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Pepe Escobar: mídia ocidental tenta esconder novo vazamento do Wikileaks

Escobar diz que novo vazamento pode ser ainda mais importante que o de Snowden. Oh, que WikiTrump mais traiçoeiro! 9/3/2017, Pepe Escobar, Asia Times Tradução: Vila Vudu. A divulgação do WikiLeaks Vault 7 monstro [lit. Cofre-forte 7 (monstro) de Wikileaks (NTs)] é serviço público da mais alta relevância. Difícil encontrar alguém que não se preocupe […]

28 comentários
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Escobar diz que novo vazamento pode ser ainda mais importante que o de Snowden.

Oh, que WikiTrump mais traiçoeiro!
9/3/2017, Pepe Escobar, Asia Times

Tradução: Vila Vudu.

A divulgação do WikiLeaks Vault 7 monstro [lit. Cofre-forte 7 (monstro) de Wikileaks (NTs)] é serviço público da mais alta relevância. Difícil encontrar alguém que não se preocupe ante a evidência de que a CIA tem um programa secreto para hacking, que toma por alvo virtualmente todo o planeta – carregado com um malware capaz de invadir a encriptação de proteção de qualquer aparelho: do iOS para Android; e do Windows para as TVs Samsung.

Numa série de tweets, Edward Snowden confirmou o programa da CIA e disse que os nomes em código nos documentos são de gente real; que só poderiam ser do conhecimento de gente interna com a mais alta autorização da segurança [ing. um “cleared insider”], que o FBI e a CIA sempre souberam dos furos digitais, mas os mantiveram abertos para espionar; e que os vazamentos ofereceram “a primeira prova pública” de que o governo dos EUA pagou secretamente para preservar os furos de segurança do software dos EUA.

Como se isso já não fosse suficientemente grave, WikiLeaks diz que “a CIA perdeu o controle da maioria das armas que criou para seu arsenal para invadir-espionar”; várias centenas de milhões de linhas de código – mais do que tudo que é usado para administrar a rede Facebook.

Alguém dentre ex-hackers e fornecedores do governo dos EUA acabou por vazar porções do arquivo da CIA (Snowden II?). WikiLeaks também chama a atenção para o modo como a CIA criou, de fato, uma sua “própria Agência de Segurança Nacional” – incluindo requintes de máxima opacidade e/ou transparência zero.

Embora milhões já soubessem – sem os detalhes técnicos – que estavam sendo espionados por seus iPhone ou 4K Samsung, as revelações do Vault 7 são muito mais importantes – e muito mais praticamente úteis – para o cidadão médio, que a histeria ‘jornalística’ 24h/dia, 7dias/semana das ‘denúncias’ de que o presidente Trump seria fantoche de Putin. Fontes na inteligência estão entregando voluntariamente que o tesouro ainda inexplorado do Vault 7 é mais crucialmente decisivo que tudo que o próprio Snowden revelou.

E mesmo assim, vastos setores da mídia-empresa mancomunados com a galáxia neoconservadora/neoliberal estão espalhando que o Vault 7 beneficiaria Trump, ‘porque’ desviaria todas as atenções, da interferência de hackers russos nas eleições nos EUA e da possível ordem que Obama teria dado pra que agentes do governo invadissem as comunicações da Equipe Trump.

Então, se alguém ainda não percebeu, a cantoria não mudou.

WikiLeaks + Snowden + Rússia + Trump = turma do mal. CIA espalhando agentes de sua própria Agência de Segurança Nacional por todo o mundo = turma do bem. Afinal, o porta-voz da CIA Jonathan Liu já distribuiu a infalível negação-que-confirma.

As mais estúpidas facções do ‘jornalismo’ hegemônico já dizem até que “os russos” vazaram a informação da CIA para WikiLeaks, alimentando assim as suspeitas de que a Rússia interferirá nas futuras eleições na França e na Alemanha.

Posso comprar um iPhone orwelliano, por favor?

Estamos profundamente afundados num ambiente orwelliano de espionagem-varredura total, que Baudrillard já conceptualizou nos anos 1980s a-go-go, e nada trivial como a comprovação técnica de que estamos todos sendo espionados poderia alterar o (des)equilíbrio. Os EUA já estão devastados por uma viciosa guerra sociopolítica – e nenhuma “ameaça” às narrativas estabelecidas conseguirá prosperar.

Isso tudo implica que, no pé em que estão as coisas, não haverá reset EUA-Rússia, pelos menos por enquanto – apesar dos muitos convites de possíveis hospedeiros, que chegam da Islândia, Finlândia ou Eslovênia; a galáxia neoconservadora/neoliberal implantada em facções poderosas do estado profundo fará de tudo para impedir que aconteça.

Pouca ou nenhuma diferença faz que Trump absolutamente não queira guerra: ninguém em toda a economia norte-americana remix jamais admitirá qualquer tipo de paz. O Pentágono agora é essencialmente uma unidade de operações especiais: é absolutamente incapaz de fazer guerra em campo (no Irã? Na República Popular Democrática da Coreia, codinome “Coreia do Norte”? Na Ucrânia?)

A Rússia, por sua vez, estará sempre pronta para a guerra, se necessário for. O sistema S-500 de mísseis de defesa está sendo implantado: alguns analistas (nenhum no Ministério da Defesa) têm absoluta certeza de que todo o território russo já está absolutamente fechado. A China, em 2021, terá mais de mil ogivas muito móveis, ou escondidas naqueles submarinos que descansam em Hainan. Quando aquela hora chegar, também Irã e Paquistão estarão confortavelmente cobertos numa rede de defesa estratégica com Rússia-China, via a Organização de Cooperação de Xangai, protegidos pelos escudos de seus próprios sistemas S-400 e S-500.

Putin não está jogando xadrez. Está jogando Go — e se examinamos o tabuleiro, a realidade é verdadeiramente dolorosa.

Moscou está realmente decidindo o futuro prático da Síria, em Astana. A Rússia virtualmente redigiu os acordos de Minsk II, que Kiev infringe praticamente de hora em hora. Crimeia integrada à Rússia é fato consumado. A Novorrússia já é, para todas as finalidades práticas, uma região totalmente autônoma, com economia que já opera em rublos. Erdogan deve sua mudança iminente de regime ao contrário – um sultanato presidencial? – a Putin, desde o momento em que a Rússia o alertou, horas antes dos primeiros movimentos, sobre o golpe militar que se armava contra ele – como várias fontes jornalísticas russas já confirmaram. Moscou protegeu a indústria de energia do Irã durante as duríssimas negociações na OPEC. Putin concebeu, desde os primeiros movimentos, toda a parceria estratégica Rússia-China.

Pequim conseguiu convencer Moscou de que o Projeto Um Cinturão Uma Estrada e a União Econômica Eurasiana devem ser conectadas, fundidas e tratadas como processo ganha-ganha de integração da Eurásia. Se a Rússia eventualmente perder a predominância econômica nos “-stões” da Ásia Central, ainda assim manterá o status de garantidor militar/de segurança.

O ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, nunca se cansa de repetir que “nossas relações com a China estão no melhor nível de todos os tempos, na história de nossos dois países.”

Dissonância cognitiva: o último refúgio dos canalhas

Acrescentem a tudo isso um gambito geoeconômico: há indícios de que facções chaves das elites comerciais europeias aprontam-se para se autoengatar ao crescente – lento mais garantido – poderio monetário/financeiro chinês, associado ao imperativo categórico, para Pequim, que é impedir que as cadeias de suprimento global entrem em colapso. A “globalização inclusiva” de Xi Jinping, anunciada em Davos, soa cada dia mais como realidade já em acelerado processo de construção.

Em flagrante contraste com a realidade, onde China-Rússia expandem suas estratégias sem ilusões excepcionalistas, a histeria neoconservadora/neoliberal 24/7 oferece uma barragem constante de erupções infantiloides, patéticas. Embora a escola de política exterior da autoilusão eterna recuse-se a admitir, Moscou jamais entregará China e Irã em troca de ‘acerto’ com Washington. O último refúgio dos canalhas é a dissonância cognitiva: o medo que os EUA sentem da Rússia empurra o mundo para os píncaros da Guerra Fria 2.0.

Assim sendo, cidadãos globais, relaxem. A CIA é boa e do bem, só está espionando vocês em tempo integral. Vocês nada têm a temer, exceto o próprio medo – que, no caso de vocês, atende pelo nome de Rússia.*****

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Marcio Allen

13/03/2017 - 16h04

O texto a 100 por hora de Pepe rs!

Sandra Gontijo

13/03/2017 - 04h10

EXCELENTE !

Ismael Façanha

12/03/2017 - 23h18

Digo, National Security Agency

Ismael Façanha

12/03/2017 - 23h15

Não é a CIA, é a famosa NSA – National Security Agensy.

    DLL X

    13/03/2017 - 10h13

    É A CIA! .
    O que foi revelado é que não apenas a NSA que já sabíamos, mas também a CIA atua com um arsenal com milhares de ferramentas -cyberweapons – fazendo espionagem em massa.

Antonio C Guerreiro

12/03/2017 - 18h54

Apenas PALMAS PALMAS PALMAS EXCELENTE MATÉRIA.

Borba

12/03/2017 - 16h45

Ao contrário do que muitos inculto falam, o inimigo não vai invadir esse grande pais com tropas de soldados armados.
Mas vai fazê-lo por meio da grande mídia, pelos serviços financeiros, por patentes, por cyberwarfare, Hybrid warfare;

Rosa

12/03/2017 - 13h20

full spectrum dominance.

Rejane Medeiros

12/03/2017 - 15h27

Pagina infeliz na nossa história

fábio brandão

12/03/2017 - 11h12

parabéns pela matéria.

enganado

12/03/2017 - 00h30

Caro Escobar, precisas contar esta para os militares das Tropas de Ocupação que habitam aqui neste pedaço. Continuam acreditando em mula sem cabeça.

Leningrado

12/03/2017 - 00h06

Sensacional. Esta matéria deve ser divulgada de forma massiva.

Luiz Carlos

11/03/2017 - 23h41

Sobre a espionagem em troca governo paga às empresas vazadas com a não fiscalização do recolhimento de impostos em sedes em paraísos fiscais ou países exóticos. Por sua vez estas empresas ajudam os americanos a derrubarem seus desafetos nos países periféricos e centrais e fica tudo em casa.
A falta destes impostos deve ter feito os americanos se cansarem dos democratas e elegeram Trump. Trata-se da mais deslavada corrupção, que se fosse praticada em um país inimigo daria ensejo a um procedimento de desestabilização e deposição do presidente, como faz habitualmente esta potência. Mas lá é mais possível que derrubem o republicano, que também não merece confiança.
E dizem que estamos num mundo civilizado, e reclamam dos métodos terroristas.

Barão

11/03/2017 - 22h41

Tem tanta informação neste texto;
Se pesquisar monta o xadrez 3D.
Excelente Pepe.

Jarlus Mendes

12/03/2017 - 01h41

Celular tableb tv está tudo sendo monitorado pelo paizao

    Ramen

    12/03/2017 - 12h59

    tablet também?
    Putz.

Emmanuel Andrade

12/03/2017 - 01h15

Com esse poder todo, não dava pro Putin ter dado uma ajudinha, como fez com Erdogan, e ter prevenido Dilma do golpe que armavam contra ela, preservando assim o Brics?

    Leningrado

    12/03/2017 - 00h09

    É possível que deva ter avisado, mas com Zé Cardoso na Justiça e Paulo Bernardo nas Comunicações não tinha o que fazer.
    Depois de Snowden avisar que o governo estava sendo espionado, Dilma e o PT continuaram a usar telefone comum, sem criptografia.

      Sales

      12/03/2017 - 13h03

      Com ou sem criptografia pouco importa nestes casos de chefes de estado.
      Com criptografia apenas demora um pouco mais, 15 minutos, uma hora, um dia, uma semana para descriptografar.

    Antonio Passos

    12/03/2017 - 01h21

    Tem muita coisa que ainda não sabemos no golpe. Os militares brasileiros ainda são fiéis defensores dá subserviência aos americanos. Será que não tiveram nenhuma participação no golpe, nem que por omissão ? Isso e muitas outras coisas só no futuro saberemos.

      Luci

      12/03/2017 - 13h16

      O Brasil é o Pais mais espionado da America Latina exatamente pelo potencial de negócios e pelos
      recursos naturais.
      Alguns militares também foram espionados como revelado no wikileaks. Posivelmente os nacionalistas contrários
      ao neoliberalismo do titio sam.
      Infraestrutura, aeroportos, rodovias, telecomunicações, água, luz, etc, devem ter estruturas públicas. Jamais na mão do big brother e seus parceiros.
      Compete ao povo pode defender sua pátria.

    José Ruiz Talhari Júnior

    12/03/2017 - 11h42

    ele fez isso.. a Dilma não agiu..

    Irion

    12/03/2017 - 14h02

    Ao contrário de Assad, Dilma não era confiável para Putin, assim como Kadafi também não era (chegou a patrocinar Sarkozy). É difícil ajudar pessoas teimosas, que desconfiam da intenção… Além do mais, parece que Dilma tinha uma espécie de “queda” pelo Império, talvez Síndrome de Estocolmo. Nunca o denunciou, deixou o Obama encetar o bombardeio da Líbia de dentro do Palácio do Planalto. Também nunca denunciou a Rede Globo, braço midiático do Império no Brasil. Assim fica difícil combater o inimigo, ou receber ajuda da parte contrária, quando você se recusa a identificá-lo ostensivamente…

Irion

11/03/2017 - 20h42

Excelente! As análises do Pepe Escobar (que é brasileiro), são imperdíveis para quem gosta de geopolítica! Parabéns a “O Cafezinho” por divulgar aqui. (excelentes são também as do “The Saker”)

Pedro Morais

11/03/2017 - 23h34

Luiz Arlochi

Daniel OrtinsSalerno

11/03/2017 - 23h19

Desculpa mas esse assunto foi amplamente divulgado aqui na GB pela BBC. O World at One dedicou quase 20 minutos pra debater esse vazamento.

    O Cafezinho

    11/03/2017 - 23h22

    Eu acho que Escobar se refere à midia privada norte-americana e seus satélites (inclusive no Brasil). Além disso, Escobar denuncia a tentativa de misturar o vazamento com a histeria anti-Putin da mídia norte-americana.

    Daniel OrtinsSalerno

    11/03/2017 - 23h59

    Vc está certo mesmo, deve ser isso.


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