(Criança nos braços da mãe na Av. Paulista, ontem. “Do jeito que tá vou ter que trabalhar já”. Foto: Selma Boaventura).
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
15h de ontem, Av. Paulista. O número de pessoas na concentração para o ato contra a reforma da previdência começava a aumentar. Servidores do judiciário se instalaram na frente do prédio da Justiça Federal, próximo ao MASP, e fizeram uma agitação. Uma senhora pediu o microfone. E desabafou, a plenos pulmões:
– Eu sou cozinheira. Estou desempregada. Não podemos deixar passar o que esse cara quer fazer. FORA TEMER! FORA DEMÔNIO! FORA CAPETA! FORA SATANÁÁÁÁÁS!!!
Os que passavam por ali naquele momento vibraram com a inusitada sessão de descarrego proporcionada pela aguerrida cozinheira.
Michel Temer tem medo de fantasma, mas o povo está percebendo que na verdade o encosto a puxar o pé da população é, na verdade, o próprio presidente ilegítimo.
O volume dos atos de ontem, que aconteceram por todo o país, surpreendeu até os mais otimistas.
A Globo tentou esconder o tamanho dos atos, obviamente. A Av. Paulista estava completamente tomada e a repórter da GloboNews conseguiu dizer que de onde estava só conseguia ver 2 quarteirões ocupados pelos manifestantes.
Em São Paulo pararam os trabalhadores dos ônibus, do metrô, dos correios, professores (que foram em peso ao ato), metalúrgicos e muitas outras categorias. Os metroviários e rodoviários ignoraram solenemente decisões da justiça proibindo a greve. O trânsito ficou um caos.
Nesses casos a estratégia da máfia midiática é sempre a mesma: entrevistar as pessoas e induzi-las a reclamar do caos provocado pelos grevistas. Desta vez, o tiro saiu pela culatra. Funcionários do metrô que explicavam às pessoas os motivos da greve foram aplaudidos pela população. O apoio à greve é amplo, geral e irrestrito.
A explicação para isso é simples. Pautas como a PEC que congelou o orçamento por 20 anos ou a nomeação do plagiador Alexandre de Moraes para o STF não comovem a população, pois são muito distantes e, de certa forma, mais técnicas.
Já a reforma da previdência draconiana proposta pelo governo é demasiadamente direta para não ser compreendida perfeitamente por todos. O presidente que não foi eleito por ninguém quer que trabalhemos até morrer – ou quase.
A população está acordando de seu torpor induzido por doses cavalares – aplicadas incessantemente pela mídia corporativa – de manipulações, mentiras e propaganda política disfarçada de noticiário.
A manifestação de Temer após os protestos de ontem foi, para variar, patética. “A sociedade brasileira, pouco a pouco, vai entendendo que é preciso dar apoio a este caminho para colocar o país nos trilhos”. Uma ova. Está todo mundo, com o perdão da palavra, puto.
O governo corre contra o calendário pois sabe que, quanto mais próximos das eleições de 2018 estivermos, mais difícil será convencer os parlamentares a votarem a favor de uma proposta extremamente impopular. O volume das manifestações contra a reforma colocou mais pressão sobre os nobres deputados.
A chance da reforma ser barrada ou ao menos modificada consideravelmente é real. A aprovação deste absurdo não vai ser um passeio no parque.
Cai bem para o momento um dos cantos tradicionais das manifestações da esquerda:
Pisa ligeiro, pisa ligeiro
Quem não pode com a formiga não atiça o formigueiro