(Temer tirando todo mundo para trouxa. Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)
Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
Michel Temer falou o seguinte, hoje, sobre a proposta de flexibilização da jornada de trabalho, incluída no projeto de reforma trabalhista enviado pelo governo ilegítimo ao congresso:
O parcelamento do gozo de férias em até três vezes pode interessar tanto ao empregado e como (sic) ao empregador. Depende de um acordo de vontades. Pactuar a forma de cumprimento da jornada de trabalho também depende de vontade. Pode ser que as pessoas digam: olha, para mim é melhor trabalhar 10 horas por dia e folgar 3 ou 4 dias por semana ou ter 3 ou 4 dias para trabalhar em outro lugar.
Temer, e de resto toda a máquina de propaganda da direita, tratam os brasileiros como idiotas.
“Depende de um acordo de vontades”, diz o (péssimo) dublê de Frank Underwood.
Ora, eu, você, Michel Temer e qualquer um que tenha tido um emprego na vida sabemos que a relação entre patrão e empregado é absolutamente desigual.
No mundo do direito inclusive há um termo para o polo mais fraco de uma relação, qualquer que seja ela: hipossuficiente. O doutor Michel, respeitado constitucionalista, deve ter matado essa aula.
No direito do consumidor, por exemplo, a parte hipossuficiente é o consumidor, tendo em vista principalmente o poder econômico dos monopólios que controlam praticamente tudo o que consumimos.
No direito do trabalho a parte mais vulnerável é, obviamente, o trabalhador. Além da discrepância de poder econômico entre as partes há a subordinação e a dependência do trabalhador em relação ao patrão. Essa dependência do emprego fica ainda mais acentuada em tempos de crise econômica, como os que vivemos.
Mas Temer quer que você acredite que se trata apenas de um “acordo de vontades”. No mundo de mentirinha da direita o trabalhador senta à mesa com o empregador e ambos negociam alegremente como será a jornada de trabalho: “Acho que quero folgar 4 dias na semana, tudo bem chefe?”
Os sindicatos obviamente não fazem frente ao poder do empresariado. Além dos sindicatos pelegos, a forte campanha midiática contra o sindicalismo afasta os trabalhadores do que poderia ser um forte contraponto ao poder econômico dos empregadores. Os sindicatos têm cada vez menos poder de barganha.
Tirar os direitos dos trabalhadores da lei para colocá-los em disputa entre duas partes totalmente assimétricas só beneficiará aqueles que querem aumentar seus lucros às custas do suor alheio. O apoio ferrenho da FIESP, ou seja, do grande empresariado paulista, à ideia da flexibilização das leis trabalhistas não deixa margem para dúvidas.
Outro argumento genial dos defensores da flexibilização é o de que a CLT é velha e está ultrapassada, sendo necessária a sua modernização. Tentam confundir as pessoas, de forma primária, ao associar “moderno” a “bom”.
Mas a gente entende Temer, Skaf, Globo e companhia.
Eles não podem simplesmente revelar que o objetivo real por trás da proposta de “flexibilização” (que grande eufemismo!) das leis trabalhistas é diminuir o valor da mão de obra para aumentar a margem de lucro do empresário. É claro que se a direita falar a verdade não convence um mísero trabalhador.
Resta tirar justificativas mais palatáveis da cartola, não importa o quão bizarras elas sejam.