Um leitor desavisado que entrasse nos portais da mídia brasileira, ignoraria completamente que, há poucos dias, a principal instituição estatística do país divulgou números que revelam a pior recessão econômica da nossa história.
O golpe fracassou miseravelmente. O investimento nacional e internacional desapareceu. As famílias pararam de consumir. O desemprego explodiu. As contas públicas entram cada vez mais no vermelho.
Entro no site do jornal O Globo e só tem Lava Jato, Lava Jato, Lava Jato. A manchete do jornal impresso, idem.
Na Folha, a mesma coisa, mas com uma exceção: a manchete é um louvaminha chapa-branca do governo Temer, que teria “aumentado” os gastos militares em 2016, em relação à Dilma.
É mentira, para variar. Ou melhor, meia-verdade. O próprio gráfico da Folha confirma a manipulação dos dados.
Sob Dilma, os investimentos militares vinham crescendo paulatinamente (e falemos só de gastos efetivos, não de “previstos”), atingindo mais de R$ 12 bilhões em 2014.
Em 2015, já não tínhamos, efetivamente, um governo, e sim essa junta golpista que administra o país até hoje: judiciário e mídia.
De qualquer forma, a matéria da Folha omite o principal. A Lava Jato desmantelou brutalmente a infra-estrutura brasileira, e isso evidentemente afeta diretamente a defesa nacional. Ou seja, o golpe esmagou completamente a nossa indústria de defesa, que era baseada no tripé: controle nacional do petróleo, construção do submarino nuclear, transferência de tecnologia aérea da Suécia para o Brasil. Os três foram interrompidos.
Voltemos a questão do monopólio da Lava Jato sobre a agenda política nacional, mesmo diante da mais profunda recessão da nossa história.
Vale ressaltar que a recessão é fruto da Lava Jato, mas isso também não parece importar à nossa imprensa corporativa, que ganha cada vez mais contratos de publicidade dos governos federal e paulista.
É o único assunto.
Em qualquer lugar do mundo, a imprensa estaria envolvida na busca das origens e consequências da crise. Que setores sociais, regionais, profissionais, foram mais atingidos?
Para superar a crise, as autoridades, dos três poderes, precisam saber, em detalhes, quais os pontos mais vulneráveis que merecem atenção prioritária.
A imprensa não diz. Executivo, legislativo e judiciário são mantidos desinformados pela imprensa. Pior, executivo e legislativo são mantidos sob chantagem, ameaçados por um consórcio midiático-judicial que não mais respeita leis: prende-se sem provas, sem sentença, e agora até mesmo sem o aval do judiciário! Basta ter o apoio da mídia.
Só se fala na nova Lista de Janot, e dos processos que o procurador-geral irá abrir contra políticos.
Tanto Ministério Público Federal quanto o Judiciário também não estão preocupados com a crise econômica. Em suas manifestações, o fator social não conta mais. As energias do Estado brasileiro continuam todas sendo usadas na máquina do golpe, essa operação que não se encerrou no impeachment, mas deve prosseguir através da eliminação de direitos sociais, trabalhistas, previdenciarios, e até mesmo individuais, todos vistos como um “entrave” ao desenvolvimento. A imprensa faz o papel de enganar ao povo e manipular a opinião pública, usando a crise que ela mesmo ajudou a criar para persuadir (ou mesmo ameaçar) a população de que somente um capitalismo sem nenhum direito (sem aposentadoria, sem salários dignos, sem direitos de justiça), um capitalismo absolutamente selvagem, pode nos salvar.
É uma mentira absurda, claro, porque toda a história de desenvolvimento, de qualquer nação civilizada, só aconteceu após a implementação de direitos sociais e individuais, que produzem um pacto social e político que traz paz, liberdade, justiça e, por fim, desenvolvimento econômico.
O Brasil vive uma era de trevas.
A sua imprensa corporativa, ao invés de trazer luz, promove a escuridão. O objetivo é óbvio: blindar o governo e suas iniciativas neoliberais, que fracassaram nos governos tucanos e voltaram a fracassar em 2016 e agora.
A previdência, ao invés de estar sendo reformada, já está sendo destruída pelo desemprego, visto que não há previdência, em lugar nenhum do mundo, que resista por muito tempo à uma queda brutal da arrecadação fiscal proveniente do trabalho.
Sem emprego, o Estado é consumido: não há renda fiscal, não há consumo, não há previdência, não há segurança, não há futuro.
Nem governo nem imprensa oferecem nenhum projeto, estudo, análise, que permitam à sociedade vislumbrar uma saída para o desemprego galopante que corrói o tecido social.