A adesão da Lava Jato ao novo governo não demorou muito. Após os atritos no início, as coisas se ajeitaram, como não deveria deixar de acontecer, visto que o governo que aí está foi posto pela Lava Jato.
O fato de termos uma porção de ministros (até perdi a conta) indiciados ou investigados pela Lava Jato não importa.
O procurador da Lava Jato não apoiou a indicação de Alexandre de Moraes, presente na delação da Odebrecht e recebedor de um misterioso pagamento (ele não explicou e ficou por isso mesmo) de R$ 4 milhões de uma outra “empreiteira da Lava Jato”?
E agora, eu topo, via Tijolaço, com a seguinte nota no Painel da Folha:
As perguntas encaminhadas por Eduardo Cunha a Michel Temer podem se voltar contra o ex-deputado. O Ministério Público acendeu o alerta sobre o teor dos questionamentos e entende que, se for caracterizado algum tipo de pressão, pode vir a usá-los como argumento de que Cunha ainda tenta influenciar a investigação da Lava Jato e não deve ser solto. A tese encontra eco em parte do STF que não tem intenção de libertar o peemedebista quando seu habeas corpus chegar ao tribunal.
Apenas discordo do adjetivo usado por Fernando Brito: “intrigante nota”.
Não tem nada de intrigante.
É muito previsível.
Diante de Eduardo Cunha, o juiz Sergio Moro defendeu abertamente o presidente Michel Temer.
Há poucas semanas, todavia, a Lava Jato chamou o “porteiro do Triplex”, que lançou improprérios e grosserias ao advogado e ao presidente Lula, e ainda foi defendido por Sergio Moro.
Quando FHC veio depor, Sergio Moro pediu desculpas por três vezes, por “incomodá-lo”.
A própria Lava Jato está cozinhando a pizza que irá servir aos brasileiros.
Tudo isso serve de lição aos inocentes, à esquerda e à direita, que acreditavam que uma investigação assim, que não respeita nada, poderia ser séria.
A Lava Jato articulou o golpe, e agora adere, abertamente, ao governo golpista.
Apoia o seu quadro no STF, e institui o que o Tijolaço chama de “delação castigada”.
Se delatar o PT e Lula, pode falar qualquer mentira. Não precisa de provas, de nada.
O “prêmio” da delação vale somente se entrar no jogo.
Se insistir em delatar alguém importante para a estabilidade do golpe, então será castigado.
Ainda há alguns ex-poderosos que podem ser sacrificados no circo romano: de preferência políticos ou empresários que puderem ser associados, narrativamente, ao PT.
Com Alexandre de Moraes no STF e um novo procurador-geral da república ligado intimamente a Aecio Neves e ao PSDB, está tudo novamente dominado.
[Arpeggio – coluna política diária, por Miguel do Rosário]