INACREDITÁVEL: REFINARIAS PREMIUM DO NORDESTE CONSIDERADAS INVIÁVEIS PELA PETROBRAS, AGORA, NUM PASSE DE MÁGICA, SE TORNARAM VIÁVEIS PARA ESTRANGEIROS
Por Cláudio da Costa Oliveira, colunista do Cafezinho
Moloc, o Deus dos amonitas e dos brasileiros. Aquele que devora os próprios filhos. Com certeza, deve estar acompanhando, com muito interesse, a evolução dos fatos que vou relatar a seguir.
Em 28 janeiro de 2015, na divulgação do balanço do 4º trimestre de 2014, a Petrobras anunciou a paralização das Refinarias Premium do Maranhão e do Ceará, por considerá-las economicamente inviáveis.
Com isto a empresa registrou um prejuízo de R$ 2,11 bilhões com a baixa contábil (impairment) da Refinaria do Maranhão, e de R$ 596 milhões, com a baixa da Refinaria do Ceará.
Só este fato seria motivo de indignação de qualquer pessoa com um mínimo de bom senso. A decisão de novos investimentos é antecedida por muitos estudos e passa por diversos órgãos na estrutura da empresa. Como um projeto pode ser definido como inviável somente depois de já terem sido gastos R$ 2,7 bilhões na obra? Quem são os responsáveis por este verdadeiro escândalo? Eles foram punidos?
Até hoje essas perguntas não foram respondidas. E não se fala mais nisso. Ficou no passado. Talvez o Brasil seja muito grande para se deter em pequenos detalhes (apenas R$ 2,7 bi).
Mais surpreendente ainda, foi, um ano depois, em 11 fevereiro de 2016, ler o artigo do jornalista Leonardo Goy: “O Irã tem interesse em investir na construção das refinarias Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, cujos projetos foram abandonados pela Petrobras no ano passado, após uma longa busca por investidores, disse à Reuters uma fonte do governo brasileiro que acompanha o assunto”.
De acordo com o artigo: “ O Ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, esteve reunido com a Presidente Dilma Rousseff e um grupo de Ministros, entre eles o da Fazenda, Nelson Barbosa, para discutir sobre possíveis parcerias comerciais com a Irã”.
Neste ponto a curiosidade era querer saber o que poderia motivar o governo do Irã a investir no Brasil, num projeto que já havia sido taxado de economicamente inviável?
Logo o Irã, um país distante do nosso, com o qual o Brasil tem poucas relações comerciais. Tudo muito estranho. Não podia ser verdade.
Passado mais um ano, em 22 de janeiro último , o jornalista Lucas Hadade , do jornal “O Imparcial” de São Luiz, MA, publicou artigo dizendo : “Refinaria de Bacabeira é sonho possível” (…) “A nova refinaria pelo perfil atual da negociação, é uma parceria público-privada, entre o banco indiano Exim Bank, que dará o dinheiro para a construção, o governo do Irã, que fará exploração do refino e pagará o investimento com petróleo, e o Brasil, que cederá o terreno para o empreendimento” (…) “A área utilizada será a mesma da Premium, com a terraplanagem da área já concluída e atualmente abandonada. O Governo do Maranhão, que solicitou e obteve o terreno de volta após o cancelamento da obra, já se comprometeu a cedê-lo para a nova refinaria. Uma reunião está marcada para o próximo dia 14 de fevereiro, com a presença de iranianos e indianos, no Brasil, e pode selar de vez as negociações”.
Segundo o artigo o investimento previsto é de US$ 10 bilhões. Ora, num ambiente de incerteza política como o brasileiro, este é um negócio de altíssimo risco para os iranianos e indianos. No mundo dos negócios, quanto maior for o risco, maior deve ser o prêmio.
Para os indianos o prêmio está no fato de que eles vão fornecer a engenharia e os equipamentos, gerando muitos empregos na Índia. Não vai haver fornecimento brasileiro, e eles não terão dificuldades para receber os recursos aplicados, que serão pagos em petróleo, que eles necessitam, pelo Irã.
Para os iranianos o prêmio está no fato de que o projeto prevê o consumo de 650 mil barris/dia de petróleo, que virá todo do Irã . Portanto, não haverá consumo de petróleo brasileiro nesta refinaria. Por outro lado, todo o derivado produzido vai ser vendido no Brasil, tomando mercado da Petrobras. Isto transformará o Brasil em mercado cativo para o petróleo iraniano. Evidentemente o contrato deve prever ainda pesadas multas, em caso de rescisão por parte do governo brasileiro.
Os Ayatollahs devem estar agradecendo a Allah pelo grande presente concedido ao sofrido povo iraniano.
Do lado brasileiro, o que posso imaginar, é que a premissa é de que no futuro, o Brasil não terá petróleo para suprir a refinaria, uma vez que todo o petróleo do pré-sal será entregue para petroleiras estrangeiras, e o regime de partilha revogado. Moloc, o Deus brasileiro, abençoa a transação e certamente vai querer assinar o contrato como testemunha.
Provavelmente, mesmo que tudo dê errado, no pior dos cenários, e por pressão dos sindicatos, revoltas populares e ações na justiça, parte do pré-sal ainda permaneça com os brasileiros, os súditos de Moloc devem ter um plano “B”, que pode ser seguinte: em 2025 a Petrobras compra a refinaria por US$ 20 bilhões e paga mais US$ 5 bilhões de indenizações para os iranianos. Pode deixar que o Brasil suporta tudo.
Uma última notícia. Ontem (25/01), o jornal Diário do Nordeste, de Fortaleza, CE, informava: “Em busca de trazer uma refinaria para o Ceará, o secretário de Assuntos Internacionais do Governo do Estado do Ceará, Antonio Balhmann, reuniu-se na última sexta-feira (20), na China, com o corpo técnico montado pela empresa Guangdong Zherong Energy Co.(GDZR). Na ocasião, segundo informou a assessoria do secretário, foram iniciados os trabalhos de formatação para implantação de uma refinaria no Estado do Ceará. Após a assinatura do memorando de entendimento entre o Governador Camilo Santana e a empresa chinesa em novembro, Balhmann esteve em Guangzhou, para a primeira reunião com o grupo que, designado pela empresa chinesa, irá encabeçar o esforço técnico para instalação da refinaria. “
Este projeto irá substituir a refinaria Premium abandonada pela Petrobras e vai aproveitar os estudos fundamentais já realizados, como o Estudo de Impacto Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto ao Meio Ambiente (EIA/RIMA).
A refinaria vai consumir US$ 4 bilhões na sua implantação e 300 mil barris/dia de petróleo na operação.
As duas novas refinarias do Maranhão e Ceará, estão sendo desenvolvidas na surdina, sem nenhuma divulgação pela grande mídia. Vão demandar recursos de US$ 14 bilhões nas obras, equivalentes a R$ 45 bilhões, perdidos pelas empresas nacionais, além de milhares de empregos, que poderiam ser de brasileiros, e serão transferidos para os asiáticos.
Evidentemente Moloc agradece sensibilizado. É fantástico.
Cláudio da Costa Oliveira é Economista aposentado da Petrobras.