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Ceci Juruá: não há vácuo de poder

Vácuo de poder x fundamentalismo de mercado, por Ceci Jurá QUI, 09/03/2017 – 15:48 ATUALIZADO EM 09/03/2017 – 17:21 Por Ceci Juruá, no Jornal GGN Recorrentemente há artigos na imprensa enfatizando que temos, no Brasil atual, um vácuo de poder. É difícil aceitar este ponto-de-vista, pois há múltiplas manifestações do poder político federal que sinalizam […]

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Vácuo de poder x fundamentalismo de mercado, por Ceci Jurá

QUI, 09/03/2017 – 15:48
ATUALIZADO EM 09/03/2017 – 17:21

Por Ceci Juruá, no Jornal GGN

Recorrentemente há artigos na imprensa enfatizando que temos, no Brasil atual, um vácuo de poder. É difícil aceitar este ponto-de-vista, pois há múltiplas manifestações do poder político federal que sinalizam o oposto. Eu destacaria:

-os recentes debates ocorridos no Congresso e o resultado das votações, onde sistematicamente predomina o ponto-de-vista do Governo Federal;

-o encarceramento de inúmeras personalidades de oposição ao Governo, cuja culpa ou responsabilidade em atos tidos como ilícitos não são maiores do que as que poderiam ser atribuídas a membros do poder instalado; bons exemplos são Marcelo Odebrecht, José Dirceu e o Almirante Othon;

-o desmantelamento do setor nacional da engenharia civil e militar; sem maiores protestos por parte dos setores majoritários da sociedade, sobretudo do meio empresarial;

-a nomeação de dois quadros políticos para o ministério de Relações Exteriores, em detrimento dos quadros do Itamarati; com o agravante que se tratou, até agora, de políticos suspeitos de envolvimento em atos que poderiam ser considerados ilícitos, embora ainda não denunciados;

-a utilização de força policial e militar contra situações de agitação por parte de movimentos sociais ou sindicais; sem maiores manifestações por parte das organizações e entidades de defesa dos direitos humanos e da ordem democrática;

-entre maio e setembro de 2016, no espaço de 4 meses, o Governo Federal editou 19 medidas provisórias, média mensal de quase 5 MP’s, sem que nenhuma delas tenha sido derrubada pelo Congresso (cf. Agencia Senado, setembro de 2016); até esta data (março de 2017) já foram lançadas em torno de 30 medidas provisórias pelo Governo Federal (de números 726 a 755), em espaço inferior a um ano, média mensal em torno de 3 MP’s desde o afastamento da presidente eleita em outubro de 2014;

-não se poderia deixar de citar o recuo aparente da taxa Selic de 14,15 para 12,25% (queda de 1,9 ponto), enquanto a inflação medida pelo IPCA ou pelo IGP-DI recuou na mesma proporção (o IGP-DI anual medido pela FGV, passou de 7,18% para 5,26%, queda de 1,92 ponto); comparando-se os dois índices verifica-se que a taxa real de juros, SELIC, permanece em torno de 7% anuais, sem redução portanto em valores reais.

Há também, até agora, nítida deterioração dos dados relativos à economia brasileira. São indicadores: aumento do desemprego, dívida pública bruta superior a 70% do PIB, ampliação do déficit público primário e nominal, deterioração da situação econômica das famílias, com perda de poder aquisitivo em torno de 10% no último triênio, fechamento de empresas, desnacionalização progressiva.

Apesar da deterioração verificada, não há manifestação pública das entidades sindicais patronais e de trabalhadores contra a política econômica adotada pelo Governo instalado a partir de maio de 2016. Salvo honrosas exceções, caso da ABIMAQ. Também inexiste um programa alternativo de política econômica por parte das frágeis oposições.

Tampouco se conhece, da parte do Governo, um programa claro, objetivo, sinalizando uma estratégia de retomada do crescimento. Apenas promessas, vagas, como as expectativas em torno dos efeitos das reformas em curso, reformas de cunho neoliberal e apontando para o “fundamentalismo de mercado”.

Fundamentalismo de mercado que, em momento algum de nossa história, foi capaz de promover o desenvolvimento econômico e social. Menos capaz ainda de encaminhar políticas de redução das desigualdades sociais, aspiração histórica do povo brasileiro.

Entre as manifestações de poder deste fundamentalismo de mercado pode-se apontar a manutenção da taxa de juros SELIC, em nível de 7% reais. Com a atual divida publica bruta, a taxa SELIC deverá absorver cerca de 5% do PIB, pouco mais de R$ 300 bilhões, neste ano de 2017, apenas para rolar a dívida, isto é pagar os juros anuais.

