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A lição de Nietzsche e o moralismo golpista nosso de cada dia

(Nietzsche – “Desconstruindo gigantes” by Emerson Pingarilho http://tinyurl.com/c4lontc) A política brasileira é tão complicada, tão cheia de armadilhas sutis, tão… diabólica, que eu não paro de pensar numa frase de Raulzito: Pena eu não ser burro, não sofria tanto. Não que eu também não seja burro. Provavelmente sou muito burro, porque não creio que seja […]

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(Nietzsche – “Desconstruindo gigantes” by Emerson Pingarilho http://tinyurl.com/c4lontc)

A política brasileira é tão complicada, tão cheia de armadilhas sutis, tão… diabólica, que eu não paro de pensar numa frase de Raulzito:

Pena eu não ser burro, não sofria tanto.

Não que eu também não seja burro. Provavelmente sou muito burro, porque não creio que seja possível sobreviver ao mundo de hoje sem uma boa dose de estupidez. Mesmo assim, talvez por não ter a quantidade suficiente de estupidez, eu sofro.

Eu gostaria de fazer algumas observações sobre a coluna de Bernardo Mello Franco, comentada hoje também pelo Tijolaço.

Vou reproduzir aqui o mesmo trecho trazido pelo Tijolaço.

Temer oficializou a blindagem
Bernardo Mello Franco, na Folha

Alguns políticos são mestres em fazer uma coisa e anunciar o seu contrário. Michel Temer lembrou que domina a arte nesta segunda (13), ao divulgar novas regras para a demissão de ministros.

Com uma penca de auxiliares na mira da Lava Jato, o presidente convocou a imprensa para dizer o seguinte: “O governo não que blindar ninguém, e não vai blindar”. Em seguida, ele acrescentou: “Não há nenhuma tentativa de blindagem”.

Não é preciso ir longe para ver que o discurso não para em pé. Há menos de duas semanas, Temer recriou um ministério para Moreira Franco. O cargo deu foro privilegiado ao peemedebista, que foi citado 34 vezes numa delação da Odebrecht. Em português claro, Temer nomeou o aliado para blindá-lo da Justiça.

Ao anunciar a nova cartilha, o presidente afirmou : “Se alguém converter-se em réu, estará afastado”. Parecia uma medida moralizadora, mas era o oposto disso. O presidente deu um salvo-conduto aos auxiliares investigados por corrupção. A partir de agora, eles poderão ser delatados à vontade até que os inquéritos se transformem em ações penais.

De acordo com Temer, só será “afastado provisoriamente” quem for alvo de denúncia formal da Procuradoria-Geral da República. A demissão será reservada ao ministro que conseguir a proeza de virar réu no Supremo Tribunal Federal.

Na prática, o presidente oficializou a blindagem dos auxiliares encrencados com a Justiça. A lentidão do Supremo se encarregará de manter a equipe unida. Em quase três anos de Lava Jato, a corte só recebeu cinco denúncias contra políticos.

Minha opinião é a seguinte: Michel Temer, neste caso, está recebendo uma descarga dupla, vinda dos dois principais operadores do golpe: as castas e a mídia.

Bernardo Mello Franco, apesar de seu ar liberal progressista de oposição, é apenas mais um flautista delicado e talentoso tocando na orquestra do estado de exceção. Por um motivo simples: por trás do pseudo-esquerdismo confortável do “fora Temer”, há um desprezo latente pela presunção da inocência.

Por que Michel Temer teria de demitir “delatados” ou “investigados”?

Eu acho muito triste que o Brasil em peso, à direita e à esquerda, tenha sucumbido à agenda degradante imposta pelos meganhas do judiciário.

Temer é um golpista desgraçado, um dos personagens mais odiosos da história da nossa república, e seus ministros não o são menos.

Mas daí a entregar o poder aos golpistas do judiciário e do MP, com suas “investigações” e “delações”, vai uma distância muito grande!

Se Temer demitir um ministro porque ele foi “delatado”, então o poder do MPF e do Judiciário será absoluto, porque já ficou bem claro que os meganhas conseguem extrair qualquer delação dos corruptos jogados em suas masmorras.

