Eu quis reproduzir esse post, do Sergio Saraiva, porque acho que faltou dar um pouco mais de sentimento. Nesses tempos sombrios, a linguagem puramente racional não dá conta.
Então vamos lá. Peço perdão pela vulgaridade, mas um palavrãozinho, disfarçado delicadamente em sigla, é irresistível.
PQP!
O prefeito corta em 53% um programa de distribuição de leite voltado para crianças, no auge de uma sinistra crise econômica, e a Folha faz uma manchete dizendo que “Doria recria Leve Leite com enfoque nos mais pobres e sem adolescentes”?
Que raios de jornalismo é esse?
Estamos falando de leite para crianças, meu Deus! E isso no meio da maior crise econômica em décadas!
O qualificativo chapa-branca me parece um eufemismo.
Isso é coisa de cafajeste, de mau caráter, e paro por aqui para não perder a elegância de vez.
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O leite das crianças e o jornalismo que não ousa dizer o nome
por Sérgio Saraiva, em seu blog (hospedado no portal GGN)
QUI, 16/02/2017 – 07:46
ATUALIZADO EM 16/02/2017 – 07:47
Doria corta mais da metade do Leve Leite
?
Esta é a manchete correta.
A partir de março de 2017, o Programa Leve Leite da prefeitura de São Paulo deixará de atender às crianças com mais de 7 anos de idade. Hoje, o programa atende crianças da rede municipal de ensino de 0 a 14 anos.
João Doria determinou uma redução de mais de 53% em relação ao atendimento atual. O programa será reduzido a menos de sua metade. Mais de 480 mil crianças deixarão de receber o benefício do fornecimento de leite.
Além da redução da faixa etária, o programa limitará a entrega a famílias com renda familiar de até R$ 2.811,00 e reduzirá a entrega para 1 kg por aluno por mês, ao invés dos 2 kg atuais.
Uma medida de impacto direito na vida das famílias mais pobres, as que se utilizam do ensino municipal. Uma redução drástica de benefícios.
Porém vejamos como a Folha de São Paulo apresentou tal medida:
“Doria recria Leve Leite com enfoque nos mais pobres e sem adolescente”.
O uso do eufemismo “recriar” no local de reduzir e chamar criança de 7 anos de adolescente é jornalismo que não ousa dizer o nome: “falta de vergonha na cara”.
Com tamanho corte de benefícios, João Doria pretende economizar mais de R$ 180 milhões.
Somente para termos uma comparação, João Doria anunciou, há poucos dias, que pretende gastar R$ 100 milhões este ano com propaganda.
Fácil entender o porquê do tom ufanista da manchete.