Reservas do pré-sal não estão contabilizadas. Valor patrimonial das ações da Petrobrás está extremamente sub-avaliado
Por Claudio Oliveira, colunista do Cafezinho
A Petrobras informou em fato relevante no último dia 25 de janeiro as suas reservas provadas de petróleo (óleo, condensado e gás natural) no final de 2016.
Segundo a empresa, historicamente, 95% das reservas provadas são certificadas seguindo critérios da Securities Exchange Commission – SEC e atualmente a empresa certificadora é a DeGolyen and MacNaughton – D&M.
Seguindo o critério SEC as reservas no final de 2016 informadas foram de 9,6 bilhões de barris, queda de 8% em relação a 2015 (10,5 bilhões).
Ocorre que estas reservas se referem apenas ao petróleo que está sendo explorado sob o regime de concessão (pós-sal e campos terrestres).
As grandes reservas do pré-sal não são contabilizadas, pois são exploradas sob o regime de partilha, onde a propriedade do petróleo é do governo brasileiro.
Mas o fato é que a empresa que trabalha no regime de partilha, tem o direito de participar do lucro gerado pela exploração. E sendo um direito, deveria estar registrado no balanço da empresa. O que não ocorre com a Petrobras.
Na Indonésia, onde na década de 1960, foram feitos os primeiros contratos de partilha, as empresas operadoras registram as reservas em seus balanços. Sei que é assim também em Angola.
Na Petrobras, onde os valores envolvidos são enormes, o fato não merece nem uma observação no balanço por parte da auditora PriceWaterhouse & Coopers –PWC. O que é um absurdo.
A ANP hoje já atesta que as reservas provadas do pre-sal superam 40 bilhões de barris. Se considerarmos um preço de barril de US$ 50,00, as reservas teriam um valor de US$ 2 trilhões (50×40).
Prevendo, por baixo, um lucro de 10% para a empresa que descobriu as reservas, nós teríamos US$ 200 bilhões, o equivalente a R$ 600 bilhões.
O Patrimônio Líquido da Petrobras registrado no balancete do 3º trimestre de 2016 era de R$ 262 bilhões, se as reservas do pré-sal fossem consideradas, este valor poderia subir para R$ 862 bilhões ( 600 + 262 ), o que elevaria substancialmente e melhor avaliaria o valor patrimonial da ação.
Isto sem considerar a questão da alavancagem (divida/patrimônio liquido) que indica para o investidor a solidez da empresa.
Mas isto é apenas o começo, pois o Instituto Nacional de Óleo e Gás – INOG, vinculado à Universidade do Rio de Janeiro – UERJ, em estudos elaborados por Cleveland Jones e Hernane Chaves, mostram que as reservas do pré-sal, com 90% de probabilidade, vão atingir 176 bilhões de barris. Isto sem considerar os 40 bilhões de barris já comprovados pela ANP.
E vejam que com a queda das reservas do pós-sal (regime de concessão) em relação a 2015 é bem possível que a direção da empresa queira registrar um novo “impairment”, como vem fazendo sistematicamente, sem nenhum sentido.
A meu ver faz-se necessária uma intervenção imediata por parte da CVM.
Cláudio da Costa Oliveira é economista aposentado da Petrobras