O dono da OAS já provou exatamente isso. Num momento, falou que a doação para a eleição de Dilma era propina. Quando se descobriu que a doação tinha sido nominal para Michel Temer, ele mudou imediatamente de ideia e disse que a doação era legal.

E tudo isso sob supervisão do Ministério Público Federal.

Em torno da gritaria contra o “fim da Lava Jato” há um grande teatro. O consórcio golpista, que inclui a própria Lava Jato, procura a melhor maneira de dar fim à operação (ela terá que terminar um dia não? ou virou eterna?), e ao mesmo tempo emplacar uma narrativa que permita consolidar o golpe sem passar a imagem de “pizza” aos milhões de coxinhas manipulados pela mídia.

Procura-se então uma saída honrosa para a Lava Jato, que necessariamente implicará em simular uma pizza qualquer, visto que não será possível, como talvez queiram os mais fanáticos, prender metade do congresso nacional e toda a cúpula do executivo.

A esquerda começou a jogar um jogo perigoso, que ela acha, no entanto, que é o único que ela pode jogar. Agora que as investigações já produziram um efeito devastador em seu campo, prendendo seus tesoureiros, seus ministros, indiciando seu líder máximo, a esquerda está tentando empurrar a Lava Jato para cima do governo. A tática serve, além disso, para atiçar a disputa de poder entre esses dois grupos rivais que lideraram o golpe: burocracia versus mídia.

Um comentarista do blog fez uma observação inteligente sobre o atual dilema da esquerda: denunciar os arbítrios da Lava Jato e ao mesmo tempo não deixar que o atual governo escape ileso. Como fazer?

Os trolls já notaram que há contradições nesse jogo, e o denunciam, malandramente: ué, vocês são contra a Lava Jato quando ela pega petista e são a favor quando ela pega a oposição? Denunciam o super-peso dado a delações quando o alvo é gente sua e as corroboram quando tucanos e demais golpistas são atingidos?

Os trolls estão certos. A esquerda terá de enfrentar, uma hora ou outra, a realidade de frente: ela nunca esteve tão sozinha: todo o aparato de Estado foi para a direita e tornou-se golpista. Por isso chamamos de Golpe de Estado.

Por isso eu acho errado, a essa altura do campeonato, centrar fogo em Sergio Moro. O autoritarismo golpista, o mau caratismo processual, corroeu o sistema judicial como um todo, como um incêndio devorador. É duro constatar, mas já adentramos, há pelo menos um ano e pouco, no fascismo. Não há juiz ou promotor capaz de resistir a onda. Seja quem for que pegar o processo de Lula, sofrerá a pressão brutal de todo o sistema – e cederá ao fascismo. Não tem como resistir. Não digo isso para passar a impressão de que não há saída. Há sim, mas pela política.

Eu denuncio essas contradições da esquerda, essa tentativa de jogar o jogo com as regras do adversário, desde a Ação Penal 470. Não bastava denunciar as injustiças contra José Genoíno e Dirceu. Era preciso também mostrar que os publicitários mineiros presos por aquela farsa também foram vítimas. Eu estudei os processos. Até mesmo a herdeira do banco Rural havia sido presa injustamente. Entretanto, por “esquerdismo”, as denúncias foram apenas focadas nas estrelas do petismo. Até mesmo Pizzolato, por ser desconhecido e ter má fama nos meios sindicais, foi sacrificado às feras, apesar do seu caso oferecer a melhor oportunidade de denunciar os erros grotescos, criminosos mesmo, de todo aquele processo.

Além disso, eu não sei se quero “derrubar” Michel Temer. Eu gostaria de anular o impeachment, que entendo como mais uma das tantas farsas midiático-judiciais que tem corroído nossa democracia desde a Ação Penal 470. Mas não tenho, para ser franco, nenhuma esperança de que isso seja possível e já estou cansado de apostar para perder. Então, antes de derrubarem Michel Temer, eu quero saber: para botarem quem no lugar? Ou querem fazer o mesmo que fizeram com o Rio? Deixar o estado acéfalo, sem governo, entregue ao caos? É isso que querem para o Brasil?

Muito se fala agora de “superar o discurso do golpe”. Acho essa ideia uma maravilha. Eu estaria super-preparado para falar de cultura,  mobilidade urbana, indústria, energia. Meu sonho era fazer uma série de posts sobre trens de alta velocidade. Como poderíamos ligar as grandes cidades brasileiras por linhas férreas?

