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Brasil: terra onde os próprios industrialistas atacam… a indústria

Pedro Passos ou a decadência dos industrialistas SEX, 24/02/2017 – 09:53 ATUALIZADO EM 24/02/2017 – 12:14 Por Luis Nassif, no Jornal GGN Ao longo do século 20, o Brasil teve grandes industrialistas, empresários com visão nacional capaz de influenciar políticas públicas, desde os históricos Roberto Simonsen e Jorge Street até os recentes Cláudio Bardella, Paulo […]

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Pedro Passos ou a decadência dos industrialistas

SEX, 24/02/2017 – 09:53
ATUALIZADO EM 24/02/2017 – 12:14

Por Luis Nassif, no Jornal GGN

Ao longo do século 20, o Brasil teve grandes industrialistas, empresários com visão nacional capaz de influenciar políticas públicas, desde os históricos Roberto Simonsen e Jorge Street até os recentes Cláudio Bardella, Paulo Cunha, Jorge Gerdau.

Aparentemente, este ciclo acabou.

Os presidentes da FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo) e FIRJAN (do Rio de Janeiro) sequer são industriais. E o respeitado IEDI (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial) é uma sombra de um passado glorioso, sob a batuta dos últimos grandes industrialistas.
?
O artigo de hoje na Folha de Pedro Passos, sócio da Natura (https://goo.gl/UVKloQ) é a pá de cal em uma era. Não pelo artigo em si – um amontoado de argumentos primários – mas pelo histórico de Passos que, em tempos recentes, presidiu o IEDI.

Passos critica a política de conteúdo local do pré-sal. Diz que “tais manifestações despertam de sua hibernação sempre que interesses cristalizados são questionados”. Os interesses que hibernavam eram os da indústria nacional, diz o ex-presidente do IEDI, a respeito de um setor que ele próprio representava.

De fato, são políticas tão anacrônicas que, para participar de uma licitação nos Estados Unidos, a Embraer precisou montar uma empresa norte-americana; e, para vender para a China, instalar uma empresa por lá. Mas deixa para lá, que não é a principal impropriedade cometida por Passos.

Diz o nosso ex-industrialista:

“Políticas de proteção podem ser praticadas para setores novos, para dar tempo a que as empresas se tornem competitivas enquanto amortizam seus investimentos. A distorção é quando se perpetuam, desobrigando-as de aprimorar continuamente o que produzem para serem competitivas”.

Está se falando de um setor que está na primeira infância, que nasce com o pré-sal, de uma política implasntada há pouco mais de oito anos. Há todo um levantamento do histórico de aprendizado dos novos setores, das experiências de desenvolvimento conjunto de tecnologia com a Petrobras, da estratégia para incorporar tecnologia estrangeira. O ex-presidente do IEDI, no entanto, invoca um argumento genérico, padrão comentaristas da CBN, para iludir ouvintes não especializados.

As inúmeras discussões sobre prós e contras das políticas de conteúdo nacional, são reduzidas a isto, pelo nosso notável pensador:

“É bastante duvidoso o benefício econômico e social de tais incentivos, apesar do apoio de economistas e de setores industriais, que se articulam para preservar esses interesses regressivos. Ao defender o indefensável, essa vanguarda do atraso parece ignorar que as benesses concedidas para alguns setores acarretam elevado custo para a sociedade sem deixar claro os frutos que proporcionam”.

Passos sempre foi um cultivador de modismos midiáticos. Mas, deste vez, superou-se. As centenas de milhares de empregos gerados não foram frutos claros da política. Do que, então?

Há estudos do Banco Mundial sobre o tema, uma montanha de estudos técnicos gerados no âmbito do Prominp. Mas nada disso interessa. Interessam apenas chavões de uso geral porque, aparentemente, pensar dói.

“É só observar o que ocorreu com a microeletrônica, a informática e o setor automotivo. A pretexto de apoiar a pesquisa local e criar empregos, as políticas de conteúdo local provocaram graves distorções que permanecem até hoje nesses mercados”, diz nosso notável pensador..

Ou seja, ele vai lá atrás, buscar um desastre dos tempos do regime militar, para atacar uma política contemporânea. A política de conteúdo local do pré-sal estuda tipos de equipamento que podem ser produzidos no país, define as condições de competitividade, a curva de aprendizado, vale-se do poder de compra da Petrobras para induzir fornecedores externos a transferir tecnologia. Tudo isto é deixado de lado para que Passos possa recorrer a argumentos completamente descontextualizados, típicos de um economista de segunda classe do mercado

O fato de sua principal atividade, hoje em dia, ser o mercado financeiro não lhe confere o direito de se igualar a qualquer estagiário de departamento econômico de corretoras.

Quanto ao setor automotivo, o projeto de conteúdo local atraiu as maiores montadoras do globo para cá, modificando totalmente o perfil do setor. Um tema que comporta uma análise complexa de custo-benefício é reduzido por Passos a uma linha: “é só observar o que ocorreu com o setor automotivo”. Observar o quê, cara pálida?

Termina taxativo:

“Somos favoráveis aos instrumentos de indução à fabricação local e ao desenvolvimento tecnológico desde que não se tornem no meio empresarial muletas para a acomodação danosa à competitividade, à inovação e ao emprego”.

Nós, quem? A Natura é um belíssimo exemplo de empresa vitoriosa, mas em um mercado de baixo perfil tecnológico. Hoje em dia, Passos é um investidor bem sucedido, um dos bilionários do país. Apenas isso.

Recomendo a Passos a leitura da Carta IEDI, de 11 de novembro de 2016:

“A Carta IEDI de hoje faz uma síntese da visão da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad, na sigla em inglês) sobre o papel da indústria no desenvolvimento econômico, persente no capítulo 3 (O desafio do catch-up: industrialização e mudança estrutural) do seu recém-publicado relatório Trade and Development de 2016.

Nesse estudo, a Unctad reafirma a importância crucial da industrialização na promoção do desenvolvimento e do crescimento econômico sustentado e ressalta que “nenhum país tem sido capaz de alcançar a transformação estrutural bem sucedida sem a sinalização e o empurrão visionários de políticas governamentais específicas e seletivas”.

No mundo atual de economia globalizada, a indústria de transformação mantém, de acordo com a Unctad, imenso apelo em razão do seu potencial para gerar crescimento da renda e da produtividade, os quais se espalham por toda a economia através das conexões de produção, de investimento, de conhecimento tecnológico, da geração de renda e do ciclo virtuoso do consumo. O avanço sustentável do catch-up industrial e a aceleração da transformação estrutural requerem elevada taxa de investimento em capacidade produtiva e em capacidades tecnológicas, que dão origem a ganhos de produtividade”.

Passos é a comprovação de que a mediocrização da vida pública no país não poupou nenhum setor.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Tetê Gomide

25/02/2017 - 04h07

Tetê Gomide

25/02/2017 - 04h07

Tetê Gomide

25/02/2017 - 04h07

Lucas Cordeiro

24/02/2017 - 18h32

No brasil não existe industrialista. Existe especulador com indústria

Luiz

24/02/2017 - 15h22

Na verdade, o empresariado brasileiro sempre foi golpista. É o lucro acima de qualquer coisa. O grande problema é que eles estão se autodestruindo. Mas isso não vem ao caso.

Luzia Oréfice

24/02/2017 - 16h43

É muito louco isso, mas é verdade. É como mirar bem e atirar no próprio pé, mas a alienação quanto à realidade faz as pessoas fazerem exatamente assim.


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