que só tinha um curso primário e um curso técnico sabia sentir o pulso, não só da população brasileira, mas de toda a comunidade global e eu me sentia orgulhosa de ser representada por ele no exterior.
Agora acho difícil explicar o que aconteceu com o meu país. Porque temos um governo feito só de homens em pleno século XXI? O que foram aqueles motins e massacres em nossas prisões? Porque estamos cortando programas que foram tão bem-sucedidos e levando nosso povo de novo à pobreza?
Agora, o governo brasileiro, que tem um professor de direito constitucional como presidente ilegítimo e chanceleres que são professores de economia e advogados graduados na São Francisco, não só destrói nossa Constituição, mas consegue levar o Brasil à insignificância internacional.
Portanto, cansei das gargalhadas de policiais federais, juízes e procuradores mal-educados que não sabem a diferença entre conhecimento e erudição, que não sabem discernir entre verniz e inteligência. E ainda pior, que tão mal conhecem a política que a confundem com o crime, não tendo o mínimo pudor de acabar com a economia brasileira em nome de um moralismo raso.
O ‘Seu Luiz Inácio’, como o juiz de Brasília insistiu em chamá-lo, é inteligente sim. E o fato de ele não ter tido educação formal é mais um sinal de inteligência, porque Lula pôde superar a necessidade, que a maioria de nós temos, de ter educação formal, para fazer nem metade do trajeto que ele fez.
Na verdade, são poucas as pessoas que têm o conhecimento que o Lula tem, não só do Brasil, mas do mundo. Conhecimento este, que não se aprende somente na universidade. Poucos são os que têm a sua tenacidade, interesse em aprender e capacidade de compreender quais são as questões sociais, nacionais e globais, mais prementes.
A inteligência e o conhecimento não são os únicos quesitos para se tornar presidente e, talvez, nem sejam os atributos mais importantes de Lula.
Talvez o que fez de Lula um presidente singular tenha sido a compaixão, a capacidade de empatia e o fato de que apesar de ter chegado tão longe em sua trajetória individual, ele nunca esqueceu que, para milhões e milhões de brasileiros, ainda é muito difícil avançar na vida.
E é exatamente isso que estes usurpadores do poder jamais serão capazes de compreender.