Mas não é a gente que tem obsessão pelo golpe. É o golpe que tem obsessão pela gente. Hoje eu fico sabendo, por exemplo, que o procurador-geral da república denunciou… Jandira Feghali, por uma coisa completamente esdrúxula, uma escaramuça qualquer que a deputada teve com técnicos eleitorais em 2014. Ou seja, Janot não denuncia Aécio, mas denuncia Jandira, uma das líderes da oposição. É evidente que isso é uma ação política que visa enfraquecer o que ainda resta de oposição combativa ao governo Temer.

Isso é o golpismo!

Como “superar” o discurso de golpe se o golpismo tem obsessão em prender Lula? Como esquecer aquele power point do Dallagnol?

Há muito tempo, portanto, eu já me decidi. Eu defendo a política. O voto. O sufrágio universal. Sou contra a delação premiada. Ah, foi a Dilma que aprovou… Não me interessa. Erro dela. Mais um dos erros dela, que não podia jamais ter caído nas esparrelas do punitivismo reacionário. A delação premiada é uma lei dos Estados Unidos, que tem uma outra realidade. Antes de copiar o pior dos EUA, tínhamos que importar a lei de mídia, por exemplo. Trazer uma lei penal americana sem antes a sua lei de mídia é um erro.

E tudo isso por falta de… comunicação, que é uma via de duas mãos. O governo não sabia falar e também não sabia ouvir. Os quadros do governo interpretaram as “jornadas de junho” através dos editoriais da Globo. Essa é a mais triste verdade, e daí compraram o discurso anticorrupção e defenderam novas leis, que por sua vez nos levaram até aqui: golpe, governo de ladrões, um judiciário completamente enlouquecido (inclusive no sentido clínico), uma economia arrasada.

Como alguém espera governar qualquer cidade, estado, como espera presidir o país, com um judiciário assim? Juízes estão cassando mandatos, prendendo vereadores, bloqueando nomeações de ministros, impedindo obras, a depender do humor do dia. Amanheceu um dia chuvoso e triste? Não dormiu bem? Então vamos prender um ministro, um governador, cassar o mandato do prefeito e tudo vai ficar bem!

A democracia brasileira está completamente estrangulada por um judiciário hipertrofiado!

Claro que o autoritarismo judicial também beneficia, eventualmente, o campo popular. Um juiz mandou bloquear, por exemplo, as concessões criminosas que a Petrobrás está tentando fazer. Alguém acredita que a Petrobrás não conseguirá derrubar essa liminar e que, ao cabo, entregará nossas jazidas do mesmo jeito? Qual o saldo disso? Zero!  Essas decisões, mesmo as que nos beneficiam, são o tipo de coisa que apenas nos debilita e nos afastam da política. São, por isso mesmo, imensamente negativas para o país, para o povo, para a democracia.

O campo popular só tem uma saída: a política. E a denúncia ao golpe tem de ser coerente. Tem de vir junto com a defesa de um judiciário democrático, imparcial e justo! A justiça brasileira precisa se modernizar e já que tem um ministro falando tanto em “iluminismo”, então que tenha coragem de citar Cesare Beccaria, que inventou a justiça iluminista, que até hoje governa a doutrina penal moderna: a justiça precisa ser branda (branda! e não severa!), rápida e humanista.

Eu não vou ficar feliz com novas prisões da Lava Jato. Não quero ver Michel Temer preso. Eu queria apenas vê-lo fora da cadeira da presidência da república, porque ele não se elegeu para esse cargo.

Eu não quero ver tucanos presos. Eu quero que o povo seja esclarecido sobre o que esse partido defende em termos de políticas públicas, e que, de posse de informações verdadeiras e expostos ao contraditório, a população decida se o quer ou não no poder. Se quiser, irei respeitar a decisão!

Não quero, em absoluto, a cassação do PSDB! Eu acho infinitamente medíocre, autoritário, antidemocrático, as declarações de Gilmar Mendes e de seus capangas na mídia e do MP, que tentavam “cassar” o PT.

Não quero nenhuma empresa destruída! Eu gostaria que houvesse legislações mais avançadas e fiscalização mais adequada, para que nenhuma empreiteira ou grande empresa de construção civil agredisse o meio ambiente, ou se organizasse, em cartel, com outras companhias, para fraudarem licitações. A economia é como uma floresta. Não se pode destruir impunemente uma grande empresa como a Odebrecht sem que haja um efeito sistêmico terrível, com a corda estourando, naturalmente, sempre do lado mais fraco, com explosão da pobreza e da miséria.

Estou terminando a revisão de um romance, de minha autoria, chamado 2046, que é uma ficção futurista na qual o Brasil se torna uma corporocracia, ou seja, um regime dominado por duas grandes organizações corporativas: uma ligada à burocracia, outra ligada à midia. Cada vez mais, contudo, eu me ressinto da concorrência da realidade. Quanto mais desgraça eu boto no romance, mais o Brasil passa à frente e cria uma desgraça maior!

O que me consola é ter existido Nietzsche:

Onde Começa o Bem – Quando o precário olhar humano não é mais capaz de identificar o mal, porque ele se tornou demasiado sutil, o homem aí situa o reino do bem; e a sensação de ter penetrado nesse reino desperta nele todos aqueles sentimentos – de segurança, bem-estar, benevolência – que o mal limitava e ameaçava. Por consequência, quanto mais fraco o olhar, maior é o domínio do bem! Daí a eterna alegria do homem médio e das crianças! Daí o abatimento e tristeza – muito próximos da má consciência – dos grandes pensadores. Friedrich Nietzsche, em ‘A Gaia Ciência’ . Tradução: Miguel do Rosário, com base aqui.

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Miguel do Rosário

Miguel do Rosário é jornalista e editor do blog O Cafezinho. Nasceu em 1975, no Rio de Janeiro, onde vive e trabalha até hoje.

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Comentários

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Ayres

18/02/2017 - 11h49

Enfim um Artigo inteligente, lúcido e objetivo dentro desse cipoal de desinformações, manipulações grosseiras e fascistas por parte do Estado, dos partidos políticos, da mídia mercenária e de sub-cidadãos radicalizados por meio das redes sociais tão mal utilizadas.

ana s.

15/02/2017 - 12h44

Há muito tempo eu não lia algo tão consistente e que batesse tanto com o que penso e sinto a respeito da conjuntura atual e das ciladas que precisamos evitar. Comentava há poucos dias com um amigo sobre o erro de se pedir pra Moreira Franco a mesma interdição perpetrada injustamente contra Lula. É o contrário. Ou somos contra o arbítrio ou não somos.

ANTONIO PAULO DA COSTA CARVALHO

15/02/2017 - 10h31

Não há o que contestar diante de pensamentos racionais. Nem tudo que é racional é ético. Posso preparar uma guerra fratricida racionalmente, Posso educar e conscientizar o cidadão para construir um Brasil melhor racionalmente. O texto acima do Miguel além de racional é realista. Ele analisa um judiciário movido pelo irracional, que bebe em fontes esquisofrêncas como é a midia nativa que dita e lança luz escura nas idiotas cabeças de quem só conhece a lei mas não tem consciência política, nem de povo, nem de nação, nem de civilização. É o reino do ódio, da ideologia sem razão ética. O ideário privatista e inconsequente da Direita nazista contradiz seus próprios princípios. Não há nada pelo social. É bico de tucano, voz de papagaio com alma de urubus. Um país com tanta gente inteligente, poderiam conversar racionalmente pelo bem. Mas não, insistem em entrar nas trevas.

Ruy Mauricio de Lima e Silva Neto

15/02/2017 - 10h31

Este artigo é rigorosamente lapidar. Uma perfeição na difícil arte de abarcar tantos aspectos de nossa atual tragédia em relativamente poucos parágrafos. Entre tantos personagens asquerosos que nos infestam, pelo menos desde 2013, o Judiciário faz agora a sua entrada triunfal e definitiva com a repugnante “sentença” do juiz Celso de Melo, dito O Decano, ou mais precisamente aquele que nos faz entrar definitivamente pelo cano (desconfio, aliás, que esta seja a verdadeira origem etimológica da palavra).Todos se rejubilam, respiram aliviados e ganham estímulo para o atual mister de destruição nacional.E muito sábias suas palavras em prol de nenhuma vingança semelhante às que nos vêm sendo impostas com relação ao PSDB, PMDB, Governo Temer e meios de comunicação. Não devemos fazer o jogo deles, não devemos nos pautar pelo mesmo comportamento odioso e vingativo. Justiça. Povo nas Ruas, estas são as palavras-chave. Mas aí recaímos no impasse final que também é o mais crítico de todos: cadê os agitadores, no bom sentido da palavra (à la Revolução de 1917, que vai fazendo 100 anos, lavada e purificada pelos copy-desks da burguesia). Cadê os grandes líderes para mobilizarem as massas que não podem estar satisfeitas com o status-quo? Cadê os Brizolas, Juliões, Arraes, Darcys, Marcios Moreiras, o Covas original de 68, Brossards, etc, etc.Estão todos assistindo “A Lei do Amor?” Será possível? Aí não tem jeito mesmo.

GusVSZ

15/02/2017 - 10h28

Nietzsche tem muitos defeitos, que eu não vou enumerar. Nas virtudes, só é batido por Heidegger. Até hoje.
Estou de acordo: ir contra a lava-jato significa ir contra o autoritarismo, a tortura, a prisão sem fundamentação, a seletividade, a prova ilícita, o cerceamento da defesa, a execração pública antes de um contraditório judicial.
Comigo aconteceu o seguinte: sujeito sujo, sindicalista, foi preso na rodoviária com 18 mil reais. No grupo do zap, defendi que o delegado deveria imediatamente liberar o sujeito e devolver o dinheiro. Disseram “pode andar com uma casa nas costas, desde que prove a origem” e eu disse não, porque ninguém é obrigado a andar com comprovante da origem de seus bens, cabendo ao Estado-acusação comprovar a origem ilícita, e que não é crime andar com dinheiro vivo, nem há a obrigação de declarar a sua origem. Disseram “se fosse do PSDB você estaria feliz” e eu disse que politicamente sim, mas juridicamente jamais. Nesse caso, felizmente, o delegado liberou o sujeito sujo e devolveu o dinheiro.
Esta é a questão: o Direito acabou. Não há Direito. Há somente a força. A esquerda tem que denunciar os arbítrios da lava-jato e não ficar soltando fogos quando um golpista é preso sem fundamentação, torturado e denunciado sem provas ou com prova ilícita.

TIAGO MAXIMILIANO BEVILAQUA

15/02/2017 - 10h18

Miguel do Rosário, você usa supostos poderes de previsão do futuro para defender sua tese de que a saída é apenas e tão somente pela política. Se não vejamos. Você afirma, “Por isso eu acho errado, a essa altura do campeonato, centrar fogo em Sergio Moro. […] Seja quem for que pegar o processo de Lula, sofrerá a pressão brutal de todo o sistema – e cederá ao fascismo. Não tem como resistir. Não digo isso para passar a impressão de que não há saída. Há sim, mas pela política. Em outra passagem, ”Um juiz mandou bloquear, por exemplo, as concessões criminosas que a Petrobrás está tentando fazer. Alguém acredita que a Petrobrás não conseguirá derrubar essa liminar e que, ao cabo, entregará nossas jazidas do mesmo jeito?” Essas observações podem ser chamadas de argumento? As concessões da Petrobras são criminosas, o juiz Sergio Moro é um descalabro, mas deixemos pra lá, porque você prevê o que acontecerá, segundo seus parâmetros para previsão?
Então vamos combinar o seguinte, esperemos as eleições de 2018, a saída política e deixemos de enfrentar as merdas que o governo golpista promove. As iníquas “reformas” previdenciária e trabalhista, pra que lutar contra se o Congresso vai aprová-las? Não há o que fazer, pois as cartas estão marcadas.

    Miguel do Rosário

    15/02/2017 - 19h02

    Não confunda política com eleição.

Vitor

15/02/2017 - 09h06

É entendi , só mesmo tentando fazer alguém entender de qual forma for que a saída atual não leva a bons caminhos e que devemos ser consciente de qual caminho escolher pra que tenhamos não frutas podres e singelas outras um dia encontrar
este processo leva tempo e paciência e constância no entendimento do que acontece em nosso País.

antonio carlos raposo

15/02/2017 - 09h00

Mais um belo texto!
Que, todavia, reflete o dilema da luta entre a esquerda bonita, abstrata e teórica e a direita prática, safada e golpista.
Pensamento semelhante ao republicanismo dos governos PT. Que estamos vendo no que deu e aonde nos está levando.
Preocupar-se com o que os coxinhas dizem quando atacamos a LJ antes e agora queremos que ela siga e pegue os corruptos da direita, é, desculpe a franqueza, ingenuidade. Aliás, ampliando mais a luz, cobrar e pregar coerência em política é ser irreal.
Será tão difícil perceber que nos apegarmos à “coerência” nesse caso da LJ é fazer exatamente o que interessa aos golpistas?
Querer e cobrar que a LJ – que criticamos antes e continuamos a criticar – aplique as mesmas ferramentas que ela e os golpistas usaram para nos destruir, nesses golpistas, não é nem absolver as excrecências da LJ e nem ter mudado de opinião.
É apenas querer que o pau que dá em Francisco também dê em Chico.
Mesmo não sendo ingênuos de achar que a LJ será tão rigorosa com os golpistas como foi e é com gente da esquerda. Afinal, ela participou do GOLPE.
O real dilema da esquerda é entre continuar se dividindo em correntes e pensamentos teóricos, bonzinhos, mais realistas do que o rei, ou começar a praticar a política como ela é de fato na vida real.

    Deusdedit

    15/02/2017 - 10h18

    Parabens, Antonio Carlos!
    Ao ler o texto do Emerson, fiquei com a impressao de estar lendo um dos “artigos” do FHC. Texto gorduroso, lento e absolutamente incoerente com a realidade que se apresenta. Um legitimo representante de nossa esquerda “organica”, tao bem representada por sua lider maxima, a sra ex-presidenta e pela nulidade que preside o Pt, o sr Rui Falcao. Com uma esquerda tola assim, vai ser dificil tirar o pais do atoleiro em que se encontra.

    Atenciosamente,
    Deusdedit R Morais

      Miguel do Rosário

      15/02/2017 - 19h03

      Emerson?

Claudio Anael

14/02/2017 - 23h48

Eu entendi onde o Miguel quis chegar.. Numa situação normal, ser conservador não é um crime…
Mas, no momento, eu creio que não há perdão possível pro PSDB e golpistas S/A.. O que eles cometeram foi crime, um crime gravíssimo, inominável, extremamente violento, covarde, destruiram uma democracia, perseguirampessoas, criminalizaram, fascistizaram o povo.. é muito grave, meu caro Miguel.

Sinceramente, espero que a esquerda comece a dizer que quando voltarmos ao poder essa gente vai pra cadeia sim.. Nãopode haver anistias.. Chega!

Roberto Lima

14/02/2017 - 23h19

Triste do país onde o Supremo se ajoelha aos interesses de um presidente golpista! O STF no Brasil tem dois pesos e duas medidas, para o Angorá: forúm privilegiado! Para o ex presidente Lula a chibata, o chicote! Minha esperança é que o ex presidente Lula é como fermento, quanto mais batem nele mais ele cresce! Aguenta firme presidente, o povo está contigo, a cada nascer do sol mais próximo está 2018. Hoje temos um triste congresso, um judiciário contrário aos interesses da nação brasileira e um executivo chefiado e dominado por um usurpador cuja maior virtude é o escárnio! Povo brasileiro, que vestiu a camisa da seleção brasileira, é virtuoso reconhecer que estava enganado! Nunca é tarde para mudar, nunca é tarde para o batuque das panelas! Que tal aproveitar o carnaval e fazer um batuque, um samba exigindo o renascer da democracia, uma limpeza geral jogando ao mar os ratos que infesta essa nau chamada Brasil?

Marcia

14/02/2017 - 23h00

Muuuiiittttooooo bommmmmm

Reni Luiza Stertz

15/02/2017 - 00h49

A análise do autor e daqueles que comentaram o texto são tão profundas que deixam na gente uma sensação de tristeza, de vazio e desesperança. …

twoprong

14/02/2017 - 22h29

excelente
assinaria embaixo se minha assinatura valesse alguma coisa

Antonio Passos

14/02/2017 - 22h27

Infelizmente e apesar do que foi informado, algumas postagens não estão mais sendo veiculadas. O Cafezinho perde assim uma característica democrática que sempre esteve presente. É muito desagradável constatar que postagens asquerosas de golpistas sempre foram acolhidas e agora as nossas são descartadas.

    Miguel do Rosário

    14/02/2017 - 23h00

    Não entendi!

Adriano Amora

14/02/2017 - 22h01

Miguel, as vezes a raiva me faz querer partir pra briga, mas a consciência me aquieta. Tem que ser muito lúcido, sensível e supremo, para admitir que a saída para essa baderna que o golpe gerou, está em um consenso político. Mais uma vez parabéns! Vc é extremamente assertivo.

pedro paulo martins carneiro

14/02/2017 - 20h24

Realmente concordo com Nietzsche:Ingredientes moralizantes de séculos que embaçam o nosso olhar são aplicados ao momento político que estamos vivendo, impedem a expressão de potência para uma exitência totalizante.Servem como um freio que acomodam um viver morno ,que passa longe da contestação política por exemplo.

Ana Esmeralda Fonseca Costa

14/02/2017 - 22h05

    Hannibal de Sousa

    15/02/2017 - 12h14

    Und haben Sie gedacht, dass Kot von einem Bewohner der tropischen Dunkelheit ein Philosoph auf Höhe erreichen würde?

Emmanuel Paiva de Andrade

14/02/2017 - 19h54

Mais uma análise que eu assinaria embaixo. Melhor dizendo, que eu gostaria de ter sido o autor. Por ela, sinto que a ansiedade e o mal-estar que me atropelam, parece ser da mesma natureza das que atropelam o autor e produzem nele esse tipo de dissecação da realidade. No entanto, apesar do crescente número de análises interessantes que tenho lido, a realidade, da mesma forma que atropela a imaginação do autor no romance que escreve, atropela a minha vontade de achar uma saída, alguma luz no fim do túnel. A realidade despedaça a minha esperança e todo sentido de racionalidade que um dia, como engenheiro, imaginei ter. O poço em que me sinto caindo, como uma Alice tardia e despreparada, parece não ter fundo, para baixo, para baixo, para baixo.
Me incomoda muito uma certa indignação, presente nas redes sociais, a qual, em face do absoluto descalabro e hipocrisia que assistimos a cada dia, fica fazendo perguntas do tipo “cadê os paneleiros”, como se alguma vez os paneleiros tivessem sido referência de alguma coisa na nossa vida, seja de ética, seja de política, seja de democracia.
Diferentemente do autor, embora a literatura, em geral, me acalme (talvez seja algum mecanismo de fuga), Nietzsche ter existido não me consola, antes pelo contrário, só revela como o mistério da iniquidade e do obscurecimento da realidade é antigo e ardiloso.
Preciso vislumbrar uma saída e às vezes caio em devaneios do tipo me perguntar quem irá escrever o “O que fazer?” do momento presente. Esse escrever não é literatura. É um escrever teórico, prático, organizativo. É uma praxis. Quando olho para os lados, enquanto continuo a descer no poço lewis-carrolliano, para baixo, para baixo, para baixo, não vislumbro nada a não ser, como Alice, estranhos objetos na parede, como mapas e quadros pendurados em cabides. Vez por outra, um texto bacana, como este que me motivou a desabafar. Tenho tempo para ler porque o poço parece não ter fundo e estou caindo já há muito tempo.
Se o poço não tem fundo, sinto que minha integridade psíquica está quase no fundo. O meu Nietzsche são algumas canções que, não sendo do tempo, me colocam em algum lugar do não-tempo, como a belíssima canção de Lourenço Baeta, interpretada pela Elis Regina, Meio Termo, que descreve “Como tenho me encontrado… Como tenho descoberto… A sombra leve da morte… Passando sempre por perto… E o sentimento mais breve… Rola no ar e descreve… A eterna cicatriz… Mais uma vez… Mais de uma vez… Quase que fui feliz”. Definitivamente, como termina a Elis, “A barra do amor… É que ele é meio ermo… A barra da morte… É que ela não tem meio termo”. A luta continua!

CarlosH

14/02/2017 - 19h32

Ou seja, a esquerda tem que ser que nem o Naruto: deixa o outro bater para extravasar a raiva e depois perdoa e fica amiguinho.?
A esquerda tá ficando uma mistura de Ursinhos Carinhosos, Naruto Uzumaki e o Darwin do Incrível Mundo de Gumball. E isso não é bom, sinceramente. Acha que todo mundo é bom, não existe maldade, que o discurso no jutsu faz as pessoas adquirirem consciência. Com isso, vai sempre ser o “campeão moral”. Triste!

    ana s.

    15/02/2017 - 12h58

    Não, Carlos. A esquerda só tem de ter princípios e agir de acordo com esses princípios. Se vamos apoiar a barbárie do judiciário justiceiro contra os inimigos, qual a diferença entre nós e os FDPs?

Luiz Octavio Vieira

14/02/2017 - 21h16

Saulo Ramos, MIn. da Justiça de Sarney, de quem Celso de Mello foi secretário na Consultoria Geral da República, relata, sobre o domicilio eleitoral de Sarney (Amapá ou Maranhão). Sim, este mesmo…o Sarney que a Lava Jato não consegue intimar há 2 meses porque não é encontrado, vejam só…

“….
— Doutor Saulo, o senhor deve ter estranhado o meu voto no caso do Presidente.

— Claro! O que deu em você?

— É que a Folha de S. Paulo, na véspera da votação, noticiou a afirmação de que o Presidente Sarney tinha os votos certos dos ministros que enumerou e citou meu nome como um deles. Quando chegou minha vez de votar, o Presidente já estava vitorioso pelo número de votos a seu favor. Não precisava mais do meu. Votei contra para desmentir a Folha de S. Paulo. Mas fique tranqüilo. Se meu voto fosse decisivo, eu teria votado a favor do Presidente.

Não acreditei no que estava ouvindo. Recusei-me a engolir e perguntei:

— Espere um pouco. Deixe-me ver se compreendi bem. Você votou contra o Sarney porque a Folha de S. Paulo noticiou que você votaria a favor?

— Sim.

— E se o Sarney já não houvesse ganhado, quando chegou sua vez de votar, você, nesse caso, votaria a favor dele?

— Exatamente. O senhor entendeu?

— Entendi. Entendi que você é um juiz de merda! Bati o telefone e nunca mais falei com ele.”

(Saulo Ramos, “Código da Vida”, Ed. Planeta, 8ª reimpressão, 2007)

    Miguel do Rosário

    15/02/2017 - 01h25

    Hum, historia importante!

André Moura Carneiro Silva

14/02/2017 - 19h08

No alvo, Miguel. Onde assino?

marcosomag

14/02/2017 - 18h27

O Golpe foi acima de tudo do Judiciário e da mídia. Foi uma cópia do que aconteceu no Paraguai e Honduras. Sérgio Moro deve combatidíssimo sim, pois é o principal quadro do Judiciário que amestrado nos EUA para que o Golpe ocorresse. O Instituto Millenium foi o outro “braço” do Golpe pois organizou a oposição, até então difusa, da direita midiática contra o governo petista. Diogo Mainardi, Alexandre Garcia e Reinaldo Azevedo já existiam em 2003. Dilma foi pessimamente assessorado pelo seu “ministro” da Justiça, que achou o fascismo que explodia nas ruas desde 2013 muito “republicano”, e deu no que deu. O Golpista e sua turma tem que ser encarcerados sim, e a esquerda deve fomentar sim, a indignação contra eles. Aí, vai sobrar apenas o Poder da mídia e militares aparvalhados que não conseguiram implantar o Regime de terror que a direita judicial tentará impor ao Brasil. É melhor para o povo a guerra aberta “tradicional” do que o Golpe pós-moderno, ao qual ele nao consegue compreender (e nem suas lideranças, como mostrou o PT durante a conspiração golpista, sempre correndo de forma desordenada atrás do prejuízo). Será a chance do povo lutar contra o que ele já conhece, e os intelectuais de esquerda já estudaram exaustivamente.


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