(Aloysio Nunes, senador pelo PSDB e atual ministro das Relações Exteriores / Agência Senado)
Inacreditável.
O governo Dilma foi medíocre em matéria de política internacional. A presidenta viajou pouco e não criou nenhum tipo de comunicação com o exterior.
Mesmo assim, ela participou da consolidação dos Brics e deu continuidade, embora sem o brilho do governo Lula, à estratégia de ampliar a diplomacia brasileira.
Entretanto, o principal culpado pela desistência do Brasil de integrar o conselho de segurança da ONU é – obviamente – o governo Temer, que assumiu a administração do Executivo há quase um ano.
E quem ocupou o Ministério das Relações Exteriores nesse tempo todo?
O PSDB.
Primeiro com Serra, depois com Aloysio Nunes.
A capacidade destrutiva do PSDB é de fazer inveja a qualquer exército inimigo.
Esse é o tipo de coisa que traz danos incalculáveis ao país, pois a presença no Conselho de Segurança da ONU significa poder de barganha, para negociar acordos comerciais vantajosos com outras nações.
A mediocridade do governo Temer é insuperável.
Os prejuízos do golpe já estão se estendendo para várias gerações à nossa frente.
A grande imprensa brasileira tem enorme culpa no cartório. Sua obsessão pela Lava Jato, única pauta nacional, desvia as atenções da opinião pública de qualquer objetivo e ação estratégicos para o nosso desenvolvimento.
O Brasil não está discutindo política internacional, porque viramos um país dominado por delatores, de um lado, e promotores de justiça, de outro.
Só se fala em delação, passada, presente e futura. Enquanto isso, o mundo segue em frente e o Brasil fica para trás.
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Brasil abre mão de integrar o Conselho de Segurança da ONU
Estimativa é de que país fique mais de 20 anos sem integrar principal órgão das Nações Unidas. Analistas veem enfraquecimento internacional
Por Léo Gerchmann, no Zero Hora
17/03/2017 – 12h44min | Atualizada em 17/03/2017 – 12h44min
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Brasil abre mão de integrar o Conselho de Segurança da ONU Beto Barata/PR
Foto: Beto Barata / PR
Um fato de alto simbolismo retrata o refluxo na intensidade com que a diplomacia brasileira atuou mundo afora durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e, muito em especial, no de Luiz Inácio Lula da Silva: por notório desinteresse, o Brasil ficará pelo menos até 2033 fora do Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU), a mais alta instância do organismo, responsável pela segurança e pela pacificação mundiais. Não houve manifestações de interesse em um tema que chegou a ser prioritário para Lula — defensor de uma reforma do CS para ampliar o número de membros permanentes e torná-lo mais abrangente e legítimo.
Essa falta de protagonismo, na visão de analistas e diplomatas brasileiros, teria sido decisiva para a renúncia de José Serra, que alegou problemas lombares ao deixar de ser chanceler — foi substituído por Aloysio Nunes Ferreira, quadro tucano mais acostumado a agir nos bastidores, inclusive quando esteve na guerrilha contra a ditadura. Serra, um político com pretensões para as eleições presidenciais de 2018, sentiu falta de visibilidade. Conforme um funcionário do governo ouvido pela Folha de S. Paulo, “o Brasil foi do 80 para o 8”.
— É evidente a pouca importância dada para a política externa desde o governo Dilma. É lamentável que deixemos de influenciar na instância mais importante da ONU— diz um diplomata para Zero Hora.
— O que está havendo nos últimos três ou quatro anos é o rompimento de uma tradição centenária da diplomacia brasileira. Desde a Liga das Nações, antes da ONU, há cem anos (a Liga das Nações existe desde 1919), o Brasil procurava ter protagonismo, e isso enfraquece o país internacionalmente — diz o cientista político venezuelano Rafael Duarte Villa, professor da Universidade de São Paulo (USP) e especialista em CS.
Os últimos gestos de Serra como ministro das Relações Exteriores foram o de ir à reunião de chanceleres do G-20 em Bonn para se encontrar com o colega mexicano, Luis Videgaray, dando-lhe apoio nas contendas com os Estados Unidos, e procurando atrair a Aliança do Pacífico (integrada por Chile, Colômbia, México e Peru) a um acordo com o Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai). Na linha mais comercial e discreta, o Itamaraty também faz gestões com a União Europeia (UE) por um acordo de livre comércio negociado há duas décadas.
A pauta do Itamaraty contrasta com a de gestões anteriores. No governo de Lula, entre 2003 e 2010, o Brasil chegou a se candidatar para a mediação entre israelenses e palestinos e, em conjunto com a Turquia, até apresentou uma proposta de acordo para resolver a questão nuclear no Irã. A diminuição na intensidade já se fez notar quando, sob Dilma Rousseff (2011-2016), silenciaram-se as gestões para ocupar o CS.
A falta de protagonismo se reflete nas relações com os EUA. Desde que assumiu, em 20 de janeiro, o presidente americano, Donald Trump, ainda não conversou com o colega brasileiro Michel Temer. Questionado, o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, alegou problemas de “agenda”. Mas o líder americano já conversou com os colegas da Argentina, Mauricio Macri; da Colômbia, Juan Manuel Santos; e do Peru, Pedro Pablo Kuczynski. Na conversa de cinco minutos com Macri, Trump o chamou de “liderança”, o convidou a ir até Washington e enviou abraços para seu pai, Franco Macri. Restou a Temer um diálogo com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence.
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China, EUA, França, Reino Unido e Rússia ocupam os cinco assentos permanentes do CS, grupo seleto do qual Lula um dia quis participar — cada um desses cinco países tem direito a veto nas resoluções. Há outras 10 vagas, que são rotativas, bienais, sem direito a veto nas resoluções e divididas por região do planeta (cinco de África e Ásia, uma da Europa Oriental, duas da América Latina e do Caribe e duas para Europa Ocidental). O Brasil ocupou uma delas pela última vez entre 2010 e 2011. Por estar há algo como 10 anos sem apresentar candidatura, a estimativa é de que fique sem assento no CS ao menos até 2033. Até hoje, o período mais longevo em que o Brasil ficou sem a vaga foi entre 1968 e 1988, até porque, durante a ditadura militar (1964-1985), não havia interesse.
Principais atribuições do CS:
— Sanções a países que descumpram a algum acordo
— Envio das missões de paz para países sob turbulência
— Aprovação de eventuais invasões militares
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