São recursos improdutivos, estes destinados à rolagem da dívida pública, destinados tão somente a saciar o apetite voraz dos rentistas, nacionais e internacionais. Constituem no nosso entender o indicador mais adequado, e forte, para sinalizar que não há vácuo algum de poder. Há um poder central forte, capaz de impor um sacrifício deste porte a uma população majoritariamente pobre e incapaz de fazer frente às necessidades materiais do cotidiano de uma família.

Um poder que tende para o despotismo e para a adoção de medidas que irão contribuir para o empobrecimento dos brasileiros e, é provável, para o retorno de populações miseráveis vagando tristemente em busca de sobrevivência.

Diante das considerações acima, parece-nos impossivel falar em vácuo de poder no Brasil atual.

Ceci Juruá, economista, doutora em políticas públicas, membro do Conselho Consultivo da CNTU.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Sidnei

10/03/2017 - 16h41

Meus caros,

Michel temer não é fraco! Já disse isso aqui, uma outra vez.
É o maior filha da puta!
O trabalho porco, sujo, torpe, determinado pelo imperialismo, feito pelos imperialistas acontece enquanto ele faz a testa de ferro. É isso ele é o testa de ferro e por detrás um bando de ladrões, isto é, de pessoas interessadas em enriquecer muito, muito, e rapidamente. Que se dane o país. Pior que se dane o povo ( eu ouvi esta ladainha a vida toda, só que agora eles não estão tendo nenhum escrúpulo em relação à deterioração da sociedade).
Temer renuncia em 2018 abrindo espaço para eleição indireta.
Ou ainda se faz um “cambalacho”, o Gilmar já soprou, pra que a chapa seja cassada em 2018 e ele concorra por via indireta. Aí, Meu Deus!, até o mais tapado coxinha será capaz de ver que a direita tem que cair pra sempre!

José Antonio

10/03/2017 - 14h49

A dra. Ceci fez uma análise crítica e objetiva do que ocorre hoje no Brasil, muito bem comentada e complementada por Algopi. Não há vazio de poder no Brasil. O problema com o “nosso presidente” para as elites que nos impuseram o golpe, é que ele não é palatável para a maioria da população para implantar as políticas empobrecedoras definidas por essas mesmas elites. Não sei se ele fica no governo até o final do mandato (o país vai mal e ele não consegue convencer ninguém do contrário; externando sempre muita falsidade com as “espetaculares perspectivas econômicas” que defende). Pode ser que seja necessário que ele saia para não desagradar mais ainda as maiorias afetadas pelas “medidas impopulares” divulgadas por um presidente anacrônico de um Brasil de mente escravocrata do século XIX. Michel. sombrio, tão sem carisma quanto usurpador. Um problema para as elites acharem o cara certo delas. Onde estará este cara? Quem é ele? Antes que as massas melhor se organizem, eles tem de dar um jeito de sustentar o golpe. O Temer não é o cara… Vão ter de arrumar outro. Eleições diretas agora, não. PSDB para 2018, sim. É o arremate do golpe.

Jania

10/03/2017 - 14h16

Gostaria de fazer uma unica pergunta: ONDE ESTÃO OS SINDICATOS? Não vejo nada a respeito da realidade no ambiente de trabalho, praças, bares, ou sei la onde!! Precisamos ir para as ruas com urgencia!!

ALGOPI

10/03/2017 - 13h07

É evidente que um poder ilegitimo também é poder. E considerando que um poder ilegitimo, cada vez mais, vai ter que lançar mão da força para exercer seu poder, fica a sensação de vácuo, mas não de poder. De legitimidade. De representatividade. Quem fala por quem hoje? Os paneleiros não querem dar nenhuma vantagem à esquerda e temem criticar o atual governo. O estamento buro-meritocrático avança sobre os poderes legislativo e executivo, em consonância com os gritos de algumas ruas, de que o problema do país é a política. Outras ruas já gritam que a solução do país é a política. Entre umas e outras ruas existem os órgãos de imprensa, o verdadeiro legitimador dos poderes estabelecidos. Estranha circunstancia hoje é que a audiência parece não ser mais o maior objetivo a ser conquistado pela midia. Enxergam outro filão bem mais lucrativo: ocupar o poder com seus bonecos de ventríloco enquanto lavam cérebros da audiência com o detergente do medo e da distração… e da mentira